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TI e a Sopa de Letras – As implicações deste prato indigesto

publicado por Monica Evelise de Mattos

PMP, PMI, CMM, ITIL, SCRUM, COBIT, RUM, UML, RUP, XP, BPMN, FDD, QTP… Metodologias, Certificações, Ferramentas, isto sem falar nas incontáveis siglas ligadas a conhecimentos técnicos específicos para o desenvolvimento na miríade de plataformas tecnológicas hoje existentes, muitas vezes combinadas entre sí.

A verdade, é que eu poderia ficar o artigo inteiro relacionando siglas, e possivelmente não seria capaz de colocá-las todas aqui, e com certeza vocês não seriam capazes de identificar todas, não pelo menos sem a ajuda do “Santo Google” e da “Santa Wikipedia”, então vamos nos focar naquelas ligadas a metodologias, suas ferramentas e as inevitáveis certificações. Quando isso aconteceu e porque aconteceu?

Nos primórdios da tecnologia, quando ainda se chamava Informática, haviam muito menos plataformas, ferramentas e nenhuma metodologia. As pessoas aprendiam e cresciam com seus erros e acertos, e quando se tornavam experientes, ganhavam o tão almejado sufixo de Sênior, o que acreditem, naquela época não era fácil. Não havia gerente de projeto, quem gerenciava era o Analista Sênior, pessoa calejada por inúmeros projetos e equipes de desenvolvimento. Algumas pessoas com visão de futuro chegaram a obvia conclusão que se poderia observar e documentar as melhores práticas das diversas áreas de atuação (exemplo claro é o PMI), e se padronizar a forma de apresentação das etapas através de modelos. Neste mundo nada se cria, tudo evoluiu. Não há uma metodologia que não tenho nascido inicialmente da observação de casos de sucesso. Como a ideia era boa e útil, vingou. Não demorou muito para se seguirem ferramentas específicas, e como consequencia natural as Certificações. Até aí tudo bem, tudo me parece lógico. Até que o monstro engoliu o criador, o próprio mercado de Tecnologia. Nos anos recentes, a disponibilização de vagas se resume a uma sopa infindável de letras, onde há anúncios de vagas onde são exigidas nada menos do que aproximadamente 25 siglas diferentes. O que isso nos diz?
Nos diz sobre acomodação e uma total inversão de valores, onde o aprendizado e a certificação ao invés de se tornarem o complemento natural e de aperfeiçoamento profissional se transformaram no objetivo em sí. A triagem de profissionais se dá pelas siglas citadas em seu curriculum, independente das experiências profissionais vividas, do tempo de relacionamento com os clientes e empregadores, com a bagagem profissional e a maturidade emocional adquiridas. Os novos profissionais, perdidos num mercado extremamente competitivo, dedicam todas as suas energias em obter o maior número possível de certificações e siglas para adicionar ao seu curriculum, em detrimento das escolhas que lhe acrescentariam mais enquanto profissionais, trazendo experiência e amadurecimento. Ao mesmo tempo, os “jurássicos” se encontram perdidos com um sentimento de injustiça, desatualizados e sem possibilidades de recolocação.

As consequências estão aí para quem quiser ver. Vocês conseguem realmente imaginar uma posição de “Líder de Projeto Pleno”, ou “Gerente de Projetos Junior”  sendo que para liderar qualquer coisa se pressupõe experiência sobre os liderados para detectar e corrigir desvios? Pois existe, basta ter uma sopa de letras em seu curriculum e temos um jovem profissional jogado em um ambiente hostil para o qual ainda não está emocionalmente preparado, muitas vezes “queimando” o profissional, ou as vezes até o desiludindo e levando ao abandono da área. Na outra ponta do espectro, temos os profissionais antigos que relutam por questão de orgulho em se adequar a nova realidade, e apesar do grande conhecimento adquirido, não são capazes de traduzir os seus resultados de levantamentos e definições numa linguagem que a nova geração de desenvolvedores seja capaz de traduzir e desenvolver.

Onde está o meio termo, o bom senso nesta tendência em que mergulhamos? Será possível atingir algum equilibrio? Eu acredito que sim, que o próximo passo na evolução da tecnologia será combinar a “humanidade” que implica em experiência e maturidade com as novas metodologias e ferramentas. Porque vocês acham que há reportagens a toda hora falando da carência de profissionais quando na verdade o mercado está repleto deles, ou porque algumas vagas ficam tanto tempo sem ser preenchidas ao mesmo tempo em que profissionais experientes não conseguem recolocação. Algo não fecha nesta equação. Neste ponto, podemos nos relacionar a vários outros artigos e discussões surgidos no “TI Especialistas”, como por exemplo o de Thiago Casquilha que aborda a questão dos recrutadores das consultorias de TI: http://www.tiespecialistas.com.br/2010/07/consultorias-consultores-e-seus-conhecimentos/

Se nós profissionais muitas vezes nos perdemos em meio a este universo de siglas, imaginem um recrutador. É até injusto querer que eles sejam capazes de uma seleção efetiva, então como tudo que eles tem para se basear é a “sopa de letras”, é natural que a isso elas vão recorrer durante a seleção. Todo o resto fica em segundo plano. E de quem é a culpa? Das próprias empresas que nem sempre traçam o perfil profissional de quem realmente precisam em termos de experiência, preferindo exigir uma quantidade enorme de certificações aliada a baixa experiência para reduzir seus custos, ou seja, propor salários mais baixo, como visto na discussão iniciada por Marco Fernandes:  http://www.linkedin.com/groupItem?view=&gid=960897&type=member&item=21320914&qid=8d8eb641-7e77-41c9-ad0a-167ae392be7e&goback=%2Egmp_960897 . Podemos fazer incontáveis conexões com outros artigos e discussões, pois os sentimentos de confusão dos profissionais de TI estão aí, admitidos ou não, tanto para a geração Y quanto para a geração X (muito mais bonito que jurássicos), rs.

Está na hora das empresas, gestores e profissionais abrirem os olhos para o beco sem saída para onde estão conduzindo  a Tecnologia da Informação no Brasil.

Equilibrio entre experiência e metodologias só pode ser atingido através do uso do velho “bom senso” e se traduz em resultados efetivos para as empresas, com clara redução dos custos de retrabalho. Pena que algo aparentemente tão obvio seja na verdade tão difícil de se alcançar.

Abraços desta integrante da “Geração X” tentando encontrar o dito equilibrio para sí mesma.

Autor

Profissional com mais de 25 anos de experiência atuando em Tecnologia da Informação como Analista de Sistemas Sr, Lider de Projetos, Coordenadora de equipes de desenvolvimento e Analista de Negócios e Processos, com grande vivência nos segmentos de Seguros, Vida e Previdência, além de experiência no setor financeiro em Bancos e Cartões de Crédito, com passagens também por Varejo, Industria e Turismo. Formada em Administração de Empresas com ênfase em Análise de Sistemas pela FASP. Especializada em Gestão de Qualidade e Processos pela Fundação Vanzolini. Atualizações em Gestão de Projetos pela CPLAN e Banking e Macro-economia pela Saint Paul. Certificada como Ouvidora pela FEBRABAN e ABO/SP. E-mail e MSN: mematos@yahoo.com.br Twitter: @Monica_Evelise

Monica Evelise de Mattos

Comentários

4 Comments

  • É… Tem gente que realmente pensa que quanto mais certificações melhor. Eu particularmente acho que o que conta é a qualidade e não a quantidade. Tive a “oportunidade” de me graduar depois de 13 anos de experiência na área e procurei escolher a faculdade que iria agregar mais valor. Poderia ter feito qualquer uma, mas, escolhi a que mais agregaria valor. Tinha idéia de fazer outra,mas, desisti, analisando que não traria valor agregado ao meu currículo. Preferi me dedicar a curto prazo ao Inglês ao invés de outro curso de graduação, e acho que daqui para frente será assim… As empresas procuram profissionais certificados e jovens, na maioria dos casos, se submetem a salários melhores. infelizmente. A TI é uma das áreas mais importantes da empresa, estratégica, até o momento de investir, aí , vale tudo.

  • O meu receio Alexandre, é que este caminho esteja forçando os jovens profissionais a uma maratona de cursos e certificações em detrimento de escolhas concientes sobre o valor que alguma educação vai agregar como você fez.
    Eu sou absolutamente a favor das novas tecnologias e metodologias e da educação para elas, é apenas a forma como o mercado está evoluindo e usando isso que me assusta.
    abç.

  • MUITO BOM Monica!

    Aqui, nos EUA, temos um ditado – estado e US $ 5 você vai comprar uma xícara de café em qualquer lugar … Faz-me pergunto o valor de status quando o café está livre …

    Os esforços para obter as certificações são realmente honrosa … depois de um tempo, não tenho certeza se alguns estão tentando ser um pavão ou um técnico muito talentoso.

    Mas, novamente, tenho visto muitos com um grande número de certiications – mas não conseguia pensar além de suas habilidades aprendidas. Poderia haver um dia em que os empregadores tímido daqueles que têm credenciais demais? Especialmente se cada credencial prevê um aumento da taxa de remuneração …

    Mais de matar com as competências adquiridas desvaloriza a impressão de que eles procuram … Para mim, sempre procuram alguém que possa pensar para além das competências recebidas – estão cientes de que a inovação ea tecnologia não aumenta o valor.

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