“Precisamos melhorar as nossas entregas! Precisamos entregar mais valor para o nosso cliente! Precisamos de mais qualidade no nosso desenvolvimento! Estamos com um custo de retrabalho muito alto!” Quem nunca ouviu expressões assim na empresa em que trabalha, principalmente dentro do departamento de tecnologia? Se alguém nunca ouviu, deve ser um local ímpar para se trabalhar… Tem vaga? Garanto que tenho interesse…rs
Brincadeiras à parte, a grande maioria das empresas está se preocupando (finalmente) em agregar mais valor para o cliente através de suas entregas. Parte deste movimento é resultado do grande boom conceitual das metodologias ágeis, que colocaram em xeque o modelo “cascata” de trabalho, onde todo trabalho é orçado na partida, criando-se um grande cronograma de entregas, para no final do projeto, o cliente enxergar o valor estimado… ou não!
Muitas vezes, o projeto engessa e afeta o Time to Market esperado; outras vezes, para garantir um prazo esperado ou uma data muro, o time de projeto abre mão da qualidade; desta forma, a data era cumprida, mas não agregava o valor esperado por causa da queda na qualidade.
Existem muitos pontos que podem ser explorados para indicar os motivadores dessa revolução, porém, o mais claro é: entregando mais e com mais qualidade, agregamos mais valor na linha do tempo. Simples não? Conceitualmente, é muito simples, mas existem muitos entraves que precisam ser vencidos para garantir a aplicação real deste conceito.
Um dos principais entraves é a própria metodologia em si. Trabalhar de forma ágil, dependendo da forma em que a área de TI está organizada, demanda uma grande mudança de estrutura, para que os novos papéis surjam. Trabalhar no antigo modelo matricial, onde a autonomia do time é restrita, onde existe uma hierarquia clara e processos infinitos, com alçadas de aprovação absurdas e morosidade, praticamente extingue as chances de aplicar uma metodologia ágil ao modo de trabalho. Eis a primeira dificuldade: Estrutura organizacional.
“Ah, mas basta os executivos desenharem uma nova estrutura, formalizar e está resolvido o problema”. Claro, se estamos falando de uma empresa cujos funcionários são robôs, sim, o problema está resolvido. O que nos leva à segunda dificuldade (e talvez a maior delas) neste processo de transição: Pessoas.
Ahh pessoas… o que seria de um processo se não fosse o fator humano…
O melhor processo pode ser desenhado, considerando-se todas as interpendências, entradas obrigatórias, exceções, responsáveis… tudo pode ser perfeitamente pensado; mesmo assim, o fator humano pode levar o processo à sua ruína, simplesmente porque alguém não concorda, por exemplo.
E o fator humano desencadeia uma série de dificuldades: resistência, cultura, motivação, resiliência, entre outras. Mesmo hoje em dia, com um mundo muito mais dinâmico, existe uma certa resistência à mudanças; e não se pode falar que é um absurdo esse tipo de comportamento. As pessoas têm medo de mudar, de se adequar ao novo, de trabalhar de uma nova forma, um novo jeito. Algumas dessas pessoas, tem medo de não se adaptarem; outras tem medo de ter que “trabalhar” de verdade, afinal, em um modelo com maior autonomia para o time, pessoas “encostadas” tendem a aparecer negativamente em indicadores e relatórios.
Vencido o fator “medo da mudança”, existe toda uma trilha de capacitação que deverá ser feita. Todos os colaboradores da área precisam ser treinados no novo processo, conhecer os novos papéis, as novas responsabilidades, ferramentas e processos secundários, tudo isso sem derrubar os pratinhos que já estavam girando, afinal, não é culpa do cliente que a TI está mudança sua estrutura organizacional e seus processos. Ou será? Vale a reflexão para se tangibilizar os motivadores para uma revolução estrutural.
A conclusão que chego é: não importa se a empresa é de pequeno, médio ou grande porte, se os processos estão estruturados, se o cliente comprou a ideia da mudança e está apoiando, se já existe um plano de capacitação massiva dos impactados, etc. Toda mudança de processo gera problemas e não será diferente com a implantação da metodologia ágil nas áreas de tecnologia. O ganho na aplicação é visível, porém, os executivos e idealizadores desta mudança tem que estar cientes que haverá barulho, haverá rejeição e que é possível que muitos não gostem da ideia de mudar. O importante é conscientizar os ganhos e, gradativamente, estabilizar a nova metodologia na área. Esta é uma ação bem delicada, mas, com pessoas motivadas e instruídas, com certeza, a migração será concluída com sucesso.