Desde que as metodologias ágeis para desenvolvimento de sistemas tomaram conta da tecnologia da informação, vejo que empresas desse segmento vêm buscando cada vez mais adotarem seus princípios e práticas no seu processo de confecção de software. Mas vejo que existe uma parcela considerável de empresas que ainda adotam esse discurso apenas para venderem uma imagem inovadora para o mercado, mas por baixo dos panos continuam trabalhando no velho estilo go horse.
Mesmo sendo um defensor da metodologia ágil e acreditar que esse processo realmente melhora a qualidade dos sistemas entregues e, consequentemente, a satisfação do cliente, admitir uma ideia para o mercado que não é condizente com as ações mostradas me parece um tiro no próprio pé.
Certa vez, por exemplo, ao prospectar parceiros para desenvolvimento de um projeto, a empresa onde eu trabalhava deparou-se com um fornecedor que parecia fazer um trabalho sério no estilo que estávamos procurando. A utilização de metodologias ágeis estava clara desde o princípio do processo. Logo no início dos trabalhos, porém, notou-se claramente que o terceiro não tinha conhecimento sobre algumas técnicas básicas, como pontuação e priorização de user stories. Escopo flexível, no entender do fornecedor, tornou-se escopo desnecessário. Além disso, a resistência em sair da zona de conforto dos contratados também atrapalhou qualquer possibilidade de continuidade no trabalho, pois, além de não possuírem o know-how necessário, fecharam-se em seu universo “perfeito”, irredutíveis em aceitar qualquer colocação do empregador. Resultado: o contrato teve que ser cancelado e a tal empresa foi banida de qualquer triagem para projetos futuros.
Mas como recuperar todo esse tempo e custo perdidos?
Simples: não recuperamos. A empresa na maioria das vezes terá que arcar com o prejuízo de uma contratação equivocada e iniciar o projeto do zero novamente. Eventualmente ainda é possível recuperar o timing de lançamento do produto, não causando maiores problemas, principalmente quando não estamos vinculados a algum fator externo (como um evento com data marcada, por exemplo). Caso contrário, teremos uma situação, na melhor das hipóteses, trágica.
A incapacidade de algumas prestadoras de serviço de aceitarem que não são especialistas em determinada técnica, em alguns casos, leva-nos a situações como a descrita anteriormente. Manter uma posição muitas vezes arrogante perante o mercado acaba por destruir uma reputação que leva-se muito tempo para construir. Aquela imagem de empresa moderna, que está sempre atualizada com as últimas tecnologias e processos, é muito bonita no papel, mas consegue sustentar-se no momento de colocar em prática todos aqueles pontos que foram assinados?
Empresas que não estão dispostas a trabalhar junto de seus clientes e/ou fornecedores, creio, estão fadadas à vida curta. Aquele velho método de desenvolvimento onde, meses depois, a partir de uma especificação inicial, magicamente é devolvido um produto está perdendo espaço para um modelo mais dinâmico, onde todos estão dispostos a aprender, trocar figurinhas e evoluir em conjunto. Cada empresa constrói seus próprios processos, sabe como eles funcionam diariamente e buscam adotá-los em seus projetos, mas, acredito, não podemos nos fechar dentro de uma caixa incapazes de ao menos considerar outras possibilidades.
Saindo da esfera empresarial, podemos fazer uma reflexão interna. Todos os conhecimentos que afirmamos possuir são realmente verdadeiros ou só estão em nosso currículo para impressionar em uma possível seleção pessoal? Cedo ou tarde virá a cobrança e, caso não estejamos preparados, excelentes oportunidades podem ser perdidas, o que pode ser fatal nesse mercado altamente competitivo que vivemos atualmente.
Ninguém é responsável pelo sucesso ou fracasso de nossa carreira profissional senão nós mesmos.
De que lado você prefere estar?
[Crédito da Imagem: Metodologia Ágil – ShutterStock]