Redes & Telecom

A Era da Fog Computing e as redes de computação das crypto moedas
jun 9, 2017 Ξ 1 comment

A Era da Fog Computing e as redes de computação das crypto moedas

posted by Leandro França de Mello

Figura - A Era da Fog Computing e as redes de computação das crypto moedasNesta semana, a Business Insider informou que quase US$ 6 trilhões serão gastos em soluções IoT no decorrer dos próximos cinco anos e, em 2020, 34 bilhões de dispositivos serão conectados à Internet, dos quais 24 bilhões serão dispositivos IoT. Com uma crescente demanda por soluções IoT nas empresas, a necessidade de dados a serem processados rapidamente, substancialmente e no local é essencial. É aqui que entra a “Fog Computing”.

Cloud Computing, é definido como um grupo de computadores e servidores conectados entre si pela Internet para formar uma rede. Hoje, como muitas empresas e grandes organizações estão começando a adotar a Internet das Coisas, a necessidade de grandes quantidades de dados a serem acessados com maior rapidez e localmente é sempre crescente. Este é o lugar onde o conceito de “Fog Computing” é lançado.

Fog Computing, ou “fogging”, é uma infra-estrutura distribuída na qual certos processos, serviços ou aplicações são gerenciados na borda da rede(a chamada Edge Computing) por um dispositivo inteligente, mas outros ainda são gerenciados na nuvem. É, essencialmente, uma camada intermediária entre a nuvem e o hardware para permitir um processamento, análise e armazenamento de dados mais eficientes, o que é conseguido reduzindo a quantidade de dados que precisam ser transportados para a nuvem.

Um exemplo na Internet das Coisas pode ser um sistema de iluminação inteligente que opera com base no movimento. Quando há movimento detectado, esses dados precisam ser processados para aferir o resultado de que as luzes estejam ligadas, e vice-versa, quando nenhum movimento foi detectado por um período de tempo, é preciso tomar uma decisão para que as luzes sejam ativadas ou não. Estes dados e decisões resultantes são melhores processados na borda. A empresa que executa o sistema de iluminação inteligente também pode querer rastrear a eficiência energética e quanto tempo as luzes estavam ligadas. Os dados que fornecem esta “imagem maior” de como a iluminação inteligente está sendo utilizada exigiriam que dados sejam agrupados e processados por um sistema de relatórios executado na nuvem.

Ken Hosac, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Cradlepoint, define o conceito de Fog Computing como uma “extensão da computação em nuvem ao extremo da Rede”. Ele afirma que, para fazer isso, Fog Computing é:

  • Adicionando processos e recursos de memória aos dispositivos Edge
  • Pré-processamento de dados coletados no Edge
  • Enviando resultados agregados para a nuvem

À medida que as empresas que adotam as soluções IoT veem os benefícios adicionais de tecnologias 4G confiáveis e expandem seu uso disso, tornou-se claro que os sistemas atuais de computação em nuvem não serão necessariamente capazes de lidar com toda a carga de dados – e é aí que a computação em nevoeiro entra em jogo.

De acordo com a Markets and Markets, estima-se que o mercado Cloud High Performance Computing (HPC) cresça para US$ 10,83 bilhões em 2020, ante US$ 4,37 bilhões em 2015. Ao mesmo tempo, ao longo dos próximos cinco anos, prevê-se que quase US$ 6 trilhões serão gastos em soluções IoT (de acordo com o Business Insider), é claro que, com esses números, o investimento em computação em névoa continuará a ser um tema ativo entre investidores e empresas.

Sobre o poder de fogo de uma rede computacional descentralizada

Para se ter uma noção do poder de fogo de uma Fog Network basta observar seu poder computacional frente ao poder de processamento dos supercomputadores existentes em atividade no mundo. Há uma crescente de demanda por poder computacional e poucos supercomputadores disponíveis tanto nos centros de pesquisa, quanto cotas de processamento nestes locais. Peguemos o exemplo da Genentech e da empresa Cycle Computing que criou vários clusters utilizando o Amazon Elastic Compute Cloud, que se estende a vários milhares de núcleos. A Genentech, precisava de todo o poder de 10.000 núcleos, para realizar um estudo e processamento sequencial de moléculas de proteínas. Os cientistas liderados por Jacob Corn, precisariam de vários meses para simular interações em suas instalações, em vez de 8 horas com a ajuda de serviços na nuvem da Amazon.

Cycle Computing montou um cluster em nuvem colossal com o seguinte tamanho: 10.000 núcleos = 1.250 processadores com oito núcleos cada, 8,75 TB d(Terabytes)e RAM e um sistema de 2 PB(Pentabytes). Portanto, os engenheiros demoraram apenas 45 minutos para cumprir os requisitos do cliente. O cluster “existiu” por 8 horas e custou ao cliente US$ 8500, uma bagatela diante da possibilidade deles comprarem um supercomputador(algo em torno de US$50 milhões um Cray mais barato) ou alugar cotas em algum centro de pesquisa ou meses se fossem utilizar a rede Boinc da World Community Grid, por exemplo.

A Cycle Computing acredita que o cluster criado por eles poderia ocupar o lugar 114º no ranking dos supercomputadores mais poderosos do mundo, com uma performance de cerca de 66 teraflops. Os dados são um pouco desatualizados, mas, no entanto, pode-se imaginar o volume da capacidade da AWS e enquanto o poder dos supercomputadores TOP10 no mundo é ~ 0.2 exaflops, a potência total de todos os supercomputadores TOP500 pode ser designada como 0,5 exaflops. O poder da rede bitcoin é de aproximadamente 51.000 exaflops. Mas mesmo diante de colossal poder computacional da rede bitcoin, a verdade é que você precisa entender que os dispositivos ASIC para mineração não pode se igualar em universalidade, por exemplo, com supercomputadores na plataforma x86. Esses mineiros só podem contar bitcoins e nada mais, são inúteis para a ciência. Porém, eles queimam muita eletricidade em escala global.

“Embora os cálculos de números inteiros usando o algoritmo SHA256 sejam difíceis de comparar com operações de ponto flutuante”, disse Ackermann, nos testes padrão do LINPACK, Rpeak e Rmax, cada um de nossos sistemas superou os supercomputadores mais rápidos do mundo. Cada um deles contém mais de 6 milhões de núcleos, que é duas vezes maior que o de Tianhe-2, o primeiro supercomputador na lista PetaFLOP, mas custa menos, ocupa menos espaço e consome 20 vezes menos energia. Nossos supercomputadores com um modelo quase-oportunista de programação paralela em massa de tarefas levam a mineração a um novo nível – o nível de exahashes.” – Cycle Computing

Sobre o poder na mineração em placas de vídeo que compõe o hardware padrão das redes descentralizadas de mineração de crypto moedas, podemos afirmar com confiança sobre uma maior versatilidade e a capacidade de executar tarefas, especialmente porque as fazendas de mineração construídas em placas de vídeo possuem CPUs padrão com um conjunto completo de algoritmos, uma quantidade suficiente de RAM e um disco rígido. É mais sobre o uso de fazendas para mineração construídas em GPU. O crescimento da capacidade é muito rápido, a complexidade da maior rede Ethereum é 24 terahash e cerca de 35 terahash nas demais redes das diversas altcoins. Levando em consideração as fórmulas aproximadas para transferir capacidades de hashes para flops que são usadas para a rede bitcoin (de acordo com bitcoinwatch.com 1hash = 12.697FLOPs, é importante ressaltar a diferença qualitativa do poder de computação) e os parâmetros estatísticos médios de uso em GPU (6 Tflops = 30mh / s). Assim, 24 terahash envolvidos na rede ethereum possuem capacidade completa de computar qualquer tipo de cálculo e demanda computacional. Em futuro próximo, haverá uma liberação dessas capacidades durante a transição de Ethereum para PoS(Proof of Stake).

Projetos open source e baseados nos conceitos de blockchain e da computação descentralizada e distribuída vem surgindo e podemos citar dois que podem impactar violentamente o mercado de Fog Computing: Golem Project e SONM(Supercomputer Organized by Network Mining). Ambos operam com o conceito de computação descentralizada e distribuída utilizando o poder computacional das redes crypto,essencialmente da Ethereum. A diferença de ambos é que a Golem opera com o paradigma de criar sua própria rede, enquanto a SONM utilizando o conceito universalista da IoE(Internet of Everything). Esta última com um poder computacional colossal. O cluster AWS que realizou a missão de pesquisa Genentech para moléculas de proteína teve um poder de 66 teraflops = 0.000066 exaflops. Por sua vez, isto é de 1 a 120.000 dos possíveis recursos da SONM (aproximadamente 8 exaflops / 0.000066 teraflops = 120.000).

Estamos inclinados a afirmar que os 8 exaflops de poder que são utilizados na mineração dos Altcoins usando placas de vídeo pelos cálculos mais modestos, supera o poder de todos os supercomputadores do mundo e tem uma aplicabilidade verdadeiramente universal na computação. Sejam bem-vindos a Era da Fog Computing.

Mercado

O ouro, as moedas, o bitcoin e o futuro das operações financeiras
abr 13, 2017 Ξ Leave a comment

O ouro, as moedas, o bitcoin e o futuro das operações financeiras

posted by Leandro França de Mello

Figura - BitcoinNo início de março, algo fundamentalmente disruptivo no mercado de cryptomoedas aconteceu e acendeu os botões de alertas em algumas mesas de operação ao redor do mundo: o valor de mercado do Bitcoin se equiparou ao marketcap do ouro.

O bitcoin já vem em uma ascendência de preço nos últimos 3 anos, num rally que vem se mantendo e mostrando o potencial de crescimento da “moeda”(?!). Deixo a palavra moeda em evidência por diversos motivos: o bitcoin ainda não serve como meio de troca, pouquíssimos estabelecimentos no mundo o aceitam. Ok, há pouco tempo a Gafisa, fez um lançamento no qual dizia que aceitaria bitcoin como forma de pagamento. Não sabemos até hoje se alguém apareceu e comprou um apartamento com bitcoins.

O valor de bitcoin ultrapassou US$1.000 no mês passado, a primeira vez que atingiu tais alturas desde o final de 2013. Mas não se engane: esta tecnologia estranha e controversa não está mais perto de se tornar uma moeda corrente só por causa da sua excessiva valorização. Mesmo Olaf Carlson-Wee, o primeiro funcionário da Coinbase, a empresa de bitcoin mais importante dos EUA e que comprou seu primeiro bitcoin em 2011, quando valia US$ 2. Escreveu sua tese de graduação sobre a tecnologia no mesmo ano. Contudo, mesmo com todo esse entusiasmo sobre o bitcoin, Wee não acredita que um dia a cryptomoeda irá substituir o dólar ou qualquer outra moeda fiat.

“Trata-se de um grande erro achar que o bitcoin possa vir um dia substituir as moedas fiat”, diz Carlson-Wee.

Este sentimento aparentemente pessimista é o que você ouve mais e mais frequentemente, não só de pessoas à margem da comunidade bitcoin, mas aqueles que estão no centro dela. O Bitcoin não é algo que a pessoa média jamais usará para comprar e vender coisas, dizem eles, particularmente nos EUA e em outros países ocidentais. O mundo simplesmente não precisa de uma moeda digital dedicada. Já é muito fácil pagar coisas com dólares, graças a cartões de débito, via internet ou por vários outros serviços pelo smartphone. Mesmo que houvesse a necessidade, muitos obstáculos legais, regulatórios e culturais estão no caminho de bitcoin para a adoção pelo mainstream. Contudo, o bitcoin pode ser útil principalmente como ouro digital – como um investimento. A especulação em torno da moeda digital é típico de quem opera com o mercado do metal precioso e é por isso que o valor da bitcoin está em ascensão: o preço está subindo porque as pessoas pensam que o preço vai continuar subindo – particularmente as pessoas na China, que agora dominam a paisagem bitcoin.

Bitcoin é também uma maneira útil de mover dinheiro através das fronteiras internacionais, e que provavelmente será sua principal aplicação nos próximos anos. Mas para Carlson-Wee, bitcoin é mais valioso como algo completamente diferente – não como uma moeda nova, não como um novo ouro, não como uma nova Western Union, nem mesmo como um novo mercado de ações, mas como algo que permitirá que fenômenos financeiros que nunca existiram antes possam ser possíveis, o que Carlson-Wee chama de “finanças programáticas”. Por meio da ideia de uma cadeia de blocos – o famoso blockchain -, Carlson-Wee acredita que o blockchain irá impulsionar as empresas que, essencialmente, possuem e operam em mercados que possa haver espaço para inovação. Mesmo os mercados mais burocráticos como bancos e cartórios. Eis aí um papel mais importante do que qualquer moeda.

Ele acredita tão fortemente nesse fenômeno disruptivo, que no verão passado ele deixou a Coinbase para iniciar a Polychain Capital, um novo tipo de hedge fund destinado a apoiar esta nova safra de negócios. Com o aporte de US$ 10 milhões em capital de risco de empresas como Andreessen Horowitz e Union Square Ventures, a Polychain investe apenas em bitcoin e outros “tokens” digitais que habitam um blockchain, o ledger(livro registro) online distribuído que torna o bitcoin e qualquer outra cryptomoeda possível. Isso pode parecer que a Polychain simplesmente só investe em cryptomoedas, mas a ideia é mais ambiciosa do que isso. Graças ao Ethereum e outras alternativas à rede bitcoin, esses tokens são cada vez mais comuns na Internet, e eles são destinados a funcionar como versões digitais de qualquer coisa que tenha valor – não apenas dinheiro. Ethereum, por exemplo, executa “contratos inteligentes” – softwares que potencialmente podem basear negócios inteiros.

Carlson-Wee se recusa a discutir os investimentos específicos da empresa. Mas um exemplo do tipo de investimento que ele tem em seu radar é Projeto Golem, um esforço para criar uma nova encarnação da world wide web que é completamente descentralizada. Agora, a web pode ser distribuída através de muitos servidores, mas ainda é executado por autoridades centrais como ICANN, e ainda tem pontos centrais de falha. O Golem está criando um sistema alternativo completamente distribuído. Nenhuma pessoa, empresa ou governo possui. Nenhum indivíduo ou grupo pode decidir como funciona ou quando encerrá-lo. Ele opera de acordo com a vontade de muitos.

Há também Filecoin, um serviço de armazenamento de dados tipo a Amazon-cloud que opera sem a Amazon ou qualquer outra autoridade central. E talvez o mais famoso, pelo menos nos círculos das cryptomoedas, a Organização Autônoma Descentralizada, mais conhecida como a DAO. Também construído sobre o blockchain Ethereum, o DAO operado como um novo tipo de fundo de capital de risco, não controlado por ninguém, mas por milhares de pessoas espalhadas por todo a internet. É um exemplo chave de como as coisas podem dar errado nesse mercado também, pois mostra a fraqueza dos contratos inteligentes: foi hackeado no ano passado em US$ 50 milhões. O tipo de empresas blockchain que o interesse Carlson-Wee ainda estão muito longe de maturidade e nunca serão completamente seguras contra ataques on-line, Carslon-Wee admite.

Mas ele também acredita que há maneiras mais seguras de construir sistemas como o DAO. Eles devem ser construídos de forma modular, diz ele, de forma muito parecida com qualquer software seguro. E acredita que, em última análise, as operações descentralizadas como o Golem ou o DAO serão a norma. Um dia, diz ele, o mundo usará um Facebook descentralizado, não o próprio Facebook, um Uber descentralizado, um Etsy descentralizado, e assim por diante em todos os setores da economia. “Vamos ver setores inteiros explorados por contratos de software que viveram sob o blockchain”, diz ele. Carlson-Wee não é a primeira pessoa a propor tal futuro, e ele reconhece que esse fenômeno chegar a todos, ainda há um longo caminho pela frente. Mas seu fundo está apostando que o fará.

Se Polychain compra os tokens digitais que sustentam o Projeto Golem, é literalmente comprar um pedaço da operação. E esta é a única maneira de comprar na operação. O Projeto Golem não é realmente uma empresa. O projeto não tem ações, apenas tokens que rodam em um blockchain. Quando a Polychain compra esses tokens, não é um investimento de Venture Capital. E não é realmente uma compra de ações. É uma terceira coisa que ainda não tem nome. – “Não há companhia. Não há estoques “, diz Richard Craib, CEO de outro fundo de hedge baseado em criptoempresas, a Numerai, que também investiu na Polychain.

Estes novos conceitos financeiros radicais oferecem o melhor contexto para pensar sobre bitcoin. Não é algo que vai melhorar ou dar ao mundo um novo tipo de dinheiro ou ações. É algo que dará ao mundo coisas/negócios que ainda nem existem.

Mercado

4 passos que podem direcionar a aplicação do Blockchain
fev 3, 2017 Ξ Leave a comment

4 passos que podem direcionar a aplicação do Blockchain

posted by Cezar Taurion

Figura - 4 passos que podem direcionar a aplicação do BlockchainAntes só havia Bitcoin…uma moeda virtual, libertária, que prometia acabar com o atual sistema financeiro. Começou meio escondido, circulando apenas no meio nerd (a primeira compra de Bitcoin conhecida ocorreu em 2010, quando o hacker Laszlo Hanyecz comprou duas pizzas no Papa John’s com 10.000 Bitcoins), até que por volta de 2015 os bancos o descobriram. Mas, ao estudar o Bitcoin, viu-se que havia algo muito maior por trás dele, a tecnologia blockchain. Os bancos, que antes olhavam Bitcoin com desconfiança viram uma oportunidade de redução de custos, uma vez que a tecnologia permite transações financeiras sem intermediários para validá-las. Um dos usos propostos do blockchain pelos bancos é a compensação e liquidação de transações de valores mobiliários, que é atualmente uma complexa rede de corretores, bancos de custódia, agentes transferidores de ações, reguladores e depositários. Uma única transferência pode demandar uma dúzia de transações intermediárias e levar até três dias. Cerca de 20% delas geram erros, que devem ser corrigidos manualmente. Com blockchain, duas partes que querem transacionar podem ler e gravar em um banco de dados comum, confiável e sem erros. A transação pode ser escrita em linguagem jurídica, bem como em código de computador (smart contract), de modo que a troca de dados em si embute a sua própria garantia. Poderá ser visível apenas para os reguladores, mas não para outras instituições. Aliás, este é o conceito por trás do Corda, um protocolo blockchain desenvolvido pelo consórcio R3 CEV. Se propõe a eliminar erros bilaterais e se pretende que seja mais barato do que modernizar os atuais sistemas legados.

Alguns bancos centrais como o da China e da Inglaterra veem blockchain como um mecanismo não apenas para simplificar e reduzir os custos das operações financeiras, mas também reduzir fraudes e rastrear transações.

Mas, isso não é tudo. O Fórum Econômico Mundial em um estudo, “The future of financial infrastructure: An ambitious look at how blockchain can reshape financial services” aponta que, indiscutivelmente, blockchain já está nos corações e mentes do sistema financeiro. O estudo mostra alguns números instigantes, como que pelo menos 80% dos bancos mundiais devem iniciar algum projeto de experimentação de blockchain em 2017 e mais de 90 bancos centrais já estão envolvidos em debates sobre a tecnologia e seus impactos. A importância do estudo é que ele não fica restrito aos limites dos processos tradicionais dos bancos, tentando aplicar blockchain a eles, visando apenas simplificar as operações, mas adota uma visão bottom-up, ou seja, questiona a ortodoxia do sistema atual e reimagina como poderia ser o sistema financeiro baseado em blockchain.

Claro que ainda existe um longo caminho a percorrer. Temos ainda um conjunto de tecnologias que precisa amadurecer, dificuldades dos bancos em integrar blockchain a muitos dos atuais sistemas legados, a falta de capacitação nas suas equipes, a carência de formação na academia e a falta de uma regulação que entenda e absorva o poder disruptivo do blockchain.

Imaginemos a Internet em 1997. Alguém, naquela época a imaginaria como hoje, com tecnologias como o smartphone permitindo que ela estivesse no nosso bolso e fizéssemos praticamente tudo, de uma transação financeira a um checkin de voo, de buscar melhor trajeto a localizar qualquer informação que esteja disponível em qualquer lugar do mundo?

Blockchain não será, é claro, a única solução para os bancos. Muita coisa continuará fora dele. Mas, os bancos depois do blockchain serão diferentes.

Vamos olhar o cenário atual. Os sistemas core dos bancos, os legados, são sistemas robustos, construídos para serem confiáveis e, portanto, muito reativos às inovações. Um sistema legado é um campo árido e inóspito para inovações. Existem processos e mais processos em torno deles, criando uma camada segura, mas indiscutivelmente muito complexa e custosa, além, é claro, de pouco amigável para os clientes. Muitas das iniciativas de banco digital dos bancos atuais são restritos à periferia, mantendo toda a complexidade atual por trás do app que o usuário tem no seu smartphone. Mas, se blockchain mudar o processo? Se permitir de forma segura uma transação financeira sem envolver tantos intermediários e camadas de segurança? Os processos core podem ser simplificados e até substituídos por novos. Isso seria uma verdadeira mudança no perfil e estrutura organizacional dos atuais bancos. Permitiria serem muito mais leves, sem o imenso e caro back-office necessário para manterem suas operações atuais.

Uma mudança radical nesses processos embute um potencial de transformação muito grande. Por exemplo, os bancos utilizam mainframes para garantir um ambiente seguro e de alto volume de transações. Fundamental no atual modelo. Mas, se sairmos do modelo centralizado para descentralizado, onde o processamento das transações ocorreria em milhares de máquinas distribuídas, o papel do mainframe atual perderá relevância. Aliás, uma implementação do blockchain, Ethereum, pode ser considerado o “novo mainframe”.

Além dos bancos, blockchain pode afetar muitos outros negócios. Por exemplo, a leitura do artigo “Wal-Mart Tackles Food Safety With Trial of Blockchain” mostra que até o varejo pode aplicar essa tecnologia. No caso do Wal-Mart a proposta é a necessidade de rastrear alimentos. O objetivo é que a embalagem de cada produto contenha um código único, registrado no blockchain, com informações sobre fornecedores e detalhes sobre sua produção. Esse código ficará registrado na nota física e, caso o consumidor tenha algum problema ocasionado por aquele produto, o Wal-Mart vai conseguir rapidamente identificar tudo sobre ele.

Com este potencial de aplicabilidade, é recomendado que os executivos das organizações, sejam de finanças ou de outros setores, comecem realmente a pensar mais seriamente em blockchain. Questione:

  • Que aspectos da minha organização será vulnerável a desintermediação e qual a probabilidade de isso acontecer? Lembre-se que a tecnologia é potencialmente disruptiva para todos os intermediários. A probabilidade de disrupção é proporcional ao custo, à complexidade e ao grau de duplicação das transações no atual sistema de intermediação.
  • Como reimaginar meu negócio à luz do potencial de mudanças provocadas pela desintermediação e como e quando iniciar a mudança, antes que alguém a faça antes?
  • Onde poderei aplicar blockchain como vantagem competitiva e com ele oferecer novos serviços e até novos modelos de negócio?
  • Faz sentido desenvolver iniciativas de blockchain sozinho ou será necessário o desenvolvimento colaborativo, em larga escala? Com quem deverei colaborar e como criar esses mecanismos de colaboração?

Algumas premissas devem definir as estratégias de aplicação de blockchain pelas organizações. Primeiro, blockchain é muito mais sobre colaboração que competição. Implementar blockchain sozinho dificilmente será compensador. Setores fragmentados, com desconfianças mútuas e custos altos de transação entre si são, alvos preferenciais de aplicação de blockchain. Um exemplo: o setor de healthcare. Por outro lado, quanto maior a extensão de um blockchain e quanto mais heterogêneos forem os seus participantes, mais complexo será o desafio de definir uma estratégia comum. Em blockchains “consorciados”, o gerenciamento do consórcio entre membros, que atualmente competem entre si, será um fator crítico.

Segundo e uma questão ainda em aberto é se o futuro será dos blockchains abertos ou dos consorciados. Mais ou menos como a discussão sobre clouds públicas e privadas. Blockchain abertos tem a vantagem da escala (mais nós, mais validação), mas os “permissioned” dispensam determinadas funcionalidades como “proof-of-work” e, portanto, tem escalabilidade melhor.

Uma terceira premissa é o papel do governo, como agente regulador. Não temos ainda posições claramente definidas em nenhum governo do mundo. Alguns são mais abertos e ágeis, enquanto outros são mais lentos e conservadores. Entretanto, como blockchain facilita auditoria e reduz fraudes e corrupção, é provável que haja uma tendência da maioria dos governos em entender e inserir a tecnologia em seu aparato regulatório.

E, por último, a incerteza ainda predomina. Existem muitas experimentações, muitos indicadores da aplicabilidade de blockchain, mas ainda não temos casos de uso concretos, em larga escala. Existem diversas implementações de blockchain, todas cercadas de dúvidas em relação ao seu futuro. Portanto, na sua estratégia não se esqueça de perguntar “Quem paga pelo blockchain?”. Sua implementação é suportada por um ecossistema estável e apto para aplicações de missão crítica? Compreender claramente os incentivos e os fatores econômicos por trás de cada opção de blockchain pode poupar muitos problemas futuros, de escolhas erradas.

Cada empresa deve definir sua estratégia. Não existe uma resposta única. Mas, ignorar o assunto blockchain é a única estratégia que não dará certo! Em abril desse ano, nós da Kick Ventures estaremos co-realizando com o Instituto Information Management o Blockchain Executive Meeting, evento executivo para discutir esse assunto. O tema, pela sua importância e potencial de disrupção, deve estar na agenda executiva dos C-level das empresas.

Cloud Computing

Blockchain e IoT uma combinação perfeita
nov 23, 2016 Ξ Leave a comment

Blockchain e IoT uma combinação perfeita

posted by Leandro França de Mello

Figura - Blockchain e IoT uma combinação perfeitaA Internet das Coisas (IoT) é uma indústria em rápido crescimento destinada a transformar casas, cidades, fazendas, fábricas e praticamente tudo o mais, tornando-os inteligentes e mais eficientes. De acordo com o Gartner, até 2020, haverá mais de 20 bilhões de coisas conectadas em todo o mundo, alimentando um mercado que valerá pelo menos US$ 3 trilhões.

Mas o crescimento caótico do IoT introduzirá vários desafios, incluindo identificar, conectar, proteger e gerenciar tantos dispositivos. Será muito desafiador para a infra-estrutura atual e arquitetura subjacente à Internet e serviços on-line apoiar enorme ecossistemas IoT no futuro.

Isto é algo que talvez possa ser resolvido através de blockchain, a tecnologia de inventário distribuído, como um livro razão por trás de criptomoedas como Bitcoin e Ethereum, que está provando o seu valor em muitas outras indústrias, incluindo IoT.

O Blockchain permitirá que os ecossistemas de IoT rompam com o tradicional paradigma de rede baseado em conectores, onde os dispositivos dependam de um servidor central na nuvem para identificar e autenticar dispositivos individuais.

O modelo de segurança do blockchain

Enquanto o modelo centralizado funcionou perfeitamente nas últimas décadas, ele se tornará problemático quando o número de nós de rede crescer em milhões, gerando bilhões de transações, porque aumentará exponencialmente os requisitos computacionais – e, por extensão, os custos.

Os servidores também podem tornar-se um gargalo e um único ponto de falha, o que tornará as redes IoT vulneráveis a ataques de Negação de Serviço (DoS / DDoS), onde os servidores são direcionados e reduzidos ao serem inundados com tráfego de dispositivos comprometidos.

Isso pode impactar criticamente os ecossistemas IoT, especialmente quando eles assumem tarefas mais sensíveis.

Além disso, as redes centralizadas serão difíceis de estabelecer em muitos setores industriais, como grandes fazendas, onde os nós IoT se expandirão em áreas imensas com escassas redes de conectividade.

O Blockchain permitirá a criação de malhas de redes mais seguras, nas quais os dispositivos IoT se interconectam de forma confiável, evitando ameaças como a falsificação de dispositivos e a personificação.

Com cada nó legítimo sendo registrado na cadeia de bloqueio, os dispositivos serão facilmente capazes de identificar e autenticar uns aos outros sem a necessidade de servidores centrais ou autoridades de certificação, onde a rede será escalável para suportar bilhões de dispositivos sem a necessidade de recursos adicionais.

Várias empresas já estão colocando blockchain para alimentar redes IoT. Um exemplo é o Filament, uma startup que fornece hardware e software IoT para aplicações industriais, como agricultura, manufatura e indústrias de petróleo e gás.

Os sensores sem fio da Filament, denominados Taps, criam redes autônomas de baixa potência que permitem às empresas gerenciar operações físicas de mineração ou fluxos de água em campos agrícolas sem depender de alternativas de nuvem centralizadas. A identificação e a intercomunicação do dispositivo é assegurada por uma cadeia de blocos como dos bitcoin que mantém a identidade única de cada nó participante na rede.

A gigante australiana de telecomunicações Telstra é outra empresa que alavanca a tecnologia do blockchain para proteger os ecossistemas inteligentes da IoT doméstica. Os hashes criptográficos do firmware do dispositivo são armazenados em uma cadeia de blocos privados para minimizar o tempo de verificação e obter a resistência à violação e a detecção de violação em tempo real.

Como a maioria dos dispositivos domésticos inteligentes são controlados por meio de aplicativos para dispositivos móveis, a Telstra expande ainda mais o modelo e adiciona informações biométricas do usuário aos hashes do blockchain a fim de vincular a identidade do usuário e evitar que dispositivos móveis comprometidos assumam a rede. Desta forma, o blockchain será capaz de verificar tanto a identidade de dispositivos IoT, quanto a identidade das pessoas interagindo com esses dispositivos.

O futuro da IoT

Embora ainda em seus primeiros estágios de desenvolvimento, IoT é composto principalmente de tecnologias que permitem a coleta de dados, monitoramento remoto e controle de dispositivos. À medida que avançarmos, o IoT irá se tornar uma rede de dispositivos autônomos que podem interagir uns com os outros e com seu ambiente e tomar decisões inteligentes sem intervenção humana.

Este é o lugar onde o blockchain pode brilhar e formar a base que suportará uma economia compartilhada baseada em comunicações da máquina-à-máquina (M2M).

Já estamos vendo iniciativas emergentes neste campo, incluindo o ADEPT (Automated Decentralized P2P Telemetry), um sistema IoT descentralizado criado pela IBM e pela Samsung, que permite que bilhões de dispositivos transmitam transações entre pares e realizem auto-manutenção.

A plataforma foi testada em vários cenários, incluindo um que envolve uma máquina de lavar inteligente que pode automaticamente comprar e pagar por detergente com bitcoins ou ether quando se esgota e será capaz de negociar os melhores preços dos produtos de limpeza baseado nas preferências do seu dono.

Como a espinha dorsal de todas essas interações, blockchain cria uma plataforma segura e democratizada que é independente e nivela o campo para todas as partes envolvidas, certificando-se de que todos jogam justo e nenhuma entidade única está no controle.

Blockchain também permitirá a monetização de dados, onde os proprietários de dispositivos IoT e sensores podem compartilhar os dados gerados IoT em troca de micropagamentos em tempo real. O Tilepay, por exemplo, oferece um mercado on-line seguro e descentralizado onde os usuários podem registrar seus dispositivos na cadeia de blocos e vender seus dados em tempo real em troca de moeda digital.

Blockchain e IoT também têm casos de uso interessantes que podem ajudar a tornar as fontes de energia renováveis em mainstream, onde a energia produzida por painéis solares IoT gera valor em criptomoedas que serão registrados no blockchain. Qualquer pessoa que ingressar na rede pode fazer investimentos em tecnologia de energia renovável. Organizações como Nasdaq e Chain of Things, um think tank que conduz pesquisas sobre aplicações alternativas para blockchain e IoT, estão explorando esse campo.

O Blockchain, portanto, apresenta muitas promissoras oportunidades para o futuro da IoT. Os desafios, no entanto permanecem, como modelos de consenso e os custos computacionais de verificação de transações. Mas ainda estamos nos estágios iniciais do desenvolvimento de cadeias de blocos, e esses obstáculos serão eventualmente superados, abrindo o caminho para muitas possibilidades emocionantes.

Tecnologia

O blockchain no setor financeiro
nov 21, 2016 Ξ Leave a comment

O blockchain no setor financeiro

posted by Cezar Taurion

Figura - O blockchain no setor financeiroVivemos um período único, com mudanças acontecendo em uma velocidade, amplitude e impacto nunca antes vivenciada na história. A velocidade dos avanços atuais não tem precedentes e está interferindo quase todas as indústrias de todos os países. Este fenômeno, denominado de quarta revolução industrial foi a estrela do debate no último Fórum Mundial de Davos, em janeiro passado. O chairman do Fórum, Klaus Schwab, afirmou “Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes”. Não há dúvidas de que a disrupção de negócios considerados robustos e o impacto econômico resultante serão dolorosos, bastante confusos e perturbadores no curto prazo.

Essa disrupção vai afetar todos os setores e nesse meio, indiscutivelmente, estarão os bancos. O mercado bancário brasileiro, foi criador de várias inovações, como o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e do cartão com chip. Mas, com o ritmo das inovações tecnológicas surgindo em velocidades e amplitudes cada vez maiores, estão começando a dar sinais que não as conseguem acompanhar. Um exemplo é blockchain. Os bancos estão diante de um grande desafio, pois blockchain não é apenas uma tecnologia que complementa as operações dos bancos, como a mobilidade, mas, tem potencial de afetar o seu tradicional modelo de negócios estabelecido e consolidado por décadas. Pelo que estudo e observo aqui e lá fora, eles ainda estão na posição de “abrir um pouquinho a porta”, mas sem maiores engajamentos com blockchain. É compreensível, por várias razões, desde indefinições regulatórias, insegurança quanto a viabilidade da tecnologia (ainda em estágio relativamente primitiva) e, claro, dificuldade de fazer auto-disrupções. Uma frase de Clayton Christensen, autor de The “Innovator´s Dilemma” é emblemática:” The worst place to develop a new business model is from within your existing business model”.

A questão é que já começamos a ver sinais de startups de blockchain tentando “chutar o pau da barraca”. Muito do que vemos de inovação de blockchain em serviços financeiros, e isso em uma visão global, tem vindo de startups. Embora os bancos já tenham começado a olhar de perto as startups, e mesmo criando aceleradoras, vemos que muitos bancos embora estejam em um estágio avançado no planejamento de sua estratégia de digital banking, ainda tem muito que fazer quando se trata realmente da sua implementação. Às vezes me parece que olham as startups como olham animais em zoológicos, com muita curiosidade, mas que não sabem se querem ou se podem domesticá-los e leva-los para dentro de casa. Na realidade, grandes corporações, como os bancos, tem muita dificuldade de fazer disrupções, principalmente quando elas vem de fora e em ritmo que ultrapassam a sua capacidade de absorvê-las.

A reação inicial dos bancos, no mundo todo, foi de começar a estudar o potencial de blockchain, gerar uma lista de eventuais casos de uso e começar experimentações tímidas. Entretanto, o ritmo vem se acelerando, e curiosamente, o impulso não tem vindo das startups do Silicon Valley, mas de Wall Street, sustentáculo do sistema financeiro. Esse artigo publicado pela Fortune, “What Wall Street’s Obsession With Blockchain Means for the Future of Banking” mostra claramente esse cenário. Blockchain tem potencial de reduzir significativamente os custos do sistema financeiro, e pela teoria econômica clássica, um competidor de baixo custo ganha enquanto os concorrentes forem de custo mais elevado. Portanto, é instigante a questão que o artigo coloca no seu parágrafo final, “e o que acontecerá, no futuro, quando todos os bancos estiverem usando blockchain?”. Bem a resposta, pelo artigo é perturbadora para os executivos dos bancos: “When everyone is using blockchain, the resultant saving will stop flowing in as corporate profit. Market competition will force all banks to pass on the hard-won saving back to consumers. Banking fees are set to plunge”!

Portanto, os bancos no mundo todo começaram a acelerar suas iniciativas de blockchain, pois quanto mais cedo obtiverem experiência, melhorarem seus custos e criarem novos e inovadores produtos, mais se distanciarão da competição. E a competição aos bancos e as empresas do sistema financeiro, tem vindo de fora do setor, com as startups FinTechs. Elas obtiveram, até fins de 2015, mais de 19 bilhões de dólares em investimentos. Curioso que as FinTechs não começaram por atacar diretamente os bancos, mas seus pontos de entrada foram territórios adjacentes, pouco explorados e até mesmo negligenciados. Mas, pouco a pouco começaram a avançar em território dominado pelas empresas tradicionais do setor financeiro. Algumas já começando a incomodar o sistema tradicional, como aqui no Brasil, com o exemplo do Nubank, que se popularizou rapidamente por criar um novo relacionamento com os clientes de cartão de crédito através de plataforma inteiramente digital, dispensando presença física e papéis. Rapidamente se tornou uma referência para os concorrentes.

Blockchain também tem potencial de provocar disrupções e em sua última previsão de futuro, o Gartner afirmou que em 2022, haverá uma empresa de serviços Blockchain que deverá faturar US$ 10 bilhões. Uma das plataformas de blockchain, Ethereum, já tem um valor de mercado de 1 bilhão de dólares e isso em menos de um ano de vida. Provavelmente veremos também o mesmo processo acontecendo, com as startups de blockchain começando a beliscar pela periferia, sem ameaçar diretamente o “core business” dos bancos. Muitas desaparecerão, outras serão adquiridas e incorporadas aos bancos e outras, talvez sejam ameaças, principalmente as que vierem com disrupções através de soluções inovadoras, que os bancos terão grande dificuldade de replicarem rapidamente. Mesmo o desafio da regulação não será barreira para inovação. Uma frase de Simon Taylor, head do grupo de inovação em blockchain do Barclays, disse “I do not disagree the best use cases will be outside regulated financial services. Much like the best users of cloud and big data are not the incumbent blue chip organizations. Still their curiosity is valuable for funding and driving forward the entire space”.

Bancos que não se reinventarem não vão acabar, mas correrão o risco de serem apenas o backend das operações financeiras, sem relevância em termos de marca para os clientes. Sem serem o centro de atenção da “carteira” do cliente, perdem importância e dificilmente conseguirão gerar ações de cross-selling ou up-selling.

Sim, insisto, blockchain não vai extinguir com os bancos, mas os forçará a se reinventarem. As estruturas corporativas centralizadas terão que ser repensadas, principalmente em tempos de rápidas transformações. O ambiente de negócios será continuamente volátil, incerto, ambíguo e complexo. Não teremos mais ondas de mudanças, seguidas de períodos de estabilidade. A única certeza que temos é que a mudança será contínua. Vale a pena ler o artigo “How the Blockchain Could Change Corporate Structure”.

Portanto, blockchain não deve ser visto apenas como um meio de reduzirem seus custos operacionais, mas de possibilitar a reinvenção do próprio banco. Em 1994, Bill Gates, fundador da Microsoft, disse “Banking is essential, Banks are not“. Em 2015, voltou ao assunto e recomendo uma leitura no artigo “3 Reasons Why Banks Need to Read The Gates Letter 2015”.

Nos próximos anos veremos ações decisivas de uso de blockchain no setor financeiro, mas blockchain só será vantagem competitiva para os bancos atuais, se for visto dessa forma, não como mero band-aid de redução de custos operacionais. Bancos não querem mudar bancos. Startups querem mudar bancos. E blockchain podem provocar essa mudança. Essa é uma decisão estratégica para os bancos. Para ajudar nessa decisão, recomendo ver a apresentação “Blockchain 2015: Strategic Analysis in Financial Services” de William Mougayar, investidor e autor do livro “The Business Blockchain: Promise, Practice, and Application of the Next Internet Technology.

Tecnologia

Blockchain: O caminho para uma moeda virtual
set 2, 2016 Ξ Leave a comment

Blockchain: O caminho para uma moeda virtual

posted by Cezar Taurion

A evolução do BlockchainDepois que publiquei dois artigos sobre blockchain, aqui e aqui, descobri que existe muita curiosidade latente por parte de executivos de diversas empresas, e não apenas de bancos. Venho participando de várias reuniões com eles, ajudando a visualizar um cenário mais realista do que é e qual o potencial de blockchain e os impactos nos seus negócios. Me chama atenção que, embora aqui no Brasil, apenas um círculo restrito de executivos está discutindo mais a fundo o tema, no exterior o avanço tem sido significativo. Até 2013, ainda predominava o conceito que blockchain era sinônimo de Bitcoin e o espírito criptoanarquista predominava. Mas agora em 2016 vemos grandes empresas de tecnologia investindo pesado, como a IBM e Microsoft, essa com um anúncio bem interessante de “Blockchain as a service”. Além disso, os bancos estão cada vez mais ativos, seja através de parcerias no consórcio R3 ou desenvolvendo seus próprios protótipos. Vemos também governos, como o do Reino Unido estudando mais a fundo a questão. O relatório “Distributed Ledger Technology: beyond block chain” do “UK Government Chief Scientific Adviser” e iniciativas como a governo americano, mostra quão importante já é o tema para muitos países.

Destas reuniões ficou claro que ainda existe muita desinformação e receios. Nada a estranhar. Se fizermos uma analogia com a Internet vemos que a web começou em 1991, a primeira transação comercial pela web aconteceu em 1994 e em 1999, embora a maioria das empresas listadas na Fortune 500 já possuísse um web site, eles eram basicamente brochuras digitais. Este estudo, “Differences in public web sites: the current state of large US Firms” publicado no ano 2000, sobre o status dos web sites dessas empresas mostra isso claramente. Vale a pena dar uma lida e ver como, há apenas 16 anos atrás, ninguém imaginava que a web seria o que é hoje. Atualmente, comprar passagens e produtos pela web é corriqueiro. Não conseguimos mais imaginar um mundo sem a web! Mas, voltemos ao presente. Daqui a dez anos, ninguém acreditará que hoje tínhamos tantas dúvidas sobre blockchain como temos…ele será também tão corriqueiro quanto usar um banco de dados relacional ou um Waze.

O mesmo fenômeno de ceticismo e relutância que víamos em 1998/1999 sobre o potencial da web transformar o comércio e as transações financeiras, se repete quando debatemos blockchain com os executivos.

É claro que blockchain ainda está na sua infância e será necessário muito trabalho e energia para amadurecê-lo, mas nada que não possa ser resolvido. Vamos discutir alguns dos problemas levantados nas reuniões. Primeiro, os desafios tecnológicos. Ainda estamos na fase de criação de ecossistemas, com muitas iniciativas desconexas surgindo aqui e ali e ainda não temos aplicações realmente maduras, funcionando a pleno vapor. É fato. Vai levar algum tempo para as primeiras aplicações saírem do campo das experimentações para se firmarem no mercado. Novamente, voltando no tempo, as primeiras experiências web eram uma emulação das aplicações cliente-servidor que todo conheciam. Depois, com a amadurecimento dos conceitos e surgimento de tecnologias como JVM (Java Virtual Machine) é que se desenvolveram aplicações realmente inovadoras. E com os apps, avançou-se muito mais. No blockchain já vemos alguma evolução nessa direção, como o Ethereum, que tem uma funcionalidade parecida com JVM. Com este recurso, pode-se desenvolver aplicações blockchain (chamadas de dapps, distributed apps) sem os desenvolvedores se preocuparem com detalhes da arquitetura de tecnologia em que o blockchain vai operar. Existem muitos dapps (dia 5/8/2016 contei 271) interessantes que podem servir de inspiração. Vale a pena visitar o site “State of the Dapps”. É perfeitamente factível pensar que blockchain vai evoluir mais rapidamente que a web.

Um segundo questionamento e esse bastante preocupante é que temos escassez de desenvolvedores que conheçam blockchain. Aliás, o círculo de pessoas que aqui no Brasil estão atuando em blockchain ainda é bem reduzido. Um estudo feito nos EUA estimou que em meados deste ano haviam cerca de 5.000 desenvolvedores dedicados a escrever software para blockchain e criptomoedas, como Bitcoin. Estimava-se que uns 20.000 tinham conhecimentos básicos para criar interfaces de outros sistemas para as aplicações blockchain número pequeno, quando comparamos, por exemplo, com a comunidade mundial de desenvolvedores Java, estimada em 9 milhões. Aliás, olhando todas as linguagens, um estudo de 2014, do IDC, estimou em 18 milhões o número de desenvolvedores de software no mundo inteiro. Aqui no Brasil o número de desenvolvedores blockchain é muito reduzido e eu, pelo menos, não conheço nenhuma universidade preparando seus alunos para este mundo.

Outro desafio é a falta de ferramentas e middleware maduras. Todas estão em fase embrionária e, novamente, voltando o relógio do tempo, me lembra os tempos pioneiros do desenvolvimento para a web, quando quase tudo tinha que ser desenvolvida a mão. Mas, evoluímos e chegamos hoje a um nível de abstração tal, que você desenvolve aplicações simplesmente arrastando “objetos” de um lugar para outro. Por que isso não acontecerá com blockchain?

Outro questionamento: onde usar blockchain? Estamos na fase exploratória e já começamos a ver iniciativas pioneiras de incentivo a geração de ideias para uso de blockchain, como a do Bank of England, com competições para startups de blockchain. O site que citei acima, State of the Dapps é um exemplo de inspiração de novas ideias. No ano 2000 alguém imaginava negócios como Netflix, Waze, Facebook, Spotify, Uber, Airbnb e outros que já são corriqueiros hoje? Pois é, as “killer applications” ainda vão surgir. Uma preocupação que tenho e que observei nas reuniões, é que a imensa maioria dos executivos e CIOs ainda não se ligaram em blockchain. Aqui recomendo estudar o assunto e se preparar para implementar blockchain no momento certo. Com a provável evolução exponencial do blockchain, o verdadeiro risco é ignorar seu impacto e não se planejar. Sem conhecimento do que é blockchain dificilmente alguém terá ideia do seu potencial e. claro, do risco para seu negócio, caso outra empresa descubra isso mais rápido que a sua…

E, claro, as questões regulatórias. Tudo que é novo gera suspeição de início: cloud computing e segurança, Big Data e privacidade, social media e receio de perda de tempo, e assim por diante. Com blockchain um desafio é como os atores reguladores agirão. Podem simplesmente não fazerem nada e deixar que o mercado evolua por si. Ou podem ser proativos e tentarem evoluir as regulações para incorporarem as inovações provocadas pelo blockchain e as ondas de transformação que provocarão. Por exemplo, como os tabeliões reagirão quando os cartórios se tornarem desnecessários? Qual será seu nível de pressão sobre os atores reguladores? E os bancos, como reagirão, caso seu maior patrimônio, a confiança dos clientes, se tornar muito menos relevante?

Hoje, e isso no mundo todo, ainda temos muita incerteza e cada país age em ritmos diferentes. A Estônia está bem à frente com seu projeto e-citizen. Vale a pena ler o artigo “E-Citizenship Can Benefit From Blockchain Technology”. Outros países estão bem atrás. No Brasil, estamos atrasados. Aliás, em muitas outras evoluções que estão sendo a base da quarta revolução industrial, como analítica avançada, machine learning, robótica e outros, estamos uma década atrás. Claro, temos aqui e ali, pontos de excelência, mas que não sustentam a evolução tecnológica do país. Precisamos corrigir isso e rápido!

De maneira geral, novas tecnologias e conceitos, como blockchain, causam mais rupturas no longo prazo do que parece à primeira vista. Isso torna a tarefa de descobrir se o que está acontecendo é hype, tendência ou um tsunami que está chegando, mais difícil. Por outro lado, nada fazer é um risco imenso. Minha sugestão: estude blockchain e avalie seu impacto e risco para o seu negócio atual. Não o subestime!

Tecnologia

O futuro de Vanuatu e o Bitcoin 2.0
set 9, 2015 Ξ Leave a comment

O futuro de Vanuatu e o Bitcoin 2.0

posted by Alex Barbirato

Figura - O futuro de Vanuatu e o Bitcoin 2.0O último dia 30 de julho caiu numa quinta-feira e, provavelmente, passou despercebido para quase todo mundo. No Brasil, as manchetes dos jornais falavam na elevação da taxa de juro e nos habituais desdobramentos da Operação Lava-Jato.

Para dois grupos de pessoas, no entanto, a data foi memorável: os 266.937 habitantes de Vanuatu, um arquipélago no Pacífico Sul, comemoraram 35 anos de independência da França e Inglaterra. Já uma comunidade bem menor, mas espalhada pelo mundo, celebrou o esperado lançamento da plataforma Ethereum e sua moeda, o Ether.

E daí? Você pode me perguntar. O que eu tenho a ver com algumas ilhotas no meio do oceano e mais uma criptomoeda? Já não bastam os Bitcoins, Litecoins e Ripples? Quem se interessa por mais uma?

Na realidade, muita gente. Empresas de tecnologia do calibre da IBM e bancos como UBS e Barclays estão testando e desenvolvendo produtos baseados na plataforma concebida por Vitalik Buterin, em 2013, quando tinha apenas 19 anos. O Ethereum promete ser uma revolução tecnológica sem precedentes, atingindo áreas até então desconectadas como a Web 3.0, sistemas de pagamento, contratos digitais, certificação digital, propriedade intelectual, investimento em ações e crowdfunding, entre outras.

O que está por trás desta revolução? Alguns dos mesmos elementos que proporcionaram a existência do Bitcoin: criptografia e comunicação pessoa-a-pessoa, descentralizada, porém, otimizados.

Uma transação Bitcoin, pode levar quase meia hora para ser confirmada com segurança, enquanto enviar Ethers de uma pessoa para outra demora apenas alguns minutos (dois, na minha última tentativa). Mineração de bitcoins também deixou de ser um jogo justo há muito tempo. O Ethereum promete ser equalitário, empoderando os pequenos mineradores e proibindo a utilização de “chips” dedicados. Dessa forma, cria-se uma rede ainda mais resiliente a fraudes, censura e manipulação por um ator governamental ou privado.

A grande inovação da plataforma, entretanto, é o conceito de “smart contracts”, ou contratos inteligentes. Estes “contratos” são pedaços de código público, registrados no “livro” que armazena todas as transações, denominado blockchain.

Imagine que eu quero fazer um “bolão” com dez amigos, baseado no resultado de uma partida de futebol. Cada um dos meus amigos vai apostar R$10 e o prêmio será dividido igualmente entre os que acertarem os possíveis resultados: vitória do time A, empate ou vitória do time B.

Como fazer isso hoje em dia? Precisamos escolher um de nós para ser a “banca”. Cada participante entrega o dinheiro e escolhe o resultado. A banca guarda os R$ 110 e anota os palpites de cada um. Após a partida, quando o resultado for conhecido, o bolão é rateado entre os amigos que optaram corretamente. Caso ninguém acerte, os R$ 10 devem ser devolvidos a cada pessoa.

Isso é um “smart contract”! A Ethereum me permite criar um programa muito simples, com menos de 20 linhas, que implementa esta lógica e, dessa forma, eu e meus amigos não precisamos confiar em uma “banca”.

No dia da aposta, cada um transfere R$10 de sua carteira digital, e escolhe sua opção, pode ser através de um aplicativo ou página Web. Após a partida, o próprio programa consulta o resultado e paga os vencedores ou retorna o dinheiro para os apostadores. Como o contrato é público, todos podem auditar e ver se ele está correto. Além disso, é impossível fraudar ou modificar o contrato, uma vez aprovado. Os computadores que participam da rede Ethereum rodam o código, de forma distribuída, e são recompensados em Ethers pelo trabalho, como se fosse uma “comissão”.

As implicações desta funcionalidade são tão grandes que o Ethereum está sendo comparado à Skynet, rede de computadores ficcional que domina o mundo no filme “O Exterminador do Futuro”. Exageros à parte, os smart contracts podem sim colocar em xeque as atuais Bolsas de Valores, possibilitar um verdadeiro crowdfunding, inclusive com distribuição de quotas de empresas, e criar novos mecanismos de remuneração para conteúdo na Web 3.0.

O arquipélago de Vanuatu é um dos candidatos a desaparecer da face da terra, por conta do aquecimento global. No dia em que isso acontecer, provavelmente, os habitantes das ilhas já terão sido transferidos para outros lugares e o Dia da Independência poderá até ser esquecido.

Muito antes disso acontecer, no entanto, é provável que o dia 30 de julho de 2015 entre para a história da humanidade e junte-se a outras datas memoráveis como 29 de outubro de 1969, 11 de abril de 1976 e 6 de agosto de 1991. Estes também foram dias comuns para quase todo mundo, menos para quem estava diretamente envolvido no envio do primeiro email, na venda do primeiro computador Apple ou no lançamento da World Wide Web.

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