No texto “Em busca da inteligência humana”, de Luís Alfredo Vidal de Carvalho, publicado no livro DATAMINING, o autor apresenta uma breve visão da evolução histórica e filosófica das teorias da mente humana, apresentando as várias metáforas utilizadas ao longo dos séculos para explicar o complexo fenômeno mental.
Inicialmente o autor fala sobre metáforas utilizadas na tentativa de explicar o fenômeno mental, e como desta forma, o homem desenvolveu ao longo da história diversas teorias, que estabeleceram de alguma maneira, conexões com fatos físicos observáveis.
Após a introdução sobre metáforas, o autor volta aos remotos tempos da Índia Antiga (aproximadamente 10.000 A.C.) para começar a falar sobre a teoria da mente mais antiga que se tem conhecimento e que foi estabelecida pelos hindus através da sua tradição oral chamado Mahabharata. Porém, cita o autor, que é no livro intitulado Bhagavad Gita que se encontra e se apresenta um estudo profundo da filosofia, teologia e religião. Neste livro, a mente não é apresentada como o cerne da personalidade humana, mas sim como um instrumento que é regido por algo maior. Para finalizar a filosofia hinduísta, o autor resume a mente hindu como sendo um elemento dominado pela vontade do “Eu real” até que suas flutuações (ou seja, os pensamentos, sonhos e emoções) cessem completamente e a Consciência Universal possa resplandecer, realizando o ser individual.
Em seguida o autor disserta sobre a teoria da mente que foi aceita pelo Egito (aproximadamente 2300 A.C.) e compara com a teoria da mente abordada na Índia Antiga, chegando a conclusão de que a abordagem Egípcia é mais pobre filosoficamente, porém obteve muito sucesso ao influenciar variados povos, como os hebreus e os gregos. Segundo o autor, a teoria da mente egípcia se resumia no fato de que a mente era uma entidade invisível e imortal que teria seu julgamento após a morte do corpo pelos seus atos durante a vida.
Dando continuidade a dissertação do texto, o autor chega às origens do judaísmo (aproximadamente 1500 A.C.). De acordo com o autor, as teorias hebraicas eram muito pobres se comparadas com as hinduístas e mesmo as egípcias; segundo essa tradição, o coração seria o centro da razão e os rins seriam responsáveis pelos sentimentos.
Na Grécia antiga, o autor afirma que, cada pensador possuía a sua teoria da mente com pequenas diferenças em relação aos filósofos de sua escola. E faz uma comparação entre alguns filósofos tais como Empédocles, Platão, Aristóteles, Herófilo e por fim cita Galeno como o responsável pela definição dos humores da personalidade humana.
Já no cristianismo, o autor informa que a mente continua sendo imortal e cita as palavras de Jesus: “Antes que Abraão existisse, Eu Sou“. Desta forma demonstrando a eternidade da personalidade humana de forma indelével. Segundo o autor, Jesus ao dizer que existia antes do nascimento de Abraão, colocou-se como maior que o pai da nação judaica e ainda insinuou através do “Eu Sou” (Iavéh) ser ele o próprio criador. A teoria da mente do mundo ocidental, através de toda idade média, foi a doutrina adotada oficialmente pelo catolicismo.
Já no renascimento, autor inicia sua dissertação com René Descartes e suas teorias de como duvidar de todas as supostas verdades estabelecidas para atingir o dito conhecimento perfeito. O autor escreve que René Descartes, através de seu método, dividiu a mente da matéria através da sua famosa frase: “Matéria é substância que tem extensão espacial, mas não pensa; Mente é substância que pensa, mas não possui extensão material“. Para finalizar o Renascimento, o autor aponta que a personalidade humana seria, semelhante ao dito por Galeno e Patanjali, o resultado da combinação de alguns elementos passionais básicos: amor, ódio, imaginação, desejo, alegria e tristeza.
Entrando no século XVIII, o autor demonstra que o dualismo de Descartes fora logo rebatido por Spinoza, que afirmou que a mente e a matéria são aspectos distintos de uma única substância. O escritor David Hume (seguindo a mesma linha das ideias de Thomas Hobbes e John Locke) foi o criador das bases das teorias associacionistas da mente: segundo ele “o curso do pensamento é determinado por semelhança, contiguidade no espaço ou tempo e causa e efeito“. Ainda no século XVIII, o autor indica que David Hartley sugeriu que os nervos, sendo um conjunto de filamentos sólidos, transmitiriam vibrações entre áreas do cérebro.
Já no século XIX é apresentado no texto, que o anatomista alemão F. Gall localizou, pela primeira vez na história, regiões do cérebro responsáveis por atividades mentais. O autor apresenta no texto que no século XIX surgiu o desenvolvimento de técnicas de microscopia e da metalurgia, permitindo a construção de materiais metálicos para servirem de eletrodos. O autor informa que mais de um século foi necessário para que a doutrina da célula fosse extrapolada para a doutrina do neurônio. Nesta mesma época, Sigmund Freud, passou a dedicar-se a formulação de uma teoria sistêmica da mente da qual, construtos mentais abstratos, representando faculdades mentais, interagiam entre si segundo regras pré-estabelecidas pela natureza humana. Segundo o autor, o livro “Interpretação dos Sonhos”, publicado em 1900, foi um grande marco da humanidade no que tange o estabelecimento de uma metodologia funcional para a clínica médica dos pacientes com algumas formas de sofrimento denominadas de neuroses.
Falando sobre o início do nosso século, o autor levanta questões sobre as influencias positivistas que levaram as teorias da mente para o caminho da formalização e mensuração. Menciona no texto a influência que Ivan Pavlov teve ao investigar a mente através das respostas glandulares ou motoras medidas e observadas em consequência de estímulos sensoriais qualificados. Segundo o autor, o “Comportamentalismo” que se aflorou de tais teorias, se prestou, na maioria dos casos, a manipulação da mente humana, através do marketing, técnicas de domínio público e “Engenharia Social”.
Seguindo um pouco adiante, após a segunda grande guerra, o autor apresenta os matemáticos McCulloch e Pitts como sendo os primeiros a modelar matematicamente um neurônio e obter através da conexão destes mecanismos, algum comportamento primitivo representante de funções mentais. O autor cita Donald Hebb e suas pesquisa na área de plasticidade neuronal, pois suas ideias representam com relativa exatidão os fenômenos de crescimento das conexões entre neurônios. O autor cita também, Norbert Wiener e seus estudos sobre o processamento da informação nos seres vivos, surgindo daí o termo cibernética que originou a hoje chamada Engenharia Biomédica.
Nos anos 60, segundo informações citadas pelo autor, Rosenblatt, Minsky e Papert desenvolveram teorias sobre o processamento da informação por elementos computacionais simplificados semelhantes aos neurônios do cérebro. Mostraram que redes compostas desses elementos poderiam aprender a classificar e reconhecer padrões visuais, desta forma fixando as bases do que conhecemos hoje como RNA – Reder Neurais Artificiais. Sobre esta ótica, todos os processos mentais poderiam ser simulados em uma máquina que pudesse efetuar processamentos de símbolos. A inteligência (neste âmbito) seria um processo de busca por soluções de problemas, no qual as heurísticas (na forma de conselhos ou experiências) teria o papel fundamental de guiar a máquina por caminhos mais eficientes. O maior problema com que os pesquisadores se deparam, segundo o autor, é o fato de que, os seres humanos sabem executar tarefas complexas sem saber como as executam.
O autor relata no texto, que com o advento da computação paralela e distribuída no inicio dos anos 80, surgem grandes oposições à mente simbolista, sequencial e centralizada. As novas teorias da mente passam a se basear na neurofisiologia e a busca por explicações dos processos mentais se intensificam. O físico e biólogo Hopfield mostrou que partindo-se de elementos computacionais bem simplificados, pode-se gerar o comportamento semelhante a memória dos seres vivos superiores. Segundo o autor o segredo está nas conexões entre os neurônios e não somente na capacidade computacional de cada um. A inteligência estaria nas conexões entre os elementos computacionais, daí o nome conexionista.
Para finalizar o seu texto, o autor apresenta questões peculiares da mente humana. Ocorre com a mente fato singular que além de realizar tarefas, ela é capaz de vivenciá-las, experimentá-las, estar consciente da realização das mesmas e aproveita-las. Mesmo que tenhamos um mecanismo sofisticados capaz de realizar as funções mentais, este não será mais do que um autômato que trabalha sem perceber o que faz. Segundo o autor, a subjetividade do fenômeno consciente não nos permite relacioná-lo a fatos físicos mensuráveis, desta forma gerando uma dificuldade adicional. E finaliza com uma observação de que talvez a consciência seja um principio fundamental assim com as leis da física, o espaço e o tempo.
Espero que o texto acima tenha ajudado ao leitor a compreender um pouco sobre o processo que levou ao surgimento da Inteligência Artificial que temos nos dias atuais.