Carreira

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A psicologia de um mundo analógico

publicado por Marcelo Henrique Almeida

A Psicologia de um Mundo Analógico

Quando eu era mais novo no século passado, existia uma sensação no ar de que cedo ou tarde as máquinas tomariam os empregos das pessoas.

Os grandes fabricantes de carro começavam a instalar maquinários modernos que poderiam exercer a mesma função de dez funcionários ao mesmo tempo com inúmeras vantagens.

Em uma época que sistemas econômicos eram motivos de guerra, a substituição de pessoas por máquinas virou o símbolo de tudo aquilo que estava errado no mundo.

Com a queda da década e do muro, as malvadas máquinas se tornaram computadores, e os críticos presos no passado, vivem agora no futuro e não se importam em usar o e-mail ao invés de mandar uma carta pelos correios. E o emprego do carteiro? Bem, aquilo que antes era capitalismo selvagem virou modernidade. Pegar fila no banco? Nem pensar! Vou usar o caixa eletrônico.

O fato é que as máquinas ou computadores exercem a sua função melhor do que você. Eles foram desenhados exatamente para isso e todas as “falhas” humanas eliminadas.

Nos dias atuais, a revolução industrial é mais uma página virada dos livros de história e infelizmente aquela fila de pessoas apertando parafusos não é mais suficiente. Quem guia o mundo no século XXI não são aqueles que fazem, mas aqueles que pensam.

Parece difícil acreditar, mas convido você a elaborar uma lista com dez nomes das pessoas mais bem sucedidas ano passado. Quantas delas realizavam trabalhos manuais?

Então a solução é a educação? Sim. Mas só ela não basta. Os computadores de hoje em dia podem fazer cálculos mais rápido que você e não erram. Quer um exemplo recente? Na semana passada um robô escreveu e publicou um artigo automaticamente para um portal de notícias.

Então como nós seres analógicos sujeitos a todo tipo de interferência podemos continuar relevantes em um mundo cada vez mais digital e restrito? Simples. Usando aquilo que nenhum computador possui: a criatividade.

Cada linha de software escrita é feita com um objetivo. Ela não sai nunca do rumo e deve abordar tudo com perfeição. Se uma letra estiver fora, não só perde sua eficácia como atrapalha a eficiência.

Os computadores tem várias qualidades, mas não tem a liberdade de pensamento. Mesmo projetando a evolução da inteligência artificial, é difícil conceber um computador que tenha paixão por criar, pelo menos não em um futuro próximo.

Alguns podem argumentar que não podemos precisar quanto as máquinas poderão se desenvolver e que já temos modelos autodidatas (como no vídeo abaixo de um experimento realizado por uma empresa que desenvolve novas tecnologias para serem utilizadas em jogos interativos que mostra um robô aprendendo a andar sozinho sem ter sido programado para isso) e não precisam de motivação para executar as tarefas, pois obedecem aquilo que está em seu código, mas esquecem de um detalhe importante.


A paixão que guia as nossas ações, fruto exclusivo da nossa imperfeição, não pode ser reproduzido por algo que possui a verdade absoluta dentro de si.

Estamos em um momento da história que prova a cada dia que os gênios não são feitos de conhecimentos arquivados, e sim pela paixão por aquilo que fazem. Muitos dizem que Kasparov é um gênio, mas nunca escutamos isso de Deep Blue que o venceu em uma partida de xadrez.

Se assim é, porque motivamos as pessoas usando métodos do século passado como punição e recompensa? Porque dizemos que elas devem chegar e sair em horários determinados?

Você mede o desempenho da sua empresa e funcionários pelo número de produtos que eles conseguem produzir em um dia ou pelo valor que eles agregam à sua marca? Você quer robôs trabalhando para você ou pessoas capazes de evoluir sem que uma atualização de firmware seja necessária? Usar métodos ultrapassados é como colocar um guarda na porta do passado para garantir que sua empresa nunca saia de lá.

Lembra da lista das pessoas mais bem sucedidas do ano passado? Quantas delas trabalhavam pra cumprir horário e terminar logo sua obrigação e poder descansar por considerarem trabalho e lazer coisas distintas? E quantas delas fizeram por vontade própria, sem preceitos pré estabelecidos e nunca trabalharam um dia de suas vidas?

Nesse momento torna-se claro que a distinção entre o trabalho intelectual e trabalho manual é meramente uma cortina de fumaça que esconde o fato que pensadores têm mais destaque do que executores porque gostam mais do papel que exercem, provavelmente por não serem tratados como uma extensão mecânica em uma linha de montagem.

Os computadores nunca serão criativos porque não sentem nada em relação ao que fazem, simplesmente seguem ordens baseando-se na exatidão das coisas. O progresso é fruto da imperfeição, da instabilidade. Não existe razão para a evolução dentro do equilíbrio perfeito. A escolha é sua.

Toda vez que vejo esse robô aprendendo a dar os primeiros passos, não consigo deixar de pensar que somos estúpidos em achar que temos nascer sabendo tudo.

Crie uma cultura dentro da sua empresa que veja o erro como parte de um processo e não o resultado final, porque se a perfeição é sinônimo de desempenho, a imperfeição é sinônimo de evolução. Qual dos dois você prefere?

E lembre-se que se você não errou hoje é porque ficou o dia todo dentro da sua zona de conforto e não foi criativo o suficiente.

Autor

Marcelo é apaixonado por cultura e tecnologia e sempre que pode mistura os dois. Escreve artigos e livros para mostrar que existe cultura além do pop e tecnologia além da Apple.

Marcelo Henrique Almeida

Comentários

2 Comments

  • Eu acho esse teu texto simplesmente fantástico! Recomendo, como leitura complementar, o livro Gênesis, de Bernard Beckett. Tem muito a ver com o tema e tem uma quantidade enorme de insights.

  • Fantástico o texto! Gostei especialmente do seguinte trecho: “O progresso é fruto da imperfeição, da instabilidade. Não existe razão para a evolução dentro do equilíbrio perfeito”.

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