Há poucos dias terminei de ler um relatório do Gartner, “CEO Survey 2012: The Year of Living Hesitantly”, onde cerca de 300 CEOs do mundo todo foram questionados sobre diversos assuntos relativos ao cenário de negócios e ao uso de TI. Pensei muito sobre as conclusões do relatório e tive alguns insights que gostaria de compartilhar aqui.
O relatório deixa claro que os executivos pensam positivamente quanto a investir em TI e alguns temas como mobilidade e Cloud Computing estão chamando sua atenção.
Um desafio que eles enfrentam é como adotar novas tecnologias e conseguir resultados significativos. Implementar uma nova tecnologia por si, desconectada dos desafios e visões estratégicas, bem como das mudanças que podem provocar nas políticas, processos e mesmo cultura das organizações, não traz resultados positivos e deixa os CEOs na defensiva. Porque investir nesta ou aquela tecnologia sem saber o que ela trará de resultados para o negócio? Eventualmente ela embute mais riscos que benefícios e a conta, não fechando, cria uma barreira contrária a investimentos em novas tecnologias. Os CEOs, muitas vezes por questões de barreira de linguagem com seus CIOs não conseguem captar as disrupções que determinadas tecnologias como Cloud, Big Data ou mobilidade trazem em seu bojo e as encaram de forma tática e não estratégica.
E aí surge um ponto que me deixou intrigado. A pesquisa revelou que os maiores “trusted advisors” dos CEOs são os CFOs, geralmente avessos a inovações. Os CIOs aparecem muito longe no ranking dos “trusted advisors”.
Além disso, para os CEOs do universo pesquisado, os CIOs não estão entre os líderes de inovação nas suas empresas. Na frente deles estão os próprios CEOs, os executivos seniores, os gestores das BU (Business Units) e outros executivos. Os CIOs parecem na oitava posição. Pior ainda, quando perguntados como vêem os seus atuais CIOs no futuro, apenas 1 em 200 CEOs acredita que eles possam eventualmente serem seus sucessores, ou seja, os novos CEOs. Além disso, 40% dos CEOs vêem que no futuro os seus CIOs serão CIOs em outra organização na mesma indústria e quase 16% os vêem ainda como CIOs, mas em outras indústrias. Apenas 18% enxergam o CIO como um futuro lider de alguma área de negócio na sua empresa. Estas respostas expõem um fato preocupante: o CIO pode ir para um concorrente sem fazer maior diferença para o negócio!
Esta questão me parece que deve ser intensamente debatida. É uma visão errada dos CEOs ou os próprios CIOs é que não estão conseguindo mostrar que fazem diferença nas suas empresas? Para ajudar no debate há um ponto importante. Das empresas pesquisadas apenas 38% posicionam a área de TI ligada ao CEO. A maioria coloca TI debaixo do CFO ou COO. Ora sob o CFO o papel básico de TI é operacional e gerar informações para operação diária do negócio, com ênfase em informações financeiras. As prioridades são controle de custos e a área é vista como operacional e não estratégica. Sob o COO o quadro não é muito diferente. É uma área de suporte e não estratégica. Interessante que a maioria dos CEOs entrevistados não reclama do alinhamento de TI com o negócio, mas entende que TI apenas cumpre adequadamente o papel de estar alinhado com o dia a dia da empresa, não criando novas oportunidades ou liderando processos de inovação. Portanto, buscar alinhar TI com o negócio é mera obrigação. Se ainda não estiver alinhado é que algo muito errado está ocorrendo.
Por que isto acontece? Na minha opinião pessoal, muitos CIOs têm uma formação eminentemente técnica, com conhecimento limitado do negócio em si. A própria formação dos cursos de tecnologia se concentra na qualificação técnica e deixa de lado aspectos fundamentais, como desenvolvimento comportamental ou fundamentos de gestão estratégica. Uma nova tecnologia que pode criar uma disrupção demanda a criação de um business plan e esta é uma das disciplinas que passam ao longe das ementas dos cursos de TI. O resultado é que muitos CIOs se dedicam pouco a compreensão mais ampla das origens dos problemas e se dedicam a resolver problemas operacionais do dia dia à medida que eles aparecem. Não vão na raíz do problema e portanto não sugerem formas inovadoras de resolvê-los.
O que os CIOs devem fazer? Óbviamente que não existe uma resposta única. Se a empresa em que ele atua compete por custos, como em uma indústria de margens baixas, intensiva em ativos e/ou de produtos altamente comoditizados é claro que o objetivo principal do CEO é manter os custos no patamar mais baixo possível. Como TI pode ser inovadora em uma indústria deste tipo, geralmente avessa a riscos? Tornando-se muito mais eficiente, posicionando-se como uma “empresa” provedora de serviços de alta qualidade e baixos custos. Podemos olhar como alternativa viável o uso da computação em nuvem. Cloud computing permite sairmos do modelo de capex (custo de capital) por opex (custo de operação) e nos permite melhor controle dos gastos. Paga-se pelo uso, e o billing das áreas de negócio pode ser mais refinado em sua contabilização. TI pode se posicionar como um broker, otimizando sua capacidade de gestão dos recursos computacionais, usando nuvens privadas e/ou públicas.
Já para empresas mais afeitas a riscos, em setores mais competitivos e que inovação é fundamental, TI pode se posicionar como uma unidade de negócio, colaborando para gerar receitas com novos serviços e produtos. Nesta posição o CIO tem papel estratégico e o sucesso da área de TI é medido pelo resultado do negócio e não apenas por custos. O CIO torna-se um “CEO”, ou seja, um executivo que lidera uma unidade de negócio com metas e objetivos de receita muito claros. TI passa ser integrado ao negócio tão profundamente quanto o financeiro. O CIO passa a ser um “trusted advisor” e a sigla se transforma em Chief Innovation Officer.
Fica então a questão: qual será o papel de TI e do CIO nos próximos anos? Não me parece que em 10 anos a área de TI será igual a que vemos hoje. Tecnologias e conceitos disruptores como cloud computing, Big data, mobilidade, BYOD, Social Business e Internet das coisas são movimentos poderosos demais para serem barrados nas portas das empresas e das áreas de TI. Vão mudar as empresas, vão mudar o papel de TI e vão mudar o papel do CIO. E o primeiro passo para chegarmos a este futuro temos que dar agora.