Gestão de Conhecimento

Ξ Deixe um comentário

Comunidades de Prática: Conceitos Iniciais

publicado por Neusa Maria de Andrade

Figura - Comunidades de Prática: Conceitos IniciaisDando continuidade ao tema abordado no artigo anterior, intencionamos apresentar aqui uma breve introdução sobre conceitos que regem as Comunidades de Prática, e assim na sequência e nos próximos artigos ilustraremos de que modo elas podem ser implantadas e combinadas com Gestão do Conhecimento constituindo-se como ferramentas estratégicas para as organizações, mas para facilitar a compreensão precisamos resgatar alguns conceitos e princípios sobre redes.

O termo “redes” é utilizado em muitos contextos, e de várias formas, mas no presente artigo o utilizaremos para descrever a conexão entre participantes que têm motivos para se conectar, relacionar e interagir através de uma rede, seja tanto por motivações econômicas, sociais, ou ambas.

O termo Comunidade de Prática, ou “Cop” nasceu baseado no modelo de Wenger (1998) e pode ser entendido como uma rede de pessoas que giram em torno de um domínio particular de interesse, ou seja, de um tema, aprendizagem, fluxo de informação, ligações e resoluções conjuntas de problemas, com a finalidade de criar novos conhecimentos.

Uma CoP pressupõe a formação de um grupo de pessoas que compartilha a paixão por alguma coisa, de forma que isso promove uma interação regular e fomenta o aprendizado, permitindo aos membros realizar cada vez melhor suas tarefas, construindo a gestão do conhecimento. (WENGER, 1998)

Para cunhar o termo Comunidade de Prática, Wenger (1998) partiu do conceito que o aprendizado é um ato social e que as CoP oferecem um ambiente de aprendizado forte, baseado em constantes fluxos e trocas de informação que ocorrem tanto de forma síncrona quanto assíncrona, permitindo assim que o conhecimento organizacional se desenvolva e promova o aprendizado coletivo e também a inovação na organização, sendo que numa CoP a prática deve ser indissociável da teoria, e os novatos devem aprendem com veteranos e com o tempo. (WENGER et al, 2002).

Uma comunidade de prática pode ser entendida ainda como sendo uma reunião informal de pessoas que se agregam por interesses comuns, especialmente um assunto ou tema, e que tem como finalidade principal a aplicação prática do aprendizado e a promoção do conhecimento no grupo, promovendo responsabilidades no processo.

De maneira distinta de outras estruturas, as CoP atendem um propósito específico, como por exemplo, o desenvolvimento de novos produtos e serviços que possam servir a um determinado segmento de mercado, ou contexto organizacional. São as atividades dos participantes e o grau de entendimento comum e de participação que possibilitam o engajamento e que determinam o funcionamento das CoP, não seus limites físicos, presença, fronteira.

Segundo Wenger, McDermott e Snyder (2002) as CoP são constituídas a partir de três elementos estruturais inter-relacionados. 1) O domínio, que é o tema ou assunto que legitima a comunidade pela afirmação de propósitos e valores dos participantes; inspira os  membros a contribuir, participar e orientar seus aprendizados, trazendo significado para as ações e atividades; 2) A comunidade. que é formada por pessoas que se engajam em atividades conjuntas através da definição de papéis e se auxiliam mutuamente no compartilhamento de informações de forma a produzir confiança e equilíbrio entre vários interesses; e 3) A prática, que nasce das interações entre membros, do conjunto de ideias, das ferramentas, informações, estilos, linguagens, histórias e documentos.

As CoP têm como princípio o caráter intangível  do conhecimento e disponibilizam um ambiente para conectar pessoas, incentivando o desenvolvimento e o compartilhamento de ideias e estratégias a partir dos seguintes pontos: 1) Interação contínua e desenvolvimento de valores similares; 2) Compartilhamento de metas e interesses comuns; 3) Troca e desenvolvimento de novos conhecimentos; 4) Aplicação de práticas comuns. (WENGER, 1998, WENGER et al, 2002)

Ao discutir como incentivar o aprendizado dentro de uma comunidade, Wenger (1998) alerta sobre as dificuldades que se pode deparar quando se pretende extrair conhecimento de uma prática. Ele afirma que o aprendizado está tão ligado à prática que, normalmente não é percebido como aprendizado, e isso está diretamente ligado ao grau de imersão na CoP. (WENGER, 1996, WENGER et al, 2002).

Lave e Wenger (1991) falam da legitimidade da participação dos atores nas CoP que possuem uma estrutura específica e consiste num corpo de pessoas experientes (ou especialistas) que serão fonte de conhecimento para os novatos, e que poderão  tornar-se especialistas no futuro, à partir da prática, incrementando assim suas competências a partir de sua participação. O aprendizado acontece a partir das interações na rede com outros indivíduos que conforme aponta Granoveter (1985) e também depende do grau da variável imersão (embedded) do ator.

Ao discutir como incentivar o aprendizado dentro de uma comunidade, Wenger (1996) alerta sobre as dificuldades que se pode deparar quando se pretende extrair conhecimento de uma prática. Ele afirma que o aprendizado está tão ligado à prática que, normalmente, não é percebido como aprendizado e isso está diretamente ligado ao grau de imersão na CoP.  (WENGER, 1996, WENGER et al, 2002).

Para que as CoP funcionem a contento, uma arquitetura de conhecimento deve ser concebida e implementada, a fim de permitir o processamento encenado e transformação do conhecimento e a dinâmica de formação das CoP, especialmente como elas emergem no contexto organizacional ou como as pessoas se aglutinam para criá-las, ainda carece de novos estudos. (WENGER et al, 2011)

No próximo artigo, falaremos sobre Comunidades de Prática e resultados práticos para as organizações.

REFERÊNCIAS

GRANOVETTER, M. Economic action and social structure: the problem of embeddedness. The American Journal of Sociology, Chicago, v. 91, n.3, p. 481-510, 1985.

LAVE, J.; WEGNER, E. Situated learning: legitimate peripheral participation. New York: Cambridge, 1991.

NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação  de Conhecimento na empresa Como as empresas japonesas geram dinâmica da inovação.Rio de Janeiro. Elsevier- 16ª. edição 1997.

WENGER, E. Communities of Practice: learning, meaning and identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

WENGER, E. A Community of leading knowledge-based organizations dedicated to networking, benchmarking and sharing Best of practices – A Guide do managing Knowledge, Harvard Business School Press, Cambrige, USA, 2002

WENGER, E.; MCDERMONT, R.; SNYDER, W.-Seven Principles for Cultivating Communities of Practice. Cultivating Communities of Practice: a Guide to Managing Knowledge Boston: Harvard Business School Press, 2002.

WENGER, E; TRAYNER B.; de LAAT, M – Promoting and assessing value creation in communities and networks: a conceptual framework -Rapport 18- Ruud de Moor Centrum – Open University of Netherlands, 2011

Autor

Neusa Andrade é administradora de empresas, com MBA em Gestão de Negócios pela FEA-USP e MBA em Tecnologia da Informação e Sustentabilidade pela POLI-USP e mestrado com foco em Gestão de Conhecimento e Comunidades de Prática. Avaliadora da revista REGET www.ufsm.br/reget e co-responsável pelo site Redes https://forumredes.wordpress.com/

Neusa Maria de Andrade

Comentários

You must be logged in to post a comment.

Busca

Patrocínio

Publicidade



Siga-nos!

Newsletter: Inscreva-se

Para se inscrever em nossa newsletter preencha o formulário.

Artigos Recentes