CarreiraOs folclóricos gerentes de TI

Os folclóricos gerentes de TI

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Não vou aqui fazer as óbvias distinções entre gerente de projeto/ coordenador/ líder técnico, porque o foco é nas personalidades de cada um.

Sei que é um cargo importante, e que a maioria é competente, mas cedo ou tarde acabamos esbarrando com uma figura dessas. Então, vira história para contarmos em empregos futuros.

Se você não teve um chefe que se enquadre em um dos tipos abaixos, é questão de tempo. Ter um cacique destes é um teste de paciência e resistência. O verdadeiro batismo de fogo do profissional de TI.

Sem mais delongas:

O Chefe Outlook:
É deste tipo que nossas avós nos avisavam, quando diziam o chavão “Quem não sabe fazer, não sabe mandar”.

Seu único trabalho, por limitação própria, é intermediar e-mails entre duas pessoas que entendem do negócio. Ele sempre clica em “encaminhar”, porque se colocar os dois em contato direto, perde o seu emprego. Seu trabalho é cobrar coisas que ele não faz idéia de como são feitas, ou o tempo que leva.

Além disso, tem o péssimo hábito de colocar uma assinatura de e-mail que, quase sempre, é maior que o próprio conteúdo de suas mensagens. Na verdade, seus e-mails não têm assinatura: têm um mini-currículo. Nele lista todas as suas certificações, telefones para referência, e até tipo sanguíneo. Se tiver que escolher, prefere excluir seu nome da assinatura do que a data em que foi aprovado no exame de ITIL.

O Chefe ‘one-up:
Este chefe acha que seu respeito depende de sua roupa. Portanto, quer sempre estar um nível de ‘dress code’ acima dos seus funcionários. Se o código de vestimenta é casual, ele vai de social. Se é social, ele vai de terno. Fica desesperado quando todos usam terno, chegando a apelar para sobretudos, ainda que sob o sol senegalês do nosso país tropical.

O Chefe prolixo:
Baseado neste tipo é que criaram o bingo corporativo. É o mestre na arte de falar sem dizer coisa alguma. Tudo é motivo para fazer uma reunião e ligar o projetor, mostrando intermináveis planilhas, que ele se orgulha de ter colorido célula a célula. Geralmente, as pessoas saem de suas reuniões mais confusas do que entraram. Em dez minutos de monólogo, já perdeu a atenção da equipe, entre saraivadas irrelevantes de “sinergia”, “sustentável”, “visão macro” e “a nível de”.
Gera 5 Gigabytes em atas de reunião na rede.

O Chefe workaholic:
Sua vida é o seu trabalho. Esposa e filhos são um “freela” que ele faz por fora, quando dá tempo. Tem a plena certeza que um dia irão erguer uma estátua sua no hall do prédio, pelos serviços prestados. É aquele que já está lá quando você chega, dando sempre a impressão de que você está atrasado, e que sempre vai embora por último, te dando a impressão de que você está saindo muito cedo.

É tão apegado ao trabalho que costuma comemorar seu Reveillon no fim do ano fiscal.

O Chefe marketeiro:
É quase uma evolução natural do consultor marketeiro. Sempre promete um prazo impossível de ser cumprido. Pede comprometimento, garra, e até que seus funcionários trabalhem de graça no fim de semana, mas às cinco da tarde, sai tranquilamente pela porta, com a sua raquete de tênis na mochila, dizendo um “qualquer coisa, me liga”.

Se um projeto dá certo, é graças à sua gerência. Se algo dá errado, é incapacidade técnica de algum membro da equipe. Pede aumento mesmo quando o projeto é cancelado.

O Chefe Anti-herói:
Já é figura folclórica nas festas de fim de ano da empresa. Habitué de inferninhos perto do escritório, chega de ressaca e não tem vergonha disso. Para ele, “aumento de escopo” é seduzir a nova estagiária, e “planejamento estratégico“, é decidir aonde levar a secretária para jantar.

Tanto faz o projeto ir bem ou mal, pra ele tudo é festa.

O Chefe mala:
É o verdadeiro desagradável. Sempre usa o pretexto de se ajeitar na cadeira para olhar sobre a baia e ver o que está no seu monitor. Controla mais as suas horas do que as dele mesmo, e fica extremamente incomodado quando você se levanta para um café ou para ir ao banheiro. O importante não é você entregar sua tarefa dentro do prazo, mas sim o que você está fazendo a cada momento.

Programa seu outlook para enviar mensagens automáticas para a equipe de hora em hora, pedindo atualização de status.

O Chefe Juiz:
É aquele que adora um processo. Como é um fetichista por metodologias, a cada nova prática adotada pela empresa, é como se fosse seu aniversário. Preza a mudança pelo simples fato de ser uma mudança. Quanto maior o número da versão do documento, mais radiante ele fica.

Quando muda a formatação de texto de um documento, atualiza o mesmo no repositório e envia uma notificação para todos da empresa com o novo padrão.

Sempre sente um calafrio ao ouvir juntas as palavra “não” e “conformidade”.

O Chefe soldado:
Tem este nome pois caiu de paraquedas na liderança onde atua. Anteriomente desalocado, e amigo de algum gerente, pediu uma “força”, uma “vaguinha”, e foi encaixado aonde deu. Completamente alheio às tarefas e aos processos, é o equivalente a uma copeira gerenciando um canteiro de obras. Na dúvida, prefere concordar com tudo que a equipe diz. Seu maior medo é que descubram sua incapacidade de liderar, sua incompetência na gerência de profissonais, e o demitam logo de cara. Justamente por ter este receio, fica claro que ele não conhece mesmo nada de TI.

Thiago Casquilha
Consultor SAP BW, Analista desenvolvedor mainframe, fotógrafo amador e quase escritor.Atuei em projetos internacionais de desenvolvimento e suporte à produção, nas empresas de TI que a maioria já trabalhou e todos conhecem.E-mail -> thiago.tiespecialistas@gmail.com LinkedIn -> http://br.linkedin.com/in/thiagocasquilha Twitter -> http://twitter.com/casquilhaTodos os artigos por mim escritos, sem exceção, são textos de ficção. Qualquer semelhança com a vida ou fatos reais será apenas uma coincidência de probabilidades astronômicas.

20 COMMENTS

  1. Gostei, Mas faltou o chefe sabe tudo – aquele que se julga saber e conhecer de tudo e todos profissionais…Definindo e demonstrando e caricaturando o outros, como agem, como trabalham, como executam suas tarefas, o que deixam de fazer…quer compartilhar suas idéias sempre, não gostando de ser criticado, suas opiniões são as únicas e só ficam felizes quando as mesma são aprovadas por todos…Tudo que todo mundo está cansado de saber…Querem mostrar novas formas de fazer, como fazer, que fica melhor assim, assim é mais produtivo…Coisas desse tipo…Acho que ficou faltando o chefe que acha que sabe tudo.

  2. Fala João,
    Muito bem lembrado! Não acredito que esqueci logo um tipo clássico como esse. Como dizem, antes tarde que nunca. Então, de improviso, e usando a descrição que você deu como base, aqui vai:

    Chefe Sabe-tudo:
    É aquele que não precisa de equipe. Ele é a equipe, e os outros são a platéia. Se os outros ainda não concordaram com a solução dele, é porque ainda não enxergaram a verdade. Não basta fazer, tem que ser do jeito mais enrolado. Fala chavões conhecidos como se tivesse acabado de descobrir a pólvora.
    Para ele, qualquer solução dada pelos outros, é sempre um erro a ser corrigido.
    Nas reuniões, pergunta e responde suas próprias perguntas.

  3. Bom dia!

    Isso é chefe e não lider. Existem também vários tipos de liderança. No entanto, ser lider é uma outra coisa. O meu comentário final quando dou palestra ou consultoria sobre Liderança criativa é – se as suas ações criam um legado que inspira outros a sonhar mais, aprender mais, fazer mais e tornar-se mais, então você poderá se tornar um lider bem sucedido.

  4. Bom dia José,
    Você disse “Isso é chefe e não lider”. Por isso que as primeiras palavras do texto são exatamente ‘Não vou aqui fazer as óbvias distinções entre gerente de projeto/ coordenador/ líder técnico, porque o foco é nas personalidades de cada um.’

    Sobre você dizer “se suas ações criam um legado que inspira outros a sonhar mais, aprender mais, fazer mais e tornar-se mais, então você poderá se tornar um lider bem sucedido.” é certamente uma maneira interessante de ver a liderança.
    Só posso falar pelas minhas experiências, e pelo que converso com vários amigos de diferentes setores, mas quanto aos legado, acho que a própria realidade, e o dia a dia, nos mostram que em geral, não é inspirador para os outros. Mas na verdade, fica a herança do descaso, preocupação com aspectos irrelevantes do dia a dia, micro gerenciamento, promoções dadas por muitos fatores exceto mérito, se eximir de responsabilidades, ignorância no assunto que supostamente “gerencia”, e outros.

  5. Fala Jackson,
    Cara, lembrou bem. Acho que seria mais o chefe anti-herói. Além de convidar alguns funcionários para os mencionados inferninhos, mistura os tipos de relacionamento como você diz.
    Resolve discussões de bar no meio de uma reunião dentro do escritório, fala de trabalho no boteco, e não limita o nível de intimidade nem o tipo de assunto que fala, independente do lugar.

  6. Rolei de rir!
    Me fez lembrar meu ultimo chefe que disse:
    -“Solange, esse negócio de internet não dá dinheiro! só quem “mexe” com isso aqui na empresa é o pessoal do marketing! o que dá dinheiro mesmo é vender serviço de mainframe para Bancos que nem sabem o que estão comprando”!!!

    Foi otimo ele me dizer isso – sem isso eu não estaria onde estou hoje! valeu E.D….!!!!

  7. Olá Thiago, muito bom, parabéns pelo artigo! rs

    Pena que somente funcionários leiam né? Os chefes mesmo evitam de toda forma! É como ser confrontado!

    Mas tudo bem! Se cada pessoa que hoje é um funcionário, e que amanhã será um chefe, ler os artigos, daqui alguns anos o mundo será bem melhor. Kkkkkkk!

    Um abraço meu amigo!
    SUCESSO!

  8. Thiago, boa noite.
    A pouco fiz acesso a essa página e estou me maravilhando com tanta informação. Li e analisei o seu artigo. E sem dores e sem pudores, me vi em poucos… e em tudo me parece muito bacana e engraçado nessa sua visão.
    Mas sem muito blá blá blá e com isso sem parecer prolixias… faltou o GP/COORD/LIDER… o que seja… GP ADESTRADOR, Aquele que sempre solicita/orienta/pede/manda ao recurso não fazer além do que estar no escopo, pois se fizer desalinha as atividades e nem sempre o cliente paga… ou aceita que esta certo… Leia o que esta escrito e não o que você pensa que acha que sabe, pois depois vai ter que fazer tudo de novo… e sem receber pq fez errado… não faça tanta amizade e confidências com o usuário que ele será o 1o a te jogar na fogueira das reuniões interminaveis…
    Se for fazer horas por fora, para agradar ao cliente e ao seu bolso, faça o serviço bem feito para não trazer problemas ao projeto no seu escopo original…
    Quando faltam sem explicações… Sim, cliente ele não vai mais faltar no dia do processo de produção ou de validação para ir fazer entrevista fora…
    Sim, diretor (onde recurso trabalha) podemos compensar os atrasos sem prejudicar ninguém…
    Seriam um monte de outras coisas que o GP rebola… quer dizer organiza para que algumas posturas ou falta delas de alguns recursos em que orientamos…
    Veja… não estou me colocando como sendo o supra-supra do e no gerenciamento de projetos… mas demonstrar também que nesse folclore nós GPs também temos a missão de segurar muita ciranda daqueles que realmente fazem o projeto acontecer… mas que precisam de uma figura para ajudá-los a não trocarem os pés pelas mãos.
    Acredito que cada um tenha o seu papel no projeto e com isso ter a visão de delegar responsabilidades aos seus comandados os faz ainda mais responsáveis pelo sucesso de todos dentro de um ou vários projetos… até mesmo nos fracassos…
    Espero que algum outro GP tenha algum comentário a ser apresentado e que nos faça iluminar e a todos os demais recursos entendimento para ver que nem sempre é fácil a vida do seu GP/COORD/LIDER de Projetos…
    Abraços e sucesso a todos!

  9. Como “repositório de estereótipos”, ficou muito legal!

    Agora, temos que lembrar que apenas o que diferencia um funcionário de ser um chefe é o nível hierárquico – e com isso, responsabilidades, salário, encheção de saco, etc.

    Afinal, um supervisor é funcionário de gerente, gerente é funcionário de diretor, e diretor é funcionário de presidente.

    Todos reclamam do cara da cadeira lá de cima, mas o fato é que todos querem ela.

    Voltando a ideia inicial, eu já tive um chefe general. Esse tipo de cara é muito bom para aprender, porque você aprende do jeito que deve ser feito.

    Claro, há momentos que deveria haver uma avaliação por parte dele para melhorar os processos existentes e tornar a empresa competitiva. Você se frusta por querer colaborar com a empresa e melhorá-la.

    Esse cara, na verdade, deve ser supervisor de estagiários e trainees, pessoas que darão de tudo para manter-se na empresa e que sabem,que estão por baixo e que devem aprender.

    É assim com cada um dos tipos de chefe acima: tipos de funcionários diferentes para chefes diferentes.

    Eu conheço algumas pessoas que só funcionam na base do chicote. Em geral, elas são péssimos chefes, porque na verdade acham que devem fazer o mesmo com os subordinados, com relação à cobrança de serviços.

    Não sabem fazer, só sabem exigir, não sabem ensinar.

    Devemos lembrar que muitos funcionários distanciam-se muito dos chefes ao ponto de acreditar que eles não precisam de simancol.

    Todos precisamos de puxão de orelha de vez em quando, inclusive o chefe. Nada é perfeito.

    Nem mesmo pessoas de cinquenta anos estão eximidos de errar, em alguns casos erram mais, principalmente quando se trata de usar o sentido visão, ou ainda, acham que tem tanta experiência que perdem a humildade e se tornam generais.

    Por um lado, devem ensinar, e de outro, devem aprender a ouvir.

    Devemos criar meios para que quando formos chefes, ouviremos nossos funcionários.

    Devemos estabelecer meios para que possamos balizar quando um processo deve ser atualizado e quando é a melhor forma.

    “Todo chefe foi funcionário e é funcionário de alguém”, lembrem-se disso.

  10. O que mais tem na empresa que trabalho é o Chefe marketeiro (“Se um projeto dá certo, é graças à sua gerência. Se algo dá errado, é incapacidade técnica de algum membro da equipe….” ), chega a ser até engraçado.
    Ainda arrumam um bando de bajuladores para ostentar suas “glórias” dando-lhe os parabéns por coisas que eles não tem a mínima ideia do que foi feito.

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