Sempre vemos os conflitos como algo negativo.
Faz parte do nosso instinto de preservação evitar o conflito. Mas será que realmente todos os conflitos devem ser evitados? Ou existem aqueles que podem ser benéficos?
Existem empresas onde os líderes evitam o conflito entre si. Aliás, existem empresas onde os líderes evitam qualquer conflito, o que é ainda pior.
Primeiramente, precisamos refletir a respeito do mecanismo que leva a isto, para posteriormente analisarmos os desdobramentos deste comportamento no mundo corporativo.
Por instinto, até mesmo os leões tendem a evitar os conflitos, já que mesmo quando se é mais forte que o oponente e se possui a certeza da vitória, ainda assim, o vencedor pode se ferir durante o embate.
Claro, faz parte da natureza dos leões e outros predadores (incluindo o homem), atacar, combater e se impor sobre os demais. Mas, ao mesmo tempo, o instinto de preservação faz com que evitem as batalhas desnecessárias. Sobretudo entre dois da mesma espécie, já que um leão, por mais que seja mais fraco, mais velho ou possua alguma desvantagem perante seu oponente, ainda assim lhe representa perigo.
Não estou aqui defendendo a violência física, tão pouco qualquer tipo de agressividade.
Não estou defendendo a resolução de conflitos através da força, apenas tratando dos mecanismos primitivos e instintivos que tendem a nos fazer evitar determinados conflitos.
É evidente que nenhuma disputa pode ou deve ser resolvida através do uso da força, mas sim, através do diálogo e negociação.
Mas, acredito que como civilizados que somos (ou desejamos ser), devemos buscar controlar nossos instintos. Tanto o excesso de agressividade, quanto a falta dela.
Independentemente do nível hierárquico, ambos os lados em um conflito devem se respeitar, buscar entender os pontos do outro e chegar a uma solução positiva para ambos, através da negociação.
Contudo, o que vemos em muitos casos, são líderes os quais enfrentam seus subordinados, mas evitam os confrontos com outros de mesmo nível hierárquico.
Não porque estão alinhados, mas porque fogem do conflito.
Apesar de terem opiniões distintas, têm medo de discordar entre si.
É claro que este é um processo o qual deve ser feito de maneira reservada. Não devem discordar entre si em frente a seus funcionários, assim como também não devem discordar ou repreender seus funcionários na frente dos demais.
Mas se não há um consenso verdadeiro, um real alinhamento, devem sentar, conversar, expor seus pontos de vista, suas preocupações e negociar um ponto comum, de forma que se chegue ao alinhamento.
Do contrário, instala-se o caos.
Como diz o ditado popular: “Cachorro de dois donos, morre de fome”.
E é exatamente isto o que acontece.
Quando a liderança não está alinhada, os liderados remam cada um para um lado, equipes diferentes tentam levar o barco para lados diferentes, não por disputas internas, mas por seguirem orientações diferentes.
Pior ainda é quando uma mesma pessoa ou equipe recebe cada hora uma orientação distinta.
Como um funcionário pode trabalhar, executar sua função, se a cada momento um de seus chefes lhe dá uma orientação diferente e conflitante com a orientação anterior?
E o pior, nestes casos, em geral, os líderes questionam os funcionários o porquê daquilo, mas não questionam seus pares, por puro receio do embate.
É como ter dois passageiros em um taxi, pedindo para que a rota seja mudada a todo instante e esperar que se chegue a algum lugar. Só se vai perder tempo e dinheiro, dando voltas sem rumo.
Pior ainda é quando os líderes evitam o confronto até mesmo com seus funcionários.
Seja por pura covardia ou por medo de perderem determinado funcionário.
Quando isto ocorre, mostram sinal de fraqueza e perde-se a liderança.
É claro que o líder não pode ser um carrasco, mas também ninguém segue um fraco.
Reitero, não estou buscando semear a discórdia.
Não acho que se deve discutir todo o tempo, nem por qualquer motivo, mas é necessário que se tenha bom senso, primeiramente para identificar a importância de cada questão, e depois, para debatê-la de forma cordial e sensata entre os envolvidos.
O silêncio não resolve problema algum, apenas o multiplica.
Os conflitos muitas vezes são necessários e positivos, desde que se saiba tratá-los de forma consciente, coerente e civilizada.
Afinal, aprendemos sempre muito mais em momentos de conflito do que em momentos de paz.
[Crédito da Imagem: Conflitos – ShutterStock]