Os publicitários são conhecidos pela difusão de suas ideias criativas, estas responsáveis em promover produtos e marcas de diversas empresas. No entanto, a principal ferramenta de trabalho desses profissionais – a liberdade criativa – tem sido afetada por conta do novo cenário das agências de publicidade: a informalidade, o ambiente competitivo, as transformações tecnológicas e a maior exigência do cliente estão demandando esforços excessivos de maneira mais ágil e intolerante, o que por muitas vezes torna o processo criativo desgastante e desapegado a qualquer reconhecimento. Para entender como este cenário tem afetado a profissão, Fabricia Navarro – especialista em coaching para o mercado publicitário – (www.fabricianavarro.com.br), realizou um estudo nos últimos 12 meses com 103 publicitários de todos os níveis hierárquicos e constatou que 72% se sentem inseguros por conta da ausência do reconhecimento tanto dos chefes, equipes, como dos colegas deprofissão e até mesmo dos próprios clientes.
A grande insatisfação profissional ocorre com frequência tanto entre os jovens que estão ingressando quanto nos que já estão estabelecidos no mercado. Para Navarro, o descontentamento se justifica pelo cenário atual do mercado, onde o período para se executar as tarefas não é planejado corretamente e novos cargos e atribuições foram agregados aos publicitários sem planos de carreira bem definidos, critérios de promoção, ou treinamento adequado. “Com o aumento no número das demandas, redução do budget e equipes enxutas, os publicitários têm mostrado grande dificuldade em realizar as demandas designadas, o que têm os levado a desmotivação com o ofício”, explica.
Segundo a coach, este panorama aliado à informalidade empregatícia cada vez mais presente nas agências também estimula a competição individual e, portanto, a criatividade fica comprometida. Na avaliação de Fabricia Navarro, os profissionais da área têm buscado ideias e criações inusitadas para valorizarem a autoimagem, mas se desconectam dos princípios da profissão. “A insegurança com o futuro da carreira tem feito com que os publicitários busquem incessantemente ideias e iniciativas quaisquer para alcançarem algum tipo de reconhecimento, o que foge totalmente do propósito da publicidade, que é justamente trabalhar em prol das necessidades das marcas”, afirma.
Ainda de acordo com Fabricia, outro problema que o levantamento evidenciou é que a preocupação constante em ter a própria imagem reafirmada afeta o modo como os gestores administram suas equipes. “Observamos que para sempre serem respeitados os profissionais que ocupam cargos de coordenação, gerência, ou diretoria têm muito receio na maneira que vão se posicionar frente aos seus colaboradores. Frequentemente, esses gestores têm dúvidas se estão atingindo as expectativas de seus times e buscam mecanismos de reconhecimento a qualquer custo”, comenta.
Diante dos conflitos interpessoais gerados pela profissão, Navarro afirma que para se obter qualquer reconhecimento, principalmente de quem observa de fora, como os clientes das agências, ou os sócios e principais executivos das empresas, é necessário entender que a carreira não segue uma trajetória linear. “Remover os obstáculos e observar que não existe um único caminho para levar ao ponto ideal das realizações é uma habilidade primordial. O profissional precisa ter tato para identificar a oportunidade que está a sua frente e executar as tarefas de forma criteriosa, com competência, para gerar resultados satisfatórios. A partir deste procedimento, a autoestima e autoconfiança começam a ficar elevadas e o reconhecimento tão almejado passa a ser corriqueiro”, relata.
Por fim, a coach Fabricia Navarro considera que enquanto os publicitários não se desapegarem dos ideais românticos da profissão, os níveis de frustração e a falta de comprometimento com os resultados só tendem a aumentar. “É fundamental entender que, como em qualquer carreira, existe um lado ruim, este muitas vezes permeado por práticas condenáveis. Sendo assim, o sucesso não é feito somente de vitórias, mas, principalmente, de aprendizados e reflexões para que o reconhecimento profissional se torne um processo automático, não uma obsessão”, reflete.
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