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Talentos para a era digital

publicado por Cezar Taurion

Figura - Talentos para a era digitalNo último encontro do Fórum Mundial em Davos o tema central dos debates foi a chamada “Quarta Revolução Industrial” e seus impactos nas sociedades, organizações e cidadãos. Todas as empresas já estão ou estarão sendo afetadas pela transformação dos negócios impulsionadas pela transformação digital. O “going digital” já é o cerne dos debates entre os boards e CEOs das empresas. O “going digital” transforma a maneira como as empresas compram e vendem produtos e como se relacionam com seus clientes. Seus atuais modelos de negócio muitas vezes são colocados em risco por novos entrantes ou por concorrentes de outros setores, que um belo dia entram no seu antigo e consolidado setor, e simplesmente mudam as regras do jogo. Um artigo muito interessante da McKinsey, “Accelerating the digitization of business processes” mostra claramente que a experiência intuitiva e ágil que o cliente obtém de uma empresa da Internet, como Amazon e Uber, ele também quer para os relacionamentos que mantém com as empresas tradicionais. A facilidade que ele tem na interação self-service com uma empresa aérea como comprar passagem e fazer check-in pelo smartphone, ele quer com seu banco e sua seguradora.

Muito bem, que tal fazermos um rápido e simples teste para sabermos se nossa empresa está realmente engajada no processo de transformação digital?

  1. Existe uma visão clara do que a empresa pretende com a transformação digital e esta visão está permeada pela organização? Se a resposta for não, claramente a empresa não está fazendo os movimentos na velocidade adequada.
  2. A empresa mede os benefícios das iniciativas de transformação digital? Se a resposta for não, estas iniciativas provavelmente estão descoladas da estratégia da organização.
  3.  Todos na organização entendem quem são seus clientes, preferência e hábitos? Se a resposta for não, uma cultura “client-oriented” está muito longe de ser verdadeira.
  4. Em quais funções de negócio (marketing e vendas, finanças, fabricação e distribuição de produtos, procurement, RH e aquisição/retenção de talentos) a empresa usa tecnologias como cloud, mobilidade e inteligência artificial para melhorar a eficiência operacional? Se a resposta for bem pouco ou quase nada, é preocupante!
  5. Qual o percentual de produtos lançados de forma ágil? Se for baixo, estamos ainda engajados em processos pouco digitais. Podemos até estar usando muitas tecnologias, mas os processos em uso foram desenhados para o mundo analógico.
  6. Nossos clientes podem usar quaisquer meios de interação com nossa empresa de forma fluída e ágil? Se o site da empresa já não for responsivo, ou seja, não se adapta automaticamente ao tamanho da tela do dispositivo que o cliente está usando, pode parar por aí. Se ele não pode fazer por um app o que ele faz pelo site, a empresa ainda está engatinhando no mundo digital.
  7. A empresa usa plataformas digitais para colaborar e compartilhar dados com seus principais fornecedores? Se não, o caminho a percorrer ainda é longo.

A transformação digital demanda vencer diversos desafios. O primeiro é a diferença cultural que existe entre uma empresa criada pós Internet e as criadas anteriormente. O conhecimento do que é o mundo digital não está amplamente permeado na maioria das empresas tradicionais, e muitos de seus líderes ainda não perceberam a amplitude e velocidade da mudança que está chegando. Alguns consideram que seu setor está imune e mesmo que entendam que mudanças ocorrerão, acreditam estas não virão tão cedo. É o engano do nosso pensamento linear. Em um mundo de exponencialidades, o pensamento linear nos trai, pois achamos que as mudanças continuarão no mesmo ritmo a que fomos acostumados nas últimas décadas. Não vão. As mudanças ocorrem exponencialmente! Em resumo, a maioria das organizações não está acompanhando adequadamente a velocidade da revolução digital. O resultante é que estas empresas ainda não tem uma clara visão do é ser uma “empresa digital” e acabam não buscando talentos adequados para fazer esta transformação. Ainda é comum vermos o discurso “transformação digital” ser confundido com marketing digital. A transformação deve ser de toda a empresa e não apenas do marketing. Obviamente uma empresa que pensa e age de forma digital (rápida e ágil em seus processos, com estrutura organizacional desenhada para agilidade, lançando produtos mais rapidamente) tem seu marketing também digital. É mera consequência.

Mas, é perfeitamente possível transpor as barreiras. A transformação digital não é apenas tecnologia. A tecnologia está disponível para todos, de forma cada vez mais abundante e barata. O diferencial está na vontade de fazer a mudança e na capacidade dos talentos que farão a mudança. Uma estratégia de transformação digital, portanto, passa, obrigatoriamente por uma estratégia de aquisição de talentos.

Onde estarão estes talentos? Muitos estão dentro de casa, talvez em funções que não os permitem colaborar com a estratégia digital, pois estão presos a estruturas hierárquicas que não permitem este conhecimento ser aproveitado. Talentos são recursos tão valiosos que deveriam ser medidos pelos analistas de mercado. Hoje vemos análises de empresas baseadas apenas pelos números, como fechamento do quartil ou lucratividade. Entretanto a análise fria destes números ignora o potencial de melhorias ou pioras que são muito mais dependentes dos talentos disponíveis à empresa do que de qualquer outra alternativa. Recomendo a leitura de um artigo muito instigante da Fast Company, “These Are The Companies With The Best Tech Talent”. Uma frase do artigo é emblemática: “While stakeholders and executives concentrate on the bottom line, they aren’t necessarily able to see what factor a company’s human capital is playing into that red or black number. At a company that is slated for sale, for example, it wouldn’t be surprising if some of the most talented individuals started looking for work elsewhere in anticipation of a cultural shift.”.

Mas, quando a empresa não tem todos os talentos necessários para a transformação digital? Tem que buscar lá fora. A guerra por talentos para permitir as empresas fazerem a transformação digital ainda está começando aqui no Brasil, mas creio que, como já acontece nos EUA e Europa, vai se acelerar em breve. Sugiro ler este artigo da McKinsey, “Discussions on digital: The new war for talent” que relata um painel de debates com executivos do Vale do Silício e seus desafios em encontrar talentos para o mundo digital.

Uma estratégia de talentos digitais deve conciliar a expertise e características de talentos que a empresa já dispõe com aquisição de novos. Isso significa combinar culturas diferentes, quocientes emocionais e diferentes habilidades interpessoais. Um exemplo pode ser colocar juntos um criador de startups e um executivo com mais de 20 anos de atuação em um grande banco ou seguradora. São antíteses de visões e características digitais.

Um artigo que analisa as diferenças entre executivos “born-digital” e “going-digital” é bem descrito pela Korn Ferry em “Leaders for a digital transformation”. Mostra a importância de se definir uma estratégia de identificação e aquisição de talentos para a transformação digital.

A transformação digital é o primeiro passo para a transformação os negócios. Tecnologias são as ferramentas, mas as pessoas é que farão as mudanças. Sem os talentos adequados, a empresa não vai conseguir fazer as mudanças necessárias. Ignorar este desafio é colocar a sua própria sobrevivência empresarial em risco.

Autor

Cezar Taurion é head de Digital Transformation da Kick Ventures e autor de nove livros sobre Transformação Digital, Inovação, Open Source, Cloud Computing e Big Data.

Cezar Taurion

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