“Nossa, que chefe esquisito!” Disse a gazela, “mal olha para nós”.
“Deixa disso, ele nem viu a gente”, comentou o Cágado, “mas sempre que ele pode, conversa sim”.
“Pra que serve o chefe?”
“Eu, eh…”
Os dois continuavam a conversar despreocupadamente na beira do poço quando inexplicavelmente a gazela tropeçou, caiu nas profundezas do poço.
“Maninha, que foi? Socorro!” Gritou o Cágado a procurar ajuda.
O Tigre chefe foi chamado, olhou e exclamou “O que vocês estavam fazendo na beirada?”
“Chefe, deixa os questionamentos para depois, vamos ajudar a Coitada.” Implorou a formiga.
Várias tentativas e nada. A gazela quase estufada. Apareceu o Elefante para dispersar a multidão.
“O que acontece, ninguém mais trabalha por aqui?”
“A gazela, a gazela….”
“O Leão comeu? Aquele vosso chefe me paga.”
“Não, não foi o Leão, a gazela caiu no poço.”
“Bom dia, chefe”, disse a joaninha motivada.
“Por quê?”, perguntou o Leão mal humorado, cabisbaixo, “A empresa está a perder faturamento”, disse ele apontando a queda de energia “estamos sem energia”.
“Faz uma hora, chefe”, repetiu ela, “é uma pena, bem que podíamos ter no-break”.
“E você ainda fala bom dia?”, o Leão deu um chute na joaninha, virando-se de barriga para cima.
Fazia muito sol e a joaninha com as perninhas para cima e impossibilitada de voar. Tentou levantar e nada, esperneou até se cansar, ficou imóvel. “Maldito seja esse Leão, ele deixou-me assim só porque desejei um bom dia”. Amaldiçoou o felino, falou mal, a desejar tudo de ruim. Quando cansada dormiu. O Sol já maduro deitou-se sobre o pequeno inseto, violentando-o, como se fosse uma cobertura de pimenta malagueta sobre os olhos.
De repente apareceu um lagarto faminto que andava a caçar insetos e eventuais joaninhas, mas vendo aquele bichinho em estado tão deprimente não se interessou em comê-la, gostava de carne fresca e achava que a joaninha estava morta. Usando a sua cauda empurrou-a, arrastando-a. Com o empurrão, a joaninha ganhou a altura. Voou para bem longe dos Leões e Lagartos.
“Nunca vi um gajo ordeiro como aquele”, dizia Albertino, coelho observador e madrugador, chegava cedo ao escritório, disputando assiduidade com o seu chefe.
“Quanta saudade da ética, que é praxe jurar, mesmo nos cursos de catequese…”
Vocês já tiveram a sensação do que o tempo está passando mais depressa?
Todos serão beneficiados, estarão conectados, juntos como o pulso e o relógio, dizia o Elefante para justificar a introdução tecnológica na Machamba.
Depois de choraminhices os sete grandes animais: Elefante, Rinoceronte, Crocodilo, Baleia e Girafa, reuniram-se para minorar o problema da ameaça.
Muito se fala sobre sustentabilidade. Com a recente realização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável o tema ganha espaço.
Ela consigo pensava, enquanto caminhava: Como doce é a tua voz, na sua sombra pude descansar, a esconder-me daquele sol que parecia do deserto do calahari, a castigar tudo abaixo, menos aquele que tivesse uma sombra generosa como aquela. Foi debaixo daquele sol que prestou atenção de como a sua companheira manipulava a voz, adocicando com toda a suavidade dos céus. Enquanto escutava pensava como a natureza foi demais sábia com todos. Aquela maneira de se expressar não era de uma ave original, a doçura da sua voz que parecia artificial, era de certa forma a contemplação de toda essa miscigenação cultural. Foi esse encontro de várias culturas que modificou seu jeito, sua maneira, tornando-o único, plenipotenciário e soberano. Nessa floresta era tudo estranho, apenas o Elefante Cinzano sabia como as coisas ali funcionavam. As duas aves continuavam a caminhar a esmo. A Codorna que buscava saber da oportunidade, não perdia a chance para perguntar e o Avestruz prontamente respondia:
“Sim, há vaga não”, assim ela respondeu apontando o biquinho para a palhota que estava trancada havia uma semana. Lá ficava o chefe cheio de manias, falares violentos e quase sem entendimento, chegava antes do dia amadurecer e saia com o piar da coruja. Esse chefe chamava a todos de Zé. Era Zé pra lá e Zé pra cá. A maneira como ele tratava seus subordinados desagradava a todos da floresta, afinal tinham nomes que encantavam quando pronunciados, mas o chefe ignorava, gerando descontentamento.
Naquela semana, ninguém sabia se o chefe estava na palhota. Também, quem queria saber? Nem em espiar ninguém quis. Foi então que quando perguntado, o Avestruz não hesitou em apontar o biquinho, afirmando e negando. Mas a Codorna que vinha de outra floresta ficou sem saber qual era a resposta:
“Há vaga ou não há vaga?” Insistiu ansiosa, com pouco fôlego.
O jardim era belo, com flores com as quais paga o dote para os apreciadores de beleza. Era primavera e os dois estavam a caminhar com suas choraminhices.