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Desafios da Interoperabilidade: A Integração de Dados e Processos – Parte IV

publicado por Marcus Vinicius da Costa

Desafios da Interoperabilidade: A Integração de Dados e Processos - Parte IVO Problema: Fragilidades e Distorções

Dando continuidade a analise da Dimensão Dados, como resultado das reuniões e análises realizadas pelo Comitê do Macroprocesso Orçamentário-Financeiro, elaborou-se, ainda em 2008, um diagnóstico preliminar do problema, que identifica as principais “fragilidades e distorções” dos sistemas de informações que suportam o Macroprocesso. Tais informações permearam a construção e a implementação e ainda permeiam a sustentação do padrão MGD, e são elas:

Fragilidade A: Sistemas de informação não apoiam adequadamente o processo decisório.  Distorções: (i) o atendimento à necessidade de informações integradas para apoiar o processo decisório precisa ser feito por intermédio de inúmeras apurações especiais, uma vez que as informações encontram-se fragmentadas entre os diversos sistemas estruturantes; (ii) desconhecimento ou não aplicação dos padrões para troca de informações preconizados pela arquitetura de Interoperabilidade e-PING pela maior parte dos gestores e dos projetistas dos sistemas; (iii) demanda não estruturada de informações para apoio à decisão; e (iv) sistemas estruturantes desenvolvidos com uma abordagem centralizadora, sem incorporar a necessidade dos órgãos setoriais, gerando como consequência uma proliferação de subsistemas setoriais, que apresentam baixo nível de integração com os sistemas estruturantes.

Fragilidade B: Sistemas de informação não apoiam satisfatoriamente a implementação de ações de governo no âmbito do Ciclo POF.  Distorções: (i) a abordagem centralizadora dos sistemas estruturantes cria para os usuários dos órgãos setoriais um retrabalho significativo, devido à necessidade de manter, em paralelo, sistemas locais com redundância de dados. Em consequência disso, os sistemas centrais não possuem informações relevantes, que residem somente nos sistemas setoriais, ficando impossibilitados de oferecer aos gestores dados confiáveis e disponíveis tempestivamente; (ii) inexistência de uma política de uso e disseminação de informações. Falta uma documentação automática dos serviços de informação, como um catálogo de serviços do Governo, que garanta a ampla divulgação do conteúdo semântico e das regras para obtenção das informações; (iii) inexistência de uma arquitetura de informação que forneça um modelo e uma metodologia de aquisição e utilização da informação; e (iv) grande dificuldade para se cruzar informações entre os sistemas estruturantes, que pode se ilustrada pela estrutura de codificação dos órgãos do Governo onde, embora o SIORG seja o sistema responsável por manter e gerenciar a codificação da estrutura de órgãos da Administração Pública Federal, há outros sistemas que mantém e controlam a sua própria estrutura: o SIGPLAN, o SIAFI e o SIAPE.

Comum a maior parte das soluções hoje implantadas nas diferentes esferas do Governo, essa foi a radiografia do problema da falta de integração de dados no Macroprocesso elaborada pelo Comitê do Macroprocesso Orçamentário-Financeiro. É importante ressaltar a preocupação do grupo, externada em reunião de 19/12/2008, quanto à necessidade de uma gestão e documentação eficientes, que integre a visão dos processos à visão dos dados, de forma a garantir o alinhamento e o uso continuado desse modelo por todo o Governo Federal.

Dando inicio a solução: O Macromodelo

Tendo como premissa que a falta de integração de dados é provocada pela falta de integração entre os sistemas estruturantes, podemos supor que uma solução imediata seria a reconstrução de todos os sistemas, a partir de um Modelo de Dados Corporativo único, garantindo assim a integração de todos os dados no âmbito do ciclo POF.

Entretanto o fato de existirem dezenas de sistemas estruturantes e dezenas de entidades governamentais responsáveis por eles, faz com que a reconstrução de todos esses sistemas seja uma tarefa hercúlea, onde o tempo gasto seja maior do que o razoável em vista da dinamicidade dos requisitos e dos gestores envolvidos. Além de levar décadas, ao final, a despeito do alto custo envolvido, os sistemas não atenderiam às necessidades de informação daquele momento e não estariam mais nos seus postos aqueles que os encomendaram.

Adicionalmente, a abordagem do Modelo de Dados Corporativo, preconizada pela Engenharia de Sistemas na década de 1970, aplica-se a uma Organização, não a um conjunto delas. Este Modelo não consegue resolver a questão da integração de dados no âmbito de um macroprocesso, há necessidade de um instrumento mais abrangente, necessita-se de um “macromodelo”.

Caracteriza-se a vantagem do MGD sobre o MCD onde, uma vez que se garanta a sua atualidade e o seu uso efetivo, novos sistemas e soluções de TI poderão ser demandados ao longo do tempo por diferentes órgãos e desenvolvidos por várias equipes, em diferentes plataformas, por diversos provedores, sem sacrifício da integração de dados, uma vez que todos esses atores atuarão de forma integrada, ao se guiarem pelo mesmo modelo de referência.

Toda a modelagem do MGD está calcada na Modelagem Essencial de Dados, que é uma metodologia elaborada com o objetivo de realizar um levantamento em alto nível das informações e dos processos de um escopo abrangente de negócios do governo num curto espaço de tempo.

 

Figura 1- ilustração de um diagrama (artefato) do Modelo Global de Dados

Figura 1- ilustração de um diagrama (artefato) do Modelo Global de Dados

Na próxima semana abordaremos as características desta modelagem, sua aplicação e sua evolução, com a incorporação da Visão de Negócios.

[Crédito da Imagem: Integração de Dados – ShutterStock]

Autor

Marcus Vinicius da Costa ingressou no Serpro em 1982, atuando nos segmentos de produção de serviços, gestão empresarial, marketing e assessoria à Alta Administração, tendo tido experiências também em gestão estratégica no Ministério da Fazenda e na Companhia Nacional de Abastecimento. É pós-graduado em Organização, Sistemas e Métodos e Análise e Projeto de Sistemas, possui MBA nas áreas de Estratégia Empresarial, pela Fundação Getúlio Vargas - FGV, e de Comunicação com o Mercado, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM. Coordenador do Projeto de Plataforma de Integração e Interoperabilidade de Serviços Públicos (P2IGov) no Serpro, foi titular da Superintendência de Integração de Dados e Processos, Unidade responsável pelo desenvolvimento dos modelos abordados neste artigo, participa da Coordenação-Geral e também como coordenador do GT 5 (Áreas de Integração para o Governo Eletrônico), na Arquitetura e-PING de Interoperabilidade para o Governo Brasileiro.

Marcus Vinicius da Costa

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