Semana passada iniciamos a análise da última dimensão envolvida no desafio de integração de dados e processos, a Dimensão Pessoas, enfatizando a importância de um Modelo de Governança e Gestão para à evolução e perenidade das informações. Hoje destacamos a importância das partes envolvidas – em seus diferentes papeis e responsabilidades – na alavancagem, continuidade, evolução e expansão do padrão, no sentido da efetiva construção de um Modelo Global de Dados Integrado e Estratégico de Governo.
Relevância Estratégica: O Momento de Alavancagem
Um dos pontos que mais se destaca hoje quando falamos em dinamicidade de cenários, evolução e manutenção da integridade, governança, gestão e analise do desempenho no Governo é a complexidade, refletida nos distintos portes, naturezas de atividades, públicos e contextos de atuação.
A cultura organizacional, assim como a gestão das organizações, modifica-se com o tempo, já que também sofre influência do ambiente externo e de mudanças na sociedade. Portanto, mudanças no cenário no Governo provocam mudanças sensíveis na cultura organizacional, que causam impactos diretos nos serviços prestados aos cidadãos.
Uma iniciativa como esta, de estruturação, aplicação e evolução de um padrão nacional, construído a partir de uma demanda de governo, que impacta positivamente também no mercado, garantindo o desenvolvimento de soluções de qualidade superior e maior economicidade, somente é possível quando estão incorporadas a agenda de patrocinadores que ocupem posição com elevado grau de autoridade e liderança na cadeia de comando da Administração Pública.
São patrocinadores não só com compreensão de seu papel na estrutura de governo, mas também pela certeza da responsabilidade e de seu compromisso com a evolução dos serviços públicos, do atendimento as necessidades dos cidadãos e da sociedade. São gestores públicos que detêm um visão de longo prazo e que, especificamente no caso dos padrões de integração de dados e processos, estão conscientes do conflito entre o urgente e o importante no atendimento as demandas por soluções de TI, atuam como lideranças, aproximando as partes e minimizando conflitos naturais de uma relação deste nível. São lideranças que não reivindicam autoria, mas sim se colocam a serviço de algo que poderá ser constantemente avaliado, revisitado e aprimorado.
O Modelo Global de Dados foi alavancado a partir de lideranças deste porte. Nascido das demandas do Comitê Interministerial do Macroprocesso de Planejamento, Orçamento e Finanças, contou com o patrocínio dos Secretários-Executivos dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, Orçamento e Gestão, seus adjuntos e Secretários de Estado, interessados em melhorar a qualidade das informações, tanto para tomada de decisões estratégicas quanto para uma maior integração entre os sistemas operativos que suportavam os processos sob responsabilidade das duas pastas; da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação, pelo Secretario, Diretora de Integração e Coordenadores Gerais, responsáveis por disciplinar a TI e interessados em promover a integração e a interoperabilidade dos serviços eletrônicos no âmbito do governo como um todo; e do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO), por seu Diretor Superintende, pelo Superintendente de Integração de Dados e Processos e seus Gerentes de Departamento e Superintendentes de Negócios e de Tecnologia, reponderáveis por prover o governo de soluções e sistemas estruturantes em TI e interessados em promover uma administração de dados racional, com elevado grau de reuso e redução da redundância de dados e, por consequência, economicidade, ganhos em escala e desenvolvimento de soluções mais eficientes.
A este grupo inicial de lideranças somaram-se, logo a seguir, a Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, com seu Secretário, Diretor da GesPública, Coordenador Geral de Organização e gerencias de suas respectivas equipes técnicas, responsáveis por promover a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos e o aumento da competitividade do País.
Mudanças no cenário do governo, entretanto, impactaram diretamente a iniciativa, que se viu restrita e passou a ser tratada exclusivamente no âmbito da e-PING, visto ser um padrão adotado pelo governo brasileiro para integração de dados e processos e utilizado por órgãos da administração federal, estadual e municipal. Com isto a aderência entre os padrões MGD e BPMN, e destes aos demais padrões, é garantida pela Arquitetura e-PING de Interoperabilidade, mais especificamente pelo GT 5 “Áreas de Integração para o Governo Eletrônico”, que estabelece a utilização ou construção de especificações técnicas para sustentar o intercâmbio de informações em áreas transversais da atuação governamental. Não há mais no governo, apesar da evolução crescente da demanda, órgão que possa prestar consultoria ou serviços para aplicação do padrão e, mais ainda, implementar um serviço de administração integrada de dados e processos para todos os órgãos da administração pública.
Por outro lado, entre as interessantes iniciativas adstritas no sentido da administração de dados, destaca-se o Banco Central do Brasil que, em fevereiro deste ano, implantou a Politica de Governança da Informação do BACEN1 e sua Curadoria que tem, entre outras funções, a tarefa de mediar e resolver conflitos técnicos na guarda e gestão de dados.
Mesmo que tal iniciativa esteja ligada ao fato do Banco ser uma autoridade disciplinadora e responsável pela condução das políticas monetária, cambial, de crédito, e de relações financeiras com o exterior, tal fato evidencia a relevância da questão e as ações administrativas que os gestores públicos estão adotando, buscando dotar suas organizações de uma efetiva e eficiente gestão e supervisão dos ativos de dados, possibilitando aos usuários de negócios dados de alta qualidade, facilmente acessíveis, consistentes e de forma aderente as politicas de segurança.
Foco de Atenção: A Continuidade, a Evolução e a Expansão
Como vimos ao longo do artigo, a medida em que avançam as demandas e iniciativas por integração de dados e processos, reforça-se a importância da gestão do conhecimento e da cultura colaborativa como requisitos fundamentais para geração de soluções, manutenção e evolução conhecimento sobre as demandas, os negócios – ou serviços – e informações.
Pesquisas de mercado mostram que lidar com o grande volume de informações, especialmente, com os dados não-estruturados, será cada vez mais uma obrigação das organizações nos próximos cinco anos.
Minimizar este impacto pode ser possível por meio de práticas estruturadas e sistêmicas, compartilhadas e passiveis de evolução a partir das contribuições oriundas de seus operadores, de forma menos burocrática e mais focada em processos colaborativos, que se baseiem no capital intelectual, ou seja, nas pessoas.
A importância das competências, dos conhecimentos e das atitudes, refletidas nas capacidades criativas e motivacionais, é caracterizada como fator alavancador, visto que são as pessoas que detém os conhecimentos mais valiosos sobre como atingir melhores resultados, como diagnosticar problemas e otimizar processos, enquanto a tecnologia de informação é considerada recurso de suporte nas operações e coadjuvante no processo de tomada de decisão, a medida em que é necessária a inteligência para determinar o resultado da análise das informações.
A maneira de aproveitar melhor o conhecimento das pessoas é a prática da gestão do conhecimento que, de forma bastante resumida, pode ser entendida como estimular e facilitar o compartilhamento, o uso e a geração do conhecimento.
Com este foco foi criado o curso “Modelo Global de Dados”, que tem por objetivo disseminar a metodologia e a notação que viabilizam a construção do MGD. Foram transpostos para este curso, em modalidade de ensino a distância, conhecimentos que permitem alinhar a visão dos diversos agentes, tornando-os capazes de conhecer e aplicar a Metodologia de Desenvolvimento da Modelagem Essencial para criação de seus Modelos Globais de Dados, com garantia de manutenção de sua integridade ao longo do uso, aplicando os princípios de seu Modelo de Governança e Gestão.
Hoje é possível contar que aproximadamente 700 pessoas, de diversos órgãos do governo e da sociedade civil, passaram por suas turmas ao longo de dois anos, tornando possível promover o uso intensivo e a expansão do padrão MGD, viabilizando a construção de uma visão compartilhada de dados e processos em alto nível, um Modelo Global de Dados Integrado e Estratégico de Governo.
Tendo a demanda e a capacidade técnica para atendimento a demanda supridas, recai sobre os gestores a responsabilidade por patrocinar e garantir a consolidação de iniciativas de governança e integração de dados e processos, visto que estamos falando, de uma forma mais ampla, de princípios da Governança Corporativa, de Arquitetura Empresarial.
Na próxima semana encerramos nosso artigo, apresentando uma iniciativa que, unindo as dimensões dados, processos e pessoas, pode ser entendida como uma referencia positiva do desafio de integração de dados e processos.
1 – Portaria BANCO CENTRAL No- 75.113, de 19 de fevereiro de 2013
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