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Efeito Kodak: empurrando os burocratas para a obsolescência

publicado por André Tamura

Figura - Efeito Kodak: empurrando os burocratas para a obsolescênciaO norte-americano Richard Thaler tem 72 anos mas é um sujeito inovador: ele conseguiu comprovar cientificamente como as pessoas tendem a simplificar as decisões financeiras em prol do próprio interesse de consumo. É basicamente o que justifica o fato de muita gente olhar apenas para o valor das prestações do carro novo e esquecer do custo total da compra. Ele estudou o fenômeno, mostrou que a economia funciona com base no comportamento humano e ganhou o Prêmio Nobel dessa área em 2017. Seu livro de maior sucesso chama-se Nudge (Empurrãozinho, em português).

Recentemente participei de um evento que não era a entrega da maior premiação da ciência mundial, mas certamente poderiam emergir dela diversos brasileiros indicados para quebrar o jejum nacional do título — que já dura mais de três décadas. Lá estavam funcionários públicos de diversos estados e palestrantes estrangeiros trocando experiências e compartilhando conhecimento sobre como transformar a gestão pública em algo mais barato, moderno e principalmente eficiente. Eles tinham em comum a insatisfação com o modelo vigente no país há séculos, em que a paquidérmica máquina demora para se mover, é cheia de engrenagens e consome muito combustível (leia-se dinheiro).

Foi uma semana inteira dedicada a repensar órgãos de governo e processos. Os insights comportamentais e a certeza de que a transformação digital implica em uma significativa mudança humana definiram a agenda do evento. Alguns dos cases apresentados são de dar inveja, como o do Laboratório de Políticas Públicas do Reino Unido: eles estudam o comportamento da população para produzir dados e usá-los no desenvolvimento de ações governamentais. Dessa forma, a administração torna-se dinâmica e se adapta à evolução natural das pessoas. Outro exemplo foi trazido pelo presidente da Agência de Seguridade Social da Bélgica, Frank Van Massenhove, que disse que “os governos têm que adotar rotinas de startups dentro dos seus órgãos”. Para ele, dar oportunidades para os servidores engajados os faz mais produtivos. Aliás, alguns países já economizam com a redução dos custos imobiliários, permitindo que os trabalhadores pagos pelo povo atuem de casa e sejam remunerados conforme o rendimento.

Essa capacidade de se reinventar, pivotar e se preocupar com os resultados é o que falta para que o Brasil deslanche. Sim, porque ainda é muito difícil dissociar a gestão pública da política e entender que, melhorando uma, estamos automaticamente contribuindo para aperfeiçoar a outra. A inovação já não é mais um projeto isolado de algumas pessoas: é a nova norma do serviço público. Esse comportamento tende a ser catalisado neste período em que há um desencantamento com a política, abrindo oportunidades para outras formas de se comportar.

O empreendedorismo será cada vez mais presente entre os servidores, e o lema será “inovar ou morrer”. Quem continuar querendo ser apenas um burocrata, terá o mesmo destino da outrora maior fábrica de produtos fotográficos do mundo, a Kodak. A marca se preocupou apenas em garantir o próprio negócio porque achava que tinha muito poder, e entendeu que fazer a mesma coisa de sempre com o auxílio dos computadores resolveria. Não deu certo, e a empresa desapareceu.

A você, servidor público que faz a diferença, meus sinceros parabéns.

Autor

André Tamura, empreendedor público e diretor executivo da WeGov

André Tamura

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