O assunto é tão antigo quanto a história da humanidade. Os poderosos sempre contrataram engenheiros para erguer seus palácios e construir suas armas de guerra. Que critério eles usavam?
Aqui tratamos de rede interna, mas obviamente este assunto poderia estar relacionado à compra de qualquer outro serviço especializado (qual serviço não é especializado?).
E a pergunta roda: como você escolheria? O mais barato? O primeiro que aparecer? O melhor? Alguma combinação dos anteriores?
As duas primeiras opções são objetivas. As demais são complexas e aparentemente subjetivas, se refletirmos um pouco. Como medir e decidir pela melhor oferta? Qual a melhor combinação de requisitos?
O governo tem esse abacaxi para descascar, vigiado pela pressão popular em prol da transparência. Os servidores públicos envolvidos no processo tem a responsabilidade de demonstrar que estão contratando a melhor opção.
O senso comum de que o serviço de menor preço é o mais barato pode ser uma armadilha. Aliás, frequentemente somos traídos pelo senso comum, que nos induz a dar respostas imediatas, as quais nos parecem óbvias, a certas perguntas. O professor Duncan Watts, pesquisador do Yahoo sobre redes sociais e comportamento coletivo e autor do livro “Tudo é Óbvio Desde que Você Saiba a Resposta”, prova que o senso comum e o conhecimento de história e fatos semelhantes ocorridos, nos fazem falsamente crer que entendemos um determinado comportamento humano.
Há um senso comum de que o menor preço é a forma mais barata de comprar e há também o conhecido ditado popular de que o barato sai caro. Afinal, onde está a verdade?
Segundo Aristóteles, a virtude está no meio termo. Baseado nisto, diríamos que devemos evitar comprar por valor muito baixo ou muito alto. Algum ponto entre esses dois extremos seria a melhor escolha. Bem, mas qual será o melhor critério para se chegar ao resultado ideal?
O governo brasileiro adotou o menor preço por processo recursivo de lances (ou seja, o pregão) como regra para comprar serviços de engenharia de rede interna, classificando-os como serviços comuns.
Sem entrar no mérito se serviços de TIC são serviços de engenharia ou o que diferencia o serviço comum do especializado, me parece que há um forte vetor cultural que levou Brasil e Estados Unidos a tomaram caminhos opostos na filosofia da compra: o governo brasileiro escolhe o fornecedor por processo recorrente, visando menor preço, com finalização aleatória (pregão eletrônico) e os Estados Unidos escolhe o fornecedor pela competência e depois negocia preço.
Como exemplo, no Brasil a IN-04, Instrução Normativa do Ministério do Planejamento, que dispõe sobre o processo de contratação de soluções de Tecnologia da Informação, recomenda a contratação por meio de pregão, preferencialmente eletrônico, justificando que há uma suposta padronização no mercado de Tecnologia da Informação. Não sei de onde tiraram essa ideia, mas minha experiência diz o oposto: a rede interna desenhada para atender cada caso é o melhor caminho para se chegar à solução de menor custo. É de arrepiar os cabelos de quem obteve o título de projetista CCDA ou CCDP da Cisco Systems ou leu “Top-Down Network Design” da professora e projetista de redes de comunicação de dados há mais de 30 anos, Priscilla Oppenheimer. Esses profissionais aprenderam que o projeto e a instalação da rede devem estar alinhados com o negócio do cliente. Se o entendimento preponderante for o de que toda rede é igual, então haverá um nivelamento por baixo, já que o critério é preço recursivo, consequentemente expurgando as melhores soluções. Aí sim, o barato pode sair caro.
Nos Estados Unidos, a Lei Federal 92-582, que regula a seleção de empresas de arquitetura e engenharia para prestação de serviços ao Governo Federal, diz que a empresa mais qualificada (highest qualified) deve ser inicialmente escolhida e, em seguida, o preço final deve ser negociado, razoável e justo. Caso não chegue a bom termo no preço, aí então chama a segunda mais qualificada e assim por diante.
Deve-se ter em mente que a capacitação tem um custo, assim como o tempo de resposta, a taxa de falha, a disponibilidade, para citar apenas alguns aspectos.
Sendo assim, vale refletir sobre o significado de “caro”, adotar um critério de escolha alinhado com o negócio, focar no objetivo e priorizar fornecedores competentes.
[Crédito da Imagem: Redes – ShutterStock]
Artigo publicado originalmente em: fabiomontoro.blogspot.com.br