Atualmente, o profissional que não tem um monte de siglas, certificações, MBA’s e outras coisas que pouca gente sabe o que significam, como se fossem sobrenome após o nome nas redes sociais profissionais, deve estar se sentindo um verdadeiro José da Silva (nada contra os José’s muito menos contra os Silva), mas a sensação de se sentir desconhecido por não ter um “nome de rei” (só eles tinham nomes tão gigantescos), nas redes sociais pode ficar deprimido.
A moda já saltou das telas e invadiu a assinatura corporativa. Quantos e-mails recebemos, diariamente, em que não é possível determinar onde termina o nome e começam as siglas? Imagine o tamanho que ficará o endereço de e-mail caso a moda salte para os endereços eletrônicos?
Além de fantástico, hoje é quase obrigatório ter profissionais com um sobrenome tão extenso contratados nas corporações. Curioso é saber quanto tempo, de fato, sobra para eles se dedicarem ao trabalho, porque o tempo que se gasta estudando, fazendo provas e atualizando este monte de assinaturas com certeza não é pequeno.
A cada dia está mais difícil conseguir uma certificação de alto nível, um MBA ou um mestrado. Multiplicando o número de títulos pelo tempo de estudo (em média quatro horas por dia por, no mínimo, quatro meses, apenas para as certificações), e somarmos todas as certificações conseguidas ou renovadas somente no último ano, fica fácil concluir que tem muito profissional que não trabalha faz muito tempo.
Isso não acontece por acaso. Se de um lado tem um monte de gente correndo atrás de títulos, por outro temos, a cada dia, mais empresas exigindo, para contratação de fornecedores, uma série infinita de certificações.
Aí surge a dúvida: se para conseguir as certificações os profissionais passam mais tempo estudando do que trabalhando, quem irá entregar o projeto que só foi possível ganhar por ter uma verdadeira constelação de certificações? Com certeza não serão os reis das certificações!
Em uma reunião onde o cliente apresenta suas necessidades, chega a ser extasiante escutar os profissionais com sobrenomes quilométricos defender seus conhecimentos. A sensação de não conhecer nada invade o ambiente, eles conhecem tudo, tem todos os books de todas as melhores práticas na ponta da língua e quando questionados sobre um problema ou situação eles, de pronto, citam um autor com nome impronunciável para definir a solução do problema. Chega a ser constrangedor.
Outro momento que conseguimos identificar a presença destes profissionais é nas reuniões de kick off com o cliente: eles são apresentados como os grandes craques que liderarão os profissionais que conduzirão o projeto. O interessante é que, passados poucos dias (ou, em alguns casos, algumas horas), nunca mais são vistos no cliente. É possível reencontrá-los quando o projeto não está indo bem e o cliente reclama que estão pagando sênior e recebendo júnior. Aí eles aparecem do nada, fazem umas duas reuniões para acalmar o cliente e logo voltam a seguir sua rotina de estudar, fazer provas, viajar para apresentações e venda dos produtos ou serviços da empresa.
Não há nenhum problema de ser um profissional assim. Pelo contrário, são admiráveis. O que incomoda é a hipocrisia corporativa que tomou conta do mercado. A indústria da certificação é gigantesca e altamente lucrativa, e assim continuará enquanto durar a hipocrisia da solicitação de profissionais certificados pelos contratantes. A realidade dos projetos é que pouquíssimas empresas vão validar se os profissionais que solicitaram nos editais estão realmente alocados no projeto.
Sabendo disso, as empresas que estão entregando os projetos, desalocam, o mais rápido possível, o profissional cheio de certificações, até porque ele custa muito caro e sua permanência por muito tempo acabará com a lucratividade.
A pergunta é: qual o equilíbrio para situações como estas? Ou melhor, será que é preciso ter equilíbrio?
A tendência é de piora. Mais certificações, mais solicitações de fornecedores com profissionais com muita qualificação, mais fornecedores entregando projetos com profissionais com qualificações muito menores do que vendeu: resultado serviços com baixa qualidade.
O segredo do sucesso é saber como o mercado funciona e continuar a estudar, por mais que o mercado possa parecer (e ser) hipócrita é assim que ele se comporta: o caminho do profissional é continuar a se certificar, aprender cada dia mais, para aumentar sempre a sua empregabilidade.
O grande diferencial para os profissionais é saber aplicar, na prática, o que foi aprendido nos bancos das escolas, entender que muito das melhores práticas nem sempre são aplicáveis exatamente da maneira que estão escritas. Assim aprende-se, de fato, a utilizar todo conhecimento adquirido, transformando teoria em experiência, podendo tirar o melhor dos dois mundos (o acadêmico e o profissional).
Quando este dia chegar, os profissionais aliarão a experiência ao conhecimento e deixarão de ter a necessidade de ter seus sobrenomes acompanhados de um monte de sopa de letrinhas.
Parabéns Alberto pela matéria.
Muito boa.
Alberto,
Excelente artigo! Concordo com os pontos abordados, possuo 10 anos de experiência no ramo de TI e há poucos meses conquistei minha primeira certificação. E, sinceramente, acho que a conquistei no momento certo, onde consigo alinhar a teoria com a prática aplicando e customizando à realidade de cada projeto ou empresa na qual esteja atuando.
Conheço alguns profissionais com assinaturas de “rei”, são tantas siglas no e-mail que ultrapassa o nome da pessoa, e na prática todo esse conhecimento se perde, eles simplesmente não conseguem resolver os conflitos, conduzir suas equipes e executar o projeto. Em contrapartida, conheço tantos outros profissionais admiráveis que se quer possuem uma certificação, e conduzem seus projetos, equipes e atividades com maestria.
Constatamos com isso que conforme citado em seu artigo, certificações são necessárias para garantir a empregabilidade, porque nem sempre significa que o profissional sabe aplicar na realidade das suas atribuições todo o conceito que adquiriu.
É triste, mas, o fato é que essa hipocrisia só aumenta a cada edital liberado no mercado.
Acredito que o conhecimento alinhado à experiência é o norte para todos os profissionais.
Tenho 16 anos de experiência correlacionando áreas diversas da TI, mas apenas nos últimos 5 anos comecei a me certificar. Hoje, tenho 15 certificações, certificações essas que me trouxeram credibilidade profissional e melhores oportunidades de emprego.
Então ressalto a importância das certificações para atestar um conhecimento/experiência frente a sua representatividade no mercado de trabalho.
A certificação não deve ser encarada como um título de nobreza, recebido de algum monarca pomposo que não ‘governa’ seu reino (as melhores práticas), mas sim com uma medalha, alcançada após um grande esforço de treinamentos e após uma provação(experiência), um teste (o exame), de que você realmente atingiu aquele grau de excelência.
Fica o sugestão para aqueles que desejam se tornar profissionais realmente capacitados.
Assunto bastante intrigante. Acredito em experiência, memorização e conhecimento. Na vida, desde que o mundo é mundo, é isto o que vale. No entanto, creio que atualmente existe uma conspiração para que se adote um modelo de comprovação de conhecimento, a tal diferença entre tácito e explicito.
Se por uma lado o contratante faz uma seleção mais linear sobre o corolário de certificações, por outro lado corre o risco de contratar alguém que não consegue transferir a teoria para a prática. Existem forças atuando sobre. Os institutos fazem revisões constantes nos assuntos e também lançam novos modelos de excelência. Se você compete em um mercado que não enxerga mais do que a certificação como divisor de aguas para uma contratação, certamente aplicará seu tempo em colecionar certificados para aumentar a sua competitividade e obviamente os institutos e organismos credenciadores vão lhe agradecer bastante.
Porém, em uma análise mais rasteira, tipo pé no chão, surge uma pergunta. Nos últimos 10 anos qual a contribuição das certificações para a confirmação de um resultados de entrega de valor ao negócio? Isto é o que interessa.
Empresas vivem de resultados e não de certificações. Não quero com isso crucificar as certificações mas acredito que que exista atualmente uma visão difusa com relação ao valor de contribuição de uma certificação e o valor da experiência de um profissional em uma determinada área de conhecimento, requisitada por uma necessidade da empresa. O que vale mais?