A cada ano um mar de metodologias, novos processos e certificações inundam o mercado, ferramentas SaaS para controle de projeto, trazem mais funcionalidades e podem ser acessadas de qualquer lugar do mundo, tudo é controlado, relatórios de todos os tipos e para o mais variado gosto são gerados a todo momento, porém quinze dias antes do “go live” tudo é jogado no lixo e a correria desenfreada acontece.
Os mais céticos vão dizer que é coisa de brasileiro, para quem nunca trabalhou em um projeto global pode ter essa impressão, porém para quem já trabalhou, vai perceber que a correria poucas semanas antes do “go live” não é uma característica dos sangues latinos e sim da atividade de construir algo que nunca foi feito antes.
Escopo, cronograma e equipe, o que afinal é o responsável pela correria?
Analisando as necropsias realizadas nos projetos, percebe-se que o nível de expectativa de cada nível hierárquico envolvido nos projetos tem grande responsabilidade pela correria, a começar do dia da venda, quem está vendendo, diz que conhece bem o que será feito e estima a entrega no prazo que o comprador quer ouvir, por outro lado quem está comprando, na maioria das vezes, desconhece a burocracia interna da corporação que trabalha e acredita que vai conseguir mover o paquiderme que é a sua empresa como se ela fosse um felino.
A constituição dos times e o que o americano chama de engagement é o próximo sintoma, acredita-se que as empresas estarão focadas para atender os prazos firmados em contrato, porém quanto maiores são as empresas envolvidas, mais falsa é a afirmação, a verdade é que o mundo não gira em torno do projeto, muito menos as pessoas envolvidas tem apenas o projeto para se preocupar, o resultado é que os processos do dia a dia irão abocanhar um tempo importante na construção do projeto.
O tempo passa, os processos aumentam e como o muro do “go live” parece distante, todos os controles e check points são tratados com toda burocracia possível, afinal ninguém sabe direito o que está fazendo, mas todo mundo sabe muito bem como reportar cada atividade descrita na infinidade de linhas do planejamento do projeto, entregas são postergadas e os replanejamentos são apontados como se fosse possível realizar o que não foi feito simplesmente prometendo colocar um exército de pessoas fazendo hora extra.
Se nessa fase fosse possível tirar uma foto de cada área envolvida no projeto, o conjunto da imagem estaria muito distante, da foto apresentada no power point do dia do kick off do projeto.
O sino toca, faltam 15 dias e muito do que deveria ser feito está distante de estar pronto, os testes funcionais não começaram, a infra precisa de alterações e o cumpra-se vem “top down”, joga-se para cima os processos, as horas extras explodem e a documentação passa a ser uma burocracia desnecessária que só atrapalha, agora tudo pode, as metodologias de desenvolvimento vão para o espaço e entra em ação a eterna metodologia da tentativa e erro, assina-se carta de risco, promete-se correções em voo e a cada dia a parede do “go live” se aproxima.
Chegou o grande dia, o dia da virada, tudo vai para a produção, testes finalizados e a conclusão é que o “go” virou “no go”, reuniões começam, culpados são apontados e em alguns casos até algumas cabeças serão decapitadas, o fato é que o que era para ser feito não foi e o que provavelmente irá para a produção, está muito distante do que foi comprado, novos prazos serão dados, novos custos serão estimados e a conclusão é que mais uma vez mesmo com todas as metodologias e ferramentas os projetos continuam sendo bem vendidos, mas mal planejados e mal executados.