Em uma de minhas aulas para uma turma de Pós Graduação em Gestão de Projetos, uma aluna com seis meses de gestação, após se desculpar pela interrupção da aula, me fez a seguinte pergunta:
– Professor, se o senhor pudesse dar um conselho sobre o futuro profissional para o meu filho que nascerá daqui a alguns meses, qual a área de TI que ele deveria ingressar no futuro? O senhor acha que ele, para se destacar no mercado, deveria procurar uma certificação para valorizar o seu perfil profissional?
Antes de responder à sua pergunta, pedi para que ela me explicasse qual era o seu ponto de vista sobre o mercado de Tecnologia hoje, e não me surpreendeu identificar em sua resposta comportamentos típicos de países em desenvolvimento como o nosso, que ainda traz enraizado na cultura organizacional vícios administrativos incompatíveis com as modernas técnicas de administração.
Minha aluna se mostrou muito insegura em relação ao futuro por não ver, na prática, a eficácia do que é pregado nos cursos universitários, como tampouco na conduta profissional daqueles que alcançaram as certificações mais importantes e mais valorizadas pelo mercado, haja vista que os profissionais, por mais que aprendam o que é certo e quais as formas corretas de trabalharem, quando estão no ambiente corporativo simplesmente se esquecem do que foi aprendido, ignorando todos os preceitos normativos, legais e éticos de conduta para se entregarem ao imediatismo exagerado e às práticas mais absurdas impostas pelas empresas.
Tal fato lembrou-me que, realmente, no ambiente empresarial, principalmente no ambiente de Gestão de Projetos, todos os ensinamentos amplamente divulgados pelo PMI, em especial os ministrados através do Guia PMBOK e das metodologias adotadas por especialistas, como Rita Mulcahy, são simplesmente ignorados, sendo que nas empresas o que se nota é a prática dos mesmos (péssimos) hábitos de trabalho, a saber:
- Cronogramas irrealistas;
- Falta de um planejamento adequado;
- Prazos extremamente agressivos;
- Área comercial e área técnica completamente distantes uma da outra;
- Pressão por vender uma solução inadequada;
- Entrega de itens não solicitados;
- Escopo indefinido ou ignorado e etc.
Atuo na área de tecnologia há mais de vinte anos e sempre notei a existência dos problemas acima como parte integrante do dia a dia das organizações.
Mesmo sendo direcionamentos Top Down, acredito que a ética e a lisura deva prevalecer em qualquer relação, principalmente nas relações de trabalho, pois do contrário corremos o risco de mancharmos a imagem da empresa (e a nossa também) por não sabermos administrar corretamente os vícios anteriormente apresentados.
No mercado atual não há mais espaço para ostentar um título pura e simplesmente porque ele confere ao seu possuidor status de um profissional diferenciado. Longe disso. Àqueles que insistem em perpetuar práticas de trabalho condenáveis eu diria que os seus dias estão contados, pois o mercado, que hoje valoriza as conquistas acadêmicas e de especialização (e deve valorizar sempre, pois são conquistas importantes na vida de todo profissional), ou seja, os títulos conquistados pelos profissionais, será o mesmo mercado que colocará estes conhecimentos à prova, e não tenham dúvidas que a evolução e o amadurecimento deste mercado não tardará a exigir muito mais do que os títulos que ilustram a carreira de muitos profissionais.
Em relação à pergunta de minha aluna, expliquei que tecnologias como Virtualização, Cloud Computing e Infra Estrutura “Verde” ditarão os rumos da tecnologia no futuro, áreas que penso serem realmente promissoras. Quanto ao seu desapontamento sobre o que é ensinado e o que é praticado pelos profissionais, eu disse à ela que, independentemente do diploma ou da certificação que seu filho alcance, o mais importante é que ele seja ético, transparente e correto em sua conduta pessoal e profissional, aprendizado este que pode ser iniciado antes mesmo da Cegonha realizar a entrega mais importante de sua vida.