“Repara bem no que não digo. ”
Paulo Leminski
Guru digital da Campanha de Obama em 2012, Michael Slaby e sua equipe passaram rapidamente ao centro das atenções da indústria. Ficou claro que a estratégia inovadora baseada extensamente em Big Data e análise de dados foi um fator essencial para a vitória. Aliás, Slaby é um dos palestrantes da CIAB-Febraban 2013.
Sua recomendação para todos os tipos de empresas e empreendimentos é “escute os dados”. Simples assim. Os dados lhe dirão quem é seu cliente e muito do que ele deseja. Os dados lhe dirão quais sãos os argumentos dos seus detratores nas redes sociais. Os dados lhe dirão muito sobre o que você é, e por consequência, o que você deve mudar para produzir uma versão melhor de si mesmo. Isso está cheirando a conversa de psicólogo? É, passa bem perto. E passa perto porque nem tudo lhe será dito diretamente. É preciso um trabalho arrojado de investigação, cruzamento e validação para identificar padrões e tendências. É reparar no que não é dito como preconiza o haikai do Leminsky.
Quem está disposto a escutar os dados tem que estar disposto a ouvir coisas desagradáveis e, mais ainda, tem que ter capacidade para lidar com decepções e retornar à estaca zero se preciso for. É uma zona onde orgulho e a vaidade têm que ceder espaço à racionalidade. “Onde errei e onde erramos” não são atos de contrição, mas pontos-chave para reorientar os rumos.
Já experimentei alguns dissabores apresentado resultados desfavoráveis e vários pontos de alerta elencados em levantamentos para ouvir “deixa isso de lado e me mostra o que tá bom”. O tipo de coisa que logo me remete a um daqueles escândalos da República onde o ex-ministro foi gravado afirmado que “esconde o que é ruim e fatura o que é bom “. Essa mentalidade de autoproteção e sobrevivência político-corporativa pode ser eficaz para computar bônus, benefícios e garantias de aposentadorias extras. Por outro, é a sentença de morte de qualquer projeto que inclua análise de dados, Big Data ou não. E a corporação continuará surda, mesmo tendo pago para escutar alguma coisa. Seria melhor então jogar o dinheiro direto para as contas do bônus e de benefícios. Ficaria mais barato.
As corporações estão empenhadas em não escutar e isso me lembra a palestra do palhaço Cláudio Thebas cujo tema é “fala que eu (não) te escuto”. Sem ciência, mas com intuição aguçada, Cláudio separa ouvir de escutar dizendo que o “escutar implica em você se dedicar àquele som, implica em você atribuir significado ao que você escutou”, enquanto ouvir seria apenas deixar um som passar pelo cérebro mecanicamente.
Você está preparado para qual dos dois?
A propósito, o ministro caiu.