Cloudnomics

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Muitas vezes discutimos tendências tecnológicas e as transformações que elas provocam. Debatemos as complexidades tecnológicas envolvidas e estimamos seu ritmo de adoção pelo mercado. Mas a maioria dos artigos técnicos esquece um fator primordial: a força impulsionadora da adoção de qualquer mudança tecnológica é o fator econômico.

Ao olhar o futuro da TI podemos aprender algo com seu passado e como as organizações e a sociedade investiram nestas tecnologias. Na época do mainframe, poucas empresas tinham acesso à computação (os computadores eram muito caros) e as expectativas delas era que TI permitisse automatizar seus processos de negócios, tonando-os mais rápidos e baratos. Posteriormente, vimos o surgimento do modelo distribuído, cliente-servidor, que barateou o custo de aquisição da tecnologia, permitindo criar soluções mais voltadas para gerar agilidade e funcionalidade demandadas por departmentos especificos. Entretanto, a rápida proliferação de sistemas diferentes criou uma demanda de integração que culminou no surgimentos dos ERPs.

A situação hoje está bem diferente de anos atrás. A Internet já faz parte do nosso cotidiano e TI está entranhada nos negócios. As empresas começam a não se contentar mais em apenas reduzir custos. Isto é o “business as usual”, obrigação de qualquer gestor que se preze. TI já fez muito neste sentido, como criar shared-services center e consolidar seus data centers. Agora TI tem a oportunidade de ser olhada pela ótica de geração de receitas e como plataforma de criação de novos negócios e apoio a estratégias de crescimento e não apenas uma área operacional.
Ver TI como geradora de receita é um “mind-set” diferente, pois sempre TI foi vista como apoiadora do negócio, para este sim, gerar novas receitas. Agora TI pode ser vista ela mesmo como fonte geradora de receita. A adoção de cloud computing permite colocar TI como centro de geração de receita e lucros. Podemos começar a falar no termo cloudnomics… Cloudnomics pode ser traduzido como um novo modelo econômico para TI, onde métricas como TCO perdem bastante de sua importância e TI começa a ser analisado pela ótica de um business case. Na verdade, qualquer negócio para ir para frente deve gerar receita e lucratividade! TI pode e deverá passar a ser visto como negócio e como tal passará a ter metas de receita!

Como cloud entra neste processo? Cloud retira dos ombros da TI muitas das atividades mundanas em que ela gasta tempo hoje, como upgrade de hardware e software, atividades de suporte básico e assim por diante. Não é incomum vermos CIOs reclamarem que cerca de 80% dos seus gastos e energia são consumidos com a manutenção da operação do dia a dia e apenas 20% com inovações.

Com nuvens públicas, TI não precisa mais instalar, configurar e atualizar servidores físicos, e com os processos padronizados e automatizados que caracterizam um ambiente em nuvem, o número de técnicos dedicados a suporte diminui muito. TI pode se concentrar em inovação e geração de valor para a empresa. Os modelos de custos também se modificam com cloud e seu conceito de elasticidade. Paga-se pelo uso dos recursos consumidos, o que pode ser diretamente ligado à geração de receita: maior uso de TI mais geração de receita…É um modelo econômico que muda as regras do jogo. Custa o mesmo alugar um servidor por 1.000 horas que 1.000 servidores por uma hora.

Um exemplo prático de como o modelo atual de TI limita a geração de receitas significativamente: explorar oportunidades de novos negócios que tenham vida curta. No modelo atual não é justificavel economicamente adquirir uma plataforma tecnológica e colocá-la em produção (com altos investimentos up-front) para ela operar por apenas alguns meses, aproveitando uma oportunidade de negócio única. A conta, provavelmente, não fechará. Com cloud isto é perfeitamente possível. Um exemplo simplista, mas que mostra a ideia: produção de uma animação, onde é demandada uma imensa capacidade computacional na renderização final do filme, muito mais que soma de todos os meses anteriores de produção e que após o fechamento dispensa todos os computadores… Com cloud os computadores são alocados a medida que são necessários e não existe isto de desligar computadores… Eles são do provedor que os usará para outros clientes. O provedor, por sua vez, também usufrui da economia de escala, mantendo milhares de servidores a serem compartilhados por centenas ou milhares de clientes.

A mudança conceitual é muito maior que a mudança tecnológica. Surge o CIO empreendedor, ligado diretamente ao CEO. Um perfil muito menos técnico e muito mais voltado a negócios e empreendedorismo. Aliás, uma sugestão de MBA poderia ser “Empreendedorismo em TI”…

Entre as mudanças estruturais para TI vemos de início a de uma organização voltada para apoiar os demais setores da empresa para um setor gerador de receita e a transformação de uma organização centrada em atividades de criação e suporte de sistemas e capacidade computacional, para uma organização voltada a criar uma plataforma computacional onde novos negócios da empresa serão gerados. A escolha dos aplicativos e consequente utlização poderá ser deslocada para os próprios usuários. O fenômeno do “shadow IT” futuramente deixará de ser combatida a ferro e fogo por TI para ser incentivada. O “self-provisioning” por parte dos usuários deverá ser política da nova TI. Observo aqui que este processo não é simplesmente TI deixar de lado os usuários, mas de forma pró-ativa desenhar uma política que permita os usuários selecionarem suas próprias aplicações, sejam elas adquiridas externamente ou desenvolvidas dentro de casa, como no modelo de App Store.

Esta nova TI poderá atuar como incubadora de start-ups de negócios dentro da própria empresa. Hoje criar uma start-up demanda um elevado investimento up-front de TI e uma geração de receita imprevisível. O risco é muito grande. Com cloud, os riscos do negócio são minimizados. Sugiro uma leitura sobre o case Animoto, que mostra como um ambiente de nuvem permite expandir 100 vezes a capacidade computacional em questão de dias. É um post de 2008, mas ainda bem atual.

Enfim, TI ser uma unidade de negócios é simples de escrever, mas difícil de colocar em prática. Claro, não é algo que acontecerá de um dia para o outro, mas um processo que irá acontecer ao longo dos próximos anos. Mas, podendo começar hoje mesmo…
A ideia do cloudnomics surgiu da leitura do paper “Identification of a company’s suitability for the adoption of cloud computing and modelling its corresponding Return on Investment”, de dois pesquisadores indianos, Subhas Chandra Misra e Arka Mondal, acessável em . Eles mostram inclusive uma fórmula de ROI focada em cloud, alternativa à fórmula tradicional. A leitura vale a pena.

Cezar Taurionhttp://www.litterisconsulting.com.br/
Cezar Taurion é head de Digital Transformation da Kick Ventures e autor de nove livros sobre Transformação Digital, Inovação, Open Source, Cloud Computing e Big Data.

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