Carreira

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Carreira: Contra a mediocridade, força de vontade!

publicado por Israel Bovolini Jr

Já repararam no que acontece com nossa profissão? Já faz algum tempo ando vendo anúncios de trabalho – sempre é bom se manter atualizado com o mercado -, e tenho me deparado com uma série de anúncios absurdos, que seguem mais ou menos a seguinte fórmula:

<Nome da Vaga> – normalmente é de um cargo mais inicial, digamos Analista Junior

<Texto do anúncio>

Nós, da consultoria XPTO, com mais de 500 anos de tradição, a maior consultoria da Terra, Marte e Júpiter, com mais de 6 bilhões de funcionários, que possui os selos ABCD, EFGH, LMNOP Nível 5, CMCD Platinum with Diamonds and Adamantium Partner, ISO de 1 ao 50000, estamos contratando:

ANALISTA DE SISTEMAS JUNIOR <sempre a vaga está em destaque>

Para atuar na região X, em um cliente multinacional (todos são?) do segmento de coleta de ovos de ornitorrinco, e oferecemos:

  • Vale Transporte
  • Vale Refeição
  • Seguro de Vida
  • Assistência Médica
  • Participação nos lucros
  • Estacionamento
  • Harém de odaliscas

Este Analista irá atuar alocado no cliente, e deve possuir o seguinte perfil:

  • Pós-doutorado Completo em Administração, Ciências da Computação, Educação Física, Gastronomia e Design – todos requeridos
  • PhD em Literatura Francesa do Século 19
  • Experiência em coleta de ovos onsite, preparação de omelete e reciclagem de cascas
  • Fruência em English, Español, Français und Deutsch
  • Certificações <coloque o alfabeto inteiro aqui>
  • Liderança
  • Organização
  • Dança
  • Expressão Corporal
  • Saber trabalhar sob pressão

Forma de contratação: CLT Cotas + PPR + Flex com uma parte PJ (com e sem nota, empresa LTDA pra cima)

Valor/hora: R$5,00 com horas fechadas

Contato: celessao_xpto@hotmail.com, mencionando no assunto o código Analista Junior WDF|SDFRERTY23566211

OBS: Currículos fora do perfil não serão considerados

Revoltante, não? Trabalhar com a área de TI não é, nunca foi e nunca será uma tarefa fácil. Requer talento, concentração, LÓGICA, disposição, flexibilidade e muitos talentos que não são encontrados em qualquer esquina. Por que, então, anúncios assim recebem sempre resposta?

Eu respondo: Porque falta um órgão regulador na nossa profissão. Médicos têm o CRM, Engenheiros têm o CREA, Fonoaudiólogos têm o CRFA, e nós o que temos? NADA. Na melhor das hipóteses, um sindicato. Uau.

Um órgão regulador iria impedir que o José Manuel que comprou o livro “Aprenda FORTRAN em 6 minutos” pudesse se chamar de Analista de Sistemas e mandar um currículo pra um anúncio como esse acima, e a consultoria, cumprindo seu papel, o contrataria.

Entenda bem, não tenho absolutamente nada contra quem aprendeu sozinho. Aliás, parabéns pela força de vontade. Mas para você se considerar um Analista de Sistemas você deve ter, acima de tudo, EXPERIÊNCIA. Citando Velozes e Furiosos, “você não entra no ringue pra lutar com Muhammad Ali porque você acha que sabe boxe”. Tecnologia não é para os fracos de vontade, é um ramo que, mais do que todos os outros, exige atualização e persistência constante. A briga é acirrada, porque todos os dias alguns desavisados vêem na banca de jornal “Seja um Analista de Sistemas em 2 horas!”, compram a revista, que vem com alguns modelos prontos, decoram os modelos e acham que já podem encarar o mercado. Desculpe, mas não é bem assim. Em NENHUMA profissão você começa com altas responsabilidades, o crescimento deve ser sempre gradativo. E esses mesmos desavisados engordam as fileiras de consultorias genéricas que, exercendo seu papel principal – lucrar -, inundam o cliente com profissionais de nível mediano e cobram por profissionais de nível mestre.

Tenho pra mim que o que falta na maioria dos profissionais de TI é mesmo amor-próprio. Se tivéssemos idéia do real valor que representamos, não nos sujeitaríamos a permitir que nossa profissão não seja regulamentada – ou pelo menos não responderíamos a anúncios como esse. Sei que alguns vão dizer “quero ver negar emprego na hora da necessidade”. Meus parabéns, você faz parte da massa de “profissionais” medianos. Quem é realmente bom e tem força de vontade nunca fica parado em um mercado superaquecido como esse. Se você não consegue emprego, vá estudar criação de sites, faça velas, dê um jeito! Os grandes de TI começaram em garagens, por que você também não pode começar assim?

Sempre vejo anúncios orgulhosos de empresas ostentando o cobiçado selo “Great Place to Work”. Já tive o prazer de trabalhar para empresas com esse selo, e posso garantir: na maior parte dos casos, é real. As empresas são ótimas para trabalhar. Mas já vi uma empresa oferecendo uma vaga ostentando em seu anúncio “participando do ranking (em fonte 3 ou 4) GREAT PLACE TO WORK (em fonte 96)”. Por que não se cria o selo “Worst Place to Work”? Aliado à regulamentação da profissão, isso impediria absurdos como os que vemos hoje em dia.

Sei que posso ser mal interpretado, posso parecer amargo em relação ao mercado, mas desafio qualquer bom profissional a comentar que nunca viu um absurdo desses. Meu intuito com este texto não é denegrir a imagem de pessoas, empresas ou qualquer outra coisa, antes é de levantar o moral das pessoas que o lêem, para que sintam orgulho do que fazem, e não se deixem levar pela falsa idéia de que o mercado está saturado. As estatísticas dizem que existe lugar para todos – desde que você seja qualificado. E se não for, tenha a garra de correr atrás do que você ainda não conhece.

E, por favor, vamos nos mobilizar pela regulamentação.

 

Autor

Trabalho na área de tecnologia há 12 anos, tendo sempre um perfil generalista, atuando desde o levantamento de requisitos, passando por análise de sistemas, desenvolvimento, implantação e fazendo acompanhamento pós-venda. Atualmente me dedico à liderança e coordenação de equipes de desenvolvimento, procurando sempre extrair o máximo de cada um e aplicando seus talentos para que todos saiam satisfeitos. Acredito que não exista um profissional cujos talentos não possam ser aproveitados em algum aspecto de um projeto, basta saber estimulá-lo a isso. LinkedIn: http://br.linkedin.com/in/ibovolini

Israel Bovolini Jr

Comentários

5 Comments

  • Você realmente acha que ‘José Manuel que comprou o livro “Aprenda FORTRAN em 6 minutos”’ iria ser contratado para essa vaga e que uma regulamentação iria resolver alguma coisa?
    Universidade não traz experiência, sinto muito. A quantidade de gente incompetente que as universidades têm “cuspido” no mercado está chegando a níveis alarmantes. O que é ainda pior, pessoas com 10, 12 anos de experiência, mas que não se formaram ou formaram-se em outras áreas, são ignoradas. Um bom profissional é fruto de suas experiências e as empresas devem considerar isso na hora da contratação, inclusive, aplicando testes. Isso é comum em outros países. Na empresa onde trabalho, ninguém entra sem passar por testes e um rigoroso processo de seleção. Não têm diploma de computação, mas é bom? É contratado sem problemas.
    Sou totalmente contra a criação de algum tipo de conselho para essa área. Da maneira como eu vejo, isso só ajudaria os profissionais incompetentes através da reserva de mercado. Não me leve a mal, não questiono sua competência, mas questiono a de muita gente graduada.

    • Mas a própria criação do conselho, na minha opinião, forçaria os profissionais formados a sair da faculdade com mais qualificação. Por exemplo. Contadores precisam (precisavam) prestar provas para ter o CRC. No mínimo, apresentar o currículo escolar. O mesmo acontece na OAB. Obviamente que a experiência é INDISPENSÁVEL como o próprio texto citou, mas se a formação não é importante, então que estes cursos não sejam mais ofertados nas Universidades! Mas penso sim, que a qualificação, tanto dos profissionais, quanto das Universidades, como a regulamentação da profissão, colocariam um pouco mais de ordem no mercado de TI.

    • “Mas a própria criação do conselho, na minha opinião, forçaria os profissionais formados a sair da faculdade com mais qualificação.”

      Não, não forçaria. Essas provas não fazem com que todos os advogados e contadores sejam competentes. Eles apenas decoraram mais antes das provas.
      O problema real não está na falta de um conselho, mas na baixa qualidade do ensino no Brasil, especialmente o ensino de base. Um conselho não iria melhorar a qualidade dos cursos.

      Minha visão é bastante simples: sente-se prejudicado porque um zé ninguém aprendeu na internet e tem um salário melhor que o seu? ESFORCE-SE PARA SER MELHOR. Quer funcionários melhores na sua empresa? SEJA MAIS CRITERIOSO. Não tem conselho que vá resolver essas coisas pra você

    • “Minha visão é bastante simples: sente-se prejudicado porque um zé ninguém aprendeu na internet e tem um salário melhor que o seu?”

      Não. Não me sinto. O mercado já está se encarregando de fazer esta seleção, barrando quem não tem formação e/ou experiência e qualificação.
      E nem chegaria ao ponto de chamar de ‘zé ninguém’ quem aprendeu utilizando a Internet. A iniciativa de aprender, por si só, já deve ser louvada, e não depreciada.

      A criação de um conselho regularia a profissão.
      Quanto a questões de ensino de base, bem, neste caso, o problema é mais genérico. Não atinge apenas os profissionais de TI.

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