Em um destes almoços de negócios surgiu uma conversa interessante. A pergunta feita foi, olhando alguns anos à frente, que tecnologias estarão “quentes” em 2020?
Bem, claro que não houve concordância geral, mas minha opinião foi que além da consolidação (ou seja, vão ser lugar comum) das quatro ondas tecnológicas que estamos vivenciando hoje, cloud, analytics/Big data, mobile e social, eu prestaria muita atenção a três outras que ainda estão abaixo da tela do radar da maioria dos executivos: Internet das coisas, impressoras 3D e computação cognitiva.
A Internet das coisas é o crescente numero de objetos (ou coisas) que estão se conectando à Internet. O interesse está cada vez maior (uma pesquisa com o termo “internet of things” no Google Trends mostra isso claramente) e vemos que, embora com focos diferentes, muitas das grandes empresas de tecnologia estão criando iniciativas pesadas na área. Alguns exemplos são o Smarter Planet da IBM, a “Internet of Everything” da Cisco, a “ Industrial Internet” da GE, e mais recentemente o anuncio da Microsoft entrando neste campo. É um mercado de grande potencial. Segundo o Gartner em 2020 deveremos ter mais de 26 bilhões de dispositivos (excluindo-se da lista smartphones, tablets e celulares) na Internet das Coisas, que devem girar quase 2 trilhões de dólares de valor econômico na economia mundial, em tecnologias e, principalmente, serviços. Este é um ponto importante. Não adianta termos milhões de sensores gerando dados se não tratarmos estes dados e conseguirmos fazer coisas inovadoras, sejam novos processos, novos modelos de negócio ou mesmo criar novas industrias.
Outra tecnologia que tem tudo para criar rupturas no cenário de negócios são as impressoras 3D. Esta tecnologia tem potencial de transformação muito grande na indústria, pois permite a fabricação precisa e complexa de produtos, ao mesmo tempo que elimina certas etapas de produção. O processo conceitualmente é simples: pegar uma imagem digital de um objeto e fatiá-lo em milhares de camadas, que são transferidos para a impressora que cria um objeto tridimensional ao produzir cada camada com plástico, areia ou outros materiais. Nos EUA já encontramos impressoras 3D por cerca de 1.500 dólares, capazes de produzir brinquedos e bijuterias. É uma tecnologia ainda incipiente, que não está pronta para fazer uma nova revolução industrial, mas nada impede que isso aconteça em um horizonte de menos de dez anos. Mesmo porque muitas patentes básicas já estão expiradas e outras mais devem expirar nos próximos anos, agilizando a entrada de novas start-ups no setor. Sua popularização deve aumentar rapidamente. Interessante que a Amazon já tem um setor dedicada a manufatura aditiva com impressoras 3D e seus suprimentos. O governo americano está colocando em ação uma estratégia de inovação na manufatura, chamado de NNMI – National Network for Manufacturing Innovation, onde um dos componentes principais é a manufatura aditiva com impressoras 3D.
Os primeiros resultados tem sido animadores. A Ford, por exemplo, usa impressoras 3D para fazer moldes de protótipos de motores e peças de transmissão. A montadora americana leva quatro dias e gasta cerca de 3 mil dólares para imprimir o protótipo 3D do coletor de admissão de ar em um motor. Antes, sem uso das impressoras 3D levava quatro meses a um custo de 500 mil dólares. Outro exemplo interessante é a Shapeways portal para venda de produtos customizados via impressoras 3D.
O potencial é enorme, pois pode-se fabricar produtos customizados e ao longo prazo pode afetar inclusive a economia de países que são fornecedores de mão de obra barata, pois esta mão de obra pode ser substituída pela produção em diversos locais, sem os tempos e custos de logística. Seus efeitos econômicos tem o potencial de destruir o valor da mão de obra barata como também de criar ou mudar determinadas profissões. Por exemplo, um artesão que hoje desenha e esculpe uma jóia, pode se concentrar apenas no design, deixando o trabalho de produção física a cargo de uma impressora 3D. Passa a ser um artista virtual.
O efeito das impressoras 3D vão ser sentidas diretamente na manufatura, mas também afetam outras áreas como varejo e distribuição, pois a impressão (ou fabricação?)de produtos localmente afeta toda a cadeia de distribuição e vendas. Talvez até gere conflitos entre os componentes das cadeias atuais. Vamos ver…
Outra tecnologia que merece ser atentamente observada é a computação cognitiva. Já temos alguns exemplos que, embora incipientes, mostram um potencial muito grande. Podemos falar do Watson da IBM e dos assistentes pessoais que estão nos smartphones, como o Siri da Apple, o Google Now e agora o Cortana da Microsoft. Recomendo a leitura de um artigo interessante que mostra a batalha entre estes três competidores. Seus efeitos a longo prazo ainda são desconhecidos, mas um sistema como Watson pode eliminar ou pelo menos reduzir em muito a necessidade de pessoas em determinadas atividades que hoje, aparentemente, estão à salvo da automatização. Exemplos? Profissionais em áreas administrativas de nível junior ou intermediário, como advogados que fazem buscas e pesquisas em processos em papel. Um Dr. Watson especializado na área jurídica pode eliminar a necessidade deste trabalho manual.
E a evolução da computação cognitiva passa também pela criação de novas tecnologias. Hoje, de maneira geral, um assistente pessoal depende basicamente da nuvem que está na retaguarda com todo o seu complexo conjunto de softwares de análises. Começa-se a investir no projeto de chips que permitam que grande parte da inteligência passe a residir no dispositivo e não na retaguarda como atualmente. Vale a pena ler o artigo “Thinking in silicon” da MIT Technology Review que mostra os avanços nesta área. Também vale a pena conhecer o projeto do chip Zeroth da Qualcomm.
Bem, se houver interesse em conhecer mais a computação cognitiva recomendo a leitura do livro “Smart machines: IBM´s Watson and the Era of Cognitive Computing”.
Cada uma destas tecnologias, Internet das Coisas, impressoras 3D e computação cognitiva, está em um estágio diferente de evolução. Mas, indiscutivelmente que seus primeiros exemplos já mostram a viabilidade das idéias e conceitos que estão por trás. Embora pareçam um pouco rudimentares hoje, sua curva de evolução tecnológica deve se acentuar nos próximos anos e seus efeitos de ruptura no cenário de negócios provavelmente provocarão descontinuidades tanto em empresas individualmente quanto em setores corporativos inteiros. Não devem ser ignoradas.
[Crédito da Imagem: Futuro das tecnologias – ShutterStock]