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Será que a pontualidade em projetos de TI existe, ou não?

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Será que a pontualidade em projetos de TI existe, ou não?A discussão sobre pontualidade nos remete a Asmann (1998, p. 213), que ao deter-se sobre a análise do tempo, concluiu que por um lado temos o tempo cronológico que é o tempo chrónos, ou seja, o tempo marcado pelo relógio. E por outro, temos o tempo Kairós, que refere-se ao tempo vivido ou vivencial, que seria o tempo de cunho subjetivo e individual. Estas duas dimensões temporais se articulam permanentemente.

O tempo chrónos, às vezes, paralisa alguns profissionais que argumentam, e com certa razão, precisar de mais tempo. Eles se ressentem da “falta” de tempo e do aumento das exigências que demandam cada vez mais horas de trabalho. Por exemplo, uma reunião de trabalho monótona e desnecessária de cerca de 1 hora do tempo Chrónos pode parecer “durar séculos”, enquanto um momento feliz de uma hora parece ter durado apenas 5 minutos. Por isso, carregamos conosco sempre a impressão de que tudo que é bom, dura pouco… Contudo, o objetivo aqui presente não é abordar os sentidos culturais, sociológicos e filosóficos do tempo, mas tecer provocações que nos faça pensar sobre o que acontece, com relação ao tempo, no processo de desenvolvimento de um projeto de TI (tecnologia da informação), considerando suas particularidades, especificidades, características, tensões e contradições.

Será que a representação de que o “brasileiro não é pontual para nada” é verdade? Será que a outra máxima que diz “a pontualidade é inimiga da criatividade”, é real? Esses ditos populares, em geral, desqualificam e generalizam situações muito especificas, gerando uma série de assimilações deformantes acerca da competência e do envolvimento de nossas equipes em projeto internacionais, inclusive. Tais generalizações nos impedem de ver para além das aparências. É necessário refinar o olhar e lembrar que os detalhes de cada projeto o singulariza e assim, generalizar é um erro.

Um professor, certa vez, me disse que as pessoas são mais propensas a se preocupar em achar desculpas do que se esforçar em cumprir acordos e objetivos. Ouvi de um colega de trabalho que estávamos adiantados para a reunião, isto é, com apenas 12 minutos de atraso e ele não estava brincando. Também me recordo de um antigo chefe, que diante do meu desconforto em relação a um possível atraso em uma reunião importante, disse-me que devemos ser como as noivas, pois se não atrasarmos não seríamos notados.

E o que dizer daqueles que não honram com os seus compromissos e que por diversos motivos, não se preocupam nem em avisar e nos deixam a “ver navios” e à beira de um “ataque de nervos”? Quem nunca agendou uma visita de um fornecedor (TV a cabo, telefonia etc) e ficou horas esperando?

Todo atraso sempre gera desconforto! Pelo menos naquele que o cumpriu, não é mesmo?

Uma vez presenciei uma cena que retrata algumas estratégias que subestimam nossa inteligência e nos desrespeitam evidenciando a falta de importância em relação à pontualidade, em uma manhã no aeroporto de Congonhas em São Paulo, uma grande empresa aérea após embarcar todos os passageiros no interior da aeronave, por meio de uma gravação, exaltava o feito da companhia em fechar as portas do avião antes do horário estabelecido, até ai tudo bem, se o avião não tivesse ficado mais de 20 minutos parado no portão de embarque aguardando liberação para decolagem.

Um colaborador (líder da reunião) esbravejou em um breve instante de “fúria”, que iria ser pontual (iniciar na hora planejada) na reunião “apenas“ para registrar se haveria pelo menos um participante pontual. Quantos de nós já não estivemos nesta posição?

Em todos os projetos que liderei, sempre busquei promover um planejamento participativo, ou seja, no qual o colaborador tem participação decisiva na elaboração do plano de trabalho, conhecendo claramente as atividades e/ou prazos que deve atender.

Com a participação ativa, o colaborador não poderia reclamar que uma determinada tarefa não pode ser cumprida por desconhecimento ou não concordância de um determinado prazo que ele mesmo ajudou a produzir. Contudo, noto que muitos ainda não estão acostumados a dividir responsabilidades e sim, buscam culpabilizar o outro, reservando com isso uma válvula de escape a ser utilizada em qualquer situação.

Se não participarmos dos planejamentos de forma decisiva e não buscarmos incessantemente atingir coletivamente os objetivos planejados, continuaremos na base da culpabilização do outro e vitimização de si próprio, cada vez que nos depararmos com problemas nos projetos.

Um planejamento de um projeto de TI envolve uma coletânea de atividades interligadas que visam atingir os objetivos, isto é, quanto maior é escopo de um projeto, maior será a sua complexidade. Como as atividades de todos os envolvidos estão intrinsicamente articuladas, basta alguém não cumprir algo que o efeito deste descumprimento alcançará a todos.

Ser pontual é uma questão básica de respeito e profissionalismo. Todos nós devemos agir de acordo como gostaríamos que agissem conosco e este valor passa por respeitar também o tempo dos outros.

Reconheço que muitos profissionais com os quais trabalhei e trabalho se importam e cumprem devidamente seus compromissos e prazos, contribuindo positivamente para o sucesso dos projetos de TI, sem traumas, porém ainda temos um longo caminho a percorrer até que todos os envolvidos se conscientizem da importância dentre tantas outras coisas, da pontualidade.

Guilherme Rigolon
• 33 anos de experiência na área de Tecnologia da Informação e no Gerenciamento de Projetos locais e globais. • 17 anos de experiência na utilização das melhores práticas do PMBOK (PMI®). • Certificado como Project Management Professional pelo Project Management Institute (USA). • Mestre em Administração/Gerenciamento de Projetos (Foco em Gestão de Pessoas). • Pedagogo. • Experiência em empresas Nacionais e Multinacionais. • Palestrante em cursos e workshops de temáticas corporativas (Ética, Comunicação, Liderança, Mudanças e Planejamento). • Vários artigos publicados sobre Gerenciamento de Projetos, Terceirização em TI e Gestão do Conhecimento.

8 COMMENTS

  1. Acho que pontualidade, para muitos, é uma questão de cultura. Na minha opinião é uma obrigação.
    Trabalhei em uma empresa multi nacional e em toda reunião, o gerente espera uns 5 minutos a mais, pois sabe como é pegar trânsito em SP. Até ai não vejo problema, mas acho que horário é horário e o mesmo deve ser cumprido.

  2. Acredito que tudo deve partir do bom senso de cada colaborador. Entretanto, se o líder do projeto observa que os seus colaboradores não conseguem ser pontuais em nenhuma reunião será necessário um diálogo mais direto. É preciso que toda a equipe se esforce para chegar no horário e que isso seja importante para todos. O seu relato sobre o seu modo de trabalho com a equipe, no qual reuni todos os envolvidos do projeto e define junto com eles os prazos e atividades, é uma ótima abordagem que gera uma responsabilidade maior em cada envolvido para que atinja o que disse que conseguiria.

  3. Ai voltamos a pirâmide da ISO qualidadeXtempoXcusto o profissional ou a empresa devem avaliar em todos os sentidos quanto a cumprimento de prazos e dar um grande importância a eles e se não poder cumprir a tarefa no tempo estipulado não se comprometer ou mão assumir compromissos que não possa cumprir.

  4. Tudo se resume no trecho:
    “Ser pontual é uma questão básica de respeito e profissionalismo. Todos nós devemos agir de acordo como gostaríamos que agissem conosco e este valor passa por respeitar também o tempo dos outros.”

    Mas Isso seria para tudo na vida. Para projeto de TI existem mil fatores para o atraso na entrega de projetos, não somente um colaborador que chega atrasado, só espero que o mesmo tenha feito o que prometeu, ou seja, ao montar o cronograma devemos ter o de acordo dos nossos colaboradores, desta forma chegamos mais perto de acertar.
    Para mim o atraso num projeto é causado sempre pela falta de entendimento do mesmo, seja pelo cliente, pelo consultor do projeto, pelo coordenador do projeto. O colaborado é uma parte importante? sim. Mas não é por causa da falta de pontualidade de um ou dois colaboradores que vou me atrasar na entrega do projeto.
    A não ser que toda a equipe seja assim. Neste caso é melhor trocar de equipe.

    • Você tem razão ao afirmar que este trecho do texto vale para muito mais situações, porém como é difícil de se presenciar no mundo corporativo.
      Acredito que os problemas de qualquer projeto passam por uma série de fatores e que o colaborado é a menor parte.

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