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Regulamentação Profissional na área de TI – Modelo Possível

publicado por Alexandre Fernando

Há alguns dias atrás publiquei um outro artigo sobre regulamentação que teve grande repercussão e ainda repercute na internet (http://www.tiespecialistas.com.br/2010/11/regulamentacao-ajuda-ou-atrapalha/). Diante disto, resolvi escrever mais um post sobre o assunto.

Estive garimpando os comentários e analisando a repercussão do post. Conversei com pessoas de outras áreas que são regulamentadas e criei um modelo ideal em minha mente.

Utopia? Não sei, acredito que não.

Difícil de ser idelizado? O que não é difícil?

De qualquer jeito, independente da opinião, acredito valer a pena a discussão.

Nos comentários muito foi dito, seguem algumas exemplos de idéias:

Graduação é importante e os graduados e não graduados têm as mesmas capacidades de aprendizagem;

Não adianta se iludir e achar que a regulamentação resolverá os problemas clássicos da profissão;

Deve-se trabalhar políticos para conseguir a regulamentação e que ninguém sairá perdendo, reconhecendo os profissionais que já atuam;

Nunca tive problemas com os chamados picaretas e a área de TI deve ser livre de amarras.

Agradar a todos? Impossível.

Entendo que o que temos que ter em mente é que podemos criar formas e mecanismos que tragam benefícios para o máximo possível de pessoas e também em pensar em melhorar o dia-a-dia dos profissionais atuantes deixando um legado para os futuros profissionais trabalharem melhor.

O fato é que os comentários que são gerados a partir da discussão de um assunto desta magnitude, serve como base, para uma regulamentação mais justa e funcional. Por menor que seja o alcance, só o fato de profissionais atuantes começarem a discussão já é uma vitória.

Sou totalmente a favor da regulamentação. Não era. Antes de iniciar a graduação, nem pensava nisso.

Hoje, tenho uma opinião clara: A regulamentação é importante, essencial.

Mas, vejam como são as coisas: do último post para esse, analisando os comentários, e conversando sobre o assunto, algo mudou.

Para mim o modelo  ideal de regulamentação é aquela que preza pelo bom desempenho da função de todos os profissionais em todos os ramos de uma determinada área; que está alerta e pronta a punir profissionais que insistam em trabalhar fora das suas diretrizes; que trabalhe para melhorar a especialização de todos oferecendo parcerias com instituições de ensino; e que teste os ingressantes de forma a garantir que apenas os profissionais realmente habilitados possam exercer a profissão, independente da instituição de formação.

Estes são os alicerces básicos. Com a discussão isso muda. No âmbito político, sofre alterações, e ao final, temos diretrizes discutidas e lapidadas prontas para entrar em operação.

O principal elemento de discussão não é o político, é o nosso. É a partir dele que a sociedade passa a conhecer de fato o que fazemos e qual a nossa missão.

Vamos analisar os alicerces:

1. Preza pelo bom desempenho da função de todos os profissionais da área de TI;

Obviamente um conselho que se preze deve fiscalizar e  garantir que os profissionais estejam trabalhando dentro das suas diretrizes éticas, técnicas e operacionais, visando a boa imagem de todos e protegendo os investimentos dos clientes.

2. Estar  alerta e pronta a punir profissionais que insistam em trabalhar fora das suas diretrizes;

O conselho com base nas diretrizes definidas na regulamentação deve punir com rigor os profissionais que atuam no descaminho ou fora das suas diretrizes, em resumo, oferecem um mal trabalho à sociedade, sem corporativismo.

3. Trabalhar para melhorar a especialização de todos oferecendo parcerias com instituições de ensino;

No intuito de melhorar os serviços prestados à sociedade e dessa forma prezando pela imagem de todos e dele mesmo o conselho deveria oferecer condições igualitárias de especialização a todos firmando parcerias com instituições de ensino.

4. Testar os ingressantes de forma a garantir que apenas os profissionais realmente habilitados possam exercer a profissão;

Este item é um dos mais importantes: De nada adianta um conselho e uma profissão regulamentada que fique apenas na teoria e atue apenas na burocracia; isso seria apenas aumentar as contas à pagar de cada profissional ao final do ano, gerando apenas anuidade. Isso não pode ser o principal. O teste dos ingressantes é importante para garantir que apenas os mais preparados atuem. Não importa em qual instituição o profissional se formou, uma vez que, o nome da instituição por si só não garante a qualidade do profissional ao mercado, o que importa é o que o conselho da área de TI verifique se aquele profissional foi bem formado e está apto a exercer a profissão.Uma forma de garantir uma isonomia a todos: formem-se onde quiserem, mas teremos que aprovar. Isso teria um efeito benéfico em toda cadeia educacional da área, pois, os cursos ruins seriam banidos e os estudantes se preocupariam mais em se formar apenas nos melhores cursos, ou, se formarem adequadamente.

Podemos trazer profissionais de outras áreas para discutir o assunto, isto enriquece a discussão. Um exemplo prático é que mudei alguns pontos da minha opinião depois que conversei com um amigo que é engenheiro, professor da Unifesp e Doutor em engenharia mecânica na Alemanha. Alguma coisa mudou. É um exercício de reflexão que leva em consideração o que ocorre na realidade de outras áreas. Isso contribui para o objetivo final que é discutir e chegar a um consenso e assim formar um conselho forte, atuante  e em sintonia com a realidade da sua área e com os anseios dos seus profissionais.

Um bom exemplo de conselho forte é a OAB. É forte e tem respeito social. Até os políticos respeitam e usam do prestígio da instituição em suas campanhas. Sempre que há uma polêmica a OAB é consultada. Isto é construído com anos de trabalho e agora, enfim, existe o reconhecimento social.

Lógico, que , mesmo assim, existem maus e bons profissionais, isto sempre vai existir. Escândalos, corrupção. O importante é que os conselhos estejam alertas e não hajam com corporativismo, atuem sempre em prol da categoria que representa, e isso às vezes, significa “cortar na própria carne” ou seja, punir um colega.

Um conselho bem estruturado contribui para a imagem dos seus representados e conseqüentemente de toda a área que representa, além de cuidar da imagem, o conselho impõe regras e condições  mínimas de trabalho para que as empresas sigam e não apenas explorem a mão de obra, que também contribuam para o futuro desse profissional (aposentadoria digna, formação, atualização, etc)

Hoje em dia, cada empresa “faz” sua lei nos contratos de profissionais da área, e inventam maneiras diversas de burlar a lei: CLT Flex, PJ,   etc. Em recente tentativa de restringir a exploração das empresas à mão de obra na forma de uma lei (lei das empresas de uma pessoa só (PJ)) o que aconteceu? engavetou-se a pedido dos contratantes, lógico.

E o que fizemos?, nada (porque não temos representatividade social e conseqüentemente política, e pasmem: os empregadores tem, engraçado não?) , somos passivos. Esperamos as coisas acontecerem, e logicamente, nada acontece.

A organização é essencial para contemplar também esses aspectos trabalhistas. Sei que existem pessoas que digam: “Aceita quem quer.” é verdade, contraponho: “Quem têm mais influência ao exercer o poder de persuasão? As empresas ou os trabalhadores? Há! não esqueçam de considerar aspectos econômicos ao responder essa questão.”

Publiquei um artigo no ALAST : Associação Latino Americana de Sociologia do Trabalho (http://www.izt.uam.mx/alast/) que descreve as formas de contratação no mercado de TI e faz um relato das implicações nas vidas dos profissionais. O trabalho foi apresentado em espanhol e aceito pelo congresso.

Versão Português:

https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0Bw7M_bXvaDVFNTBiYmZmN2YtMTQ4Yy00MjFiLWE0ZjUtN2M4NDNkNjMxMTUz&hl=en

Versão Oficial – Espanhol:

https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0Bw7M_bXvaDVFYjZmYTI2OTgtYjdmZC00NDdiLWIxODYtYTgyMzE3NTQ3NWE2&hl=en

Documento de Aceitação:

https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0Bw7M_bXvaDVFY2ZkNzNkMjgtNTczMS00ZTlkLTg1ZjMtZmRmMGI1NjE2NmY2&hl=en

O trabalho também foi publicado no site APINFO ( http://www.apinfo.com ) http://www.apinfo.com/artigo84.pdf

A situação descrita no trabalho, em minha opinião poderia ser bem diferente se nossa profissão fosse regulamentada, se tivessemos organização social. A forma passiva como nos comportamos hoje, é patética e maléfica para todos ao longo do tempo, por isso temos que discutir e começar a “aparecer” socialmente.

Uma categoria sem representatividade social não cresce adequadamente e sim  desordenadamente. Os sobressaltos desse crescimento desordenado tem um efeito cumulativo, e a sociedade vai criando uma imagem inadequada da área, que no futuro é muito difícil de mudar. Os futuros profissionais podem sofrer as conseqüências da omissão do presente.

Os profissionais de  TI brasileiros estão entre os mais criativos e competentes do mundo, mas, precisa se organizar para que no futuro possam garantir condições melhores de trabalho a todos.

Autor

Programador Sênior e Consultor ERP. Atua em projetos na área de desenvolvimento de sistemas corporativos desde 1995. Graduado Tecnólogo em Informática para a Gestão de Negócios (2010) FATEC - Faculdade de Tecnologia de Jundiaí http://www.fatecjd.edu.br BLOG

Alexandre Fernando

Comentários

7 Comments

  • Muito bom o artigo, principalmente para reflexão.
    Quando você cita outras categorias como engenheiros, advogados, arquitetos estamos falando de profissões centenárias, que já se solidificaram. Em TI a coisa é um pouco mais complicada ( a “profissão” tem décadas)pois dentro da própria área temos várias vertentes.Sou TOTALMENTE favorável a ter-se um CRTI-Conselho Regional da Tecnologia da Informação- (assim como existe CREA,CRM). Mas para isso precisam-se de várias regulamentações, por exemplo: Separaríamos os profissionais por especialidades ?(Desenvolverdor, analista, Arquiteto de Software, DBA) ou por plataforma (Unix, Windows, Mac) E o pessoal de robótica, Hardware, IA e por aí vai.
    Mais um ítem para reflexão: Se uma ponte mal feita causa riscos e danos as pessoas, um sistemas mal feito, por exemplo de diagnóstico de imagem não popde apontar uma patologia inexistente causando danos psicológicos ? Ou até mesmo a negativação de alguém errôneamente enviada a órgãos de proteção de crédito por erro de programação, ou falto de zelo nos testes não causará danos ?
    Parabéns pelo Post

  • Cumprimentos Alexandre,

    Gostaria de adicionar mais algo para reflexão e comentários através de uma pergunta: Como ficaria as especialidades da profissão? Se formos tomar o modelo da medicina como exemplo, em que depois de formado médico o profissional tem que se especializar em determinada área (e lógico, gastar mais um bom $$$) como ficaria isso na TI, área em que um profissional trabalha em vários ramos da TI, hoje trabalha no suporte técnico, amanhã com servidores, depois com redes, etc…?

    Será que um “CRTI” iria efetivamente defender os interesses dos profissionais de TI? Ou iria dificultar e onerar o trabalho dos profissionais? E das próprias empresas?

    Se eu estiver trabalhando na implantação de servidores (especializado nessa área) e tiver que mexer na infra-estrutura de rede e não tiver certificado (apesar de saber como fazer) terei que encaminhar para outro profissional certificado?

    E daí quanto a mais a empresa terá que pagar?

    Não falo só em valor acrescido, mas também com o tempo gasto? Quantas pessoas uma empresa comum terá que contratar para garantir seus serviços de TI?

    Alguém tem conhecimento de algum outro país no mundo em que haja um conselho de informática?

    Acho que se efetivamente se seguir o caminho dos conselhos profissionais, se deve pensar muito bem no que se está fazendo.

    • Eduardo, primeiramente, obrigado pelos cumprimentos.
      Entendi seu ponto de vista e queria colocar mais uma pergunta no ar: Um médico clínico geral, tem noções de cirurgia, por causa disso você vai em uma consulta habitual, descobre a necessidade da cirurgia e a realiza com o próprio médico? acredito que não, ninguém faz isso, primeiro porque o CRM não permite, depois porque você não quer colocar sua vida em risco, pois quer serviço de QUALIDADE e que seja executado por um profissional ESPECIALIZADO. No fundo, pode até haver reclamação do ônus gerado, mas, o benefício que trará compensa, pois o risco do “barato” é muito “caro” e faz não compensar ser feito de outra forma. No nosso caso , a vida seria os investimentos das empresas, os outros elementos, caminhariam também nessa direção: mudança cultural, assimilação de custos.Do jeito que está hoje, pode até sair “barato” para as empresas, ao longo do tempo, algumas descobrem que o barato saiu caro e chegam à conclusão que seria melhor se tivessem desembolçado mais e garantissem um projeto mais bem estruturado ,que garantiria o futuro de suas operações.
      Eu acho isso, vamos fomentar discussões!!

  • Espero que outros colegas comentem e fomentem a troca de informações, para enriquecer ainda mais esta discussão.

    Parabéns pelo tema Alexandre!

  • Excelente Artigo, meus parabéns Alexandre.
    Realmente precisamos nos organizar, afinal tudo hoje gira em torno de TI, nossa profissão precisa de reconhecimento.
    Infelizmente alguns setores ainda não entenderam a real importância de TI e de seus profissionais.

    Abraços

  • Pessoal excelente matéria e bem acompanhada de muitos comentários valiosos e edificantes para a discussão sadia desse assunto. Mas quanto mais fomentarmos esse assunto mais idéias e indagações a respeito da eficiência de um CRTI surgirão. Acredito que esses conselhos de profissões centenárias não surgirão tão abalizados, quanto são hoje em dia, ainda assim fazendo reformas porque precisam melhorar em algo e acompanhar o avanço e desenvolvimento de aŕeas ao redor que podem implicar em seu trabalho. Meu ponto de vista é que não é justo e nem sábio esperar um modelo perfeito para implantação de uma ferramenta tão necessária quanto esta, claro, guardando as devidas preocupações e estruturamentos já esboçados pelo autor do artigo acima. Sendo assim, se é que posso falar assim, poderia ser gerado um “protótipo” de conselho, onde esse ao atuar estaria totalmente aberto e passivo a implantações de novas idéias em relação às dificuldades e necessidades apresentadas enquanto funcionando. Bem essa é minha contribuição! Abração aos grandes amigos de profissão!

  • Alexandre, muito bom, muito bom mesmo.
    Eu sou a favor, totalmente, e não pelo piso salarial, que é o ponto que muita gente que é a favor responde em primeiro plano do porque é favor. Sou a favor pelo respeito, pela ética, pela representação que teremos com um conselho, por ter alguém brigando por nós e conosco. E sou muitíssimo a favor também em um ponto que você tocou, em testar os conhecimentos, é crucial, sejamos livres para nos formar aonde quisermos, mais, com tanto que sabemos o que estamos fazendo.

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