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Regulamentação: Ajuda ou Atrapalha?

publicado por Alexandre Fernando

Há alguns anos atrás anos venho ouvindo teses e mais teses a respeito da regulamentação das profissões ligadas à área de TI.

Existe uma grande controvérsia entre os próprios profissionais sobre os benefícios reais que uma regulamentação traria a todos. Muitos falam em rédeas do conhecimento e defendem o livre desempenho das funções na área de TI por qualquer um, outros, defendem a regulamentação com unhas e dentes.

O fato é que o mercado recebe todos os anos milhares de novos profissionais, alguns se capacitaram para exercer a profissão, outros atuam apenas no “feeling” e no conhecimento adquirido ao longo do tempo, são os autodidatas.

Todos nós somos essencialmente autodidatas, porque sem essa característica fundamental seria impossível atuar no mercado, é uma grande forma de progredir e se desenvolver pessoalmente, a curiosidade move o mundo tecnológico.

Por outro lado, acredito que uma organização mínima, subdivisões por áreas, graduação e representação social poderiam trazer grandes progressos para todos, pois entendo ser uma forma de acabar com a falsa sensação de que o profissional de TI atua em todos os ramos da área. Sabemos que não é verdade, mas, a sociedade leiga não.

Ninguém consegue saber tudo, nenhum profissional de nenhuma área ou ramo de atividade. Impossível. Na área tecnológica temos uma peculiaridade que é a rápida evolução. A área de TI é uma área extremamente dinâmica onde a amplitude tecnológica varia entre o “estado da arte” e a obsolescência em uma questão de meses, ou, na melhor das hipóteses, alguns poucos anos.

Somos estigmatizados como “gurus” ou “nerds” uma imagem que mais atrapalha do que ajuda.

Com a regulamentação o nível dos serviços oferecidos melhoraria, uma vez que, apenas profissionais “certificados” atuariam. Todos os profissionais teriam mais chances de trabalhar na área que escolhessem: comunicações, redes, sistemas, infra, etc. Com as especializações os riscos de um trabalho mal feito repercutir negativamente na imagem de todos os profissionais diminuiriam.

Hoje, o profissional mal formado, que comete erros primários, faz com que a credibilidade de toda a comunidade tecnológica seja abalada e estigmatizada. Quem já não ouviu: “Depois que o sistema foi atualizado, nada mais funciona.” Ou “Estava tudo funcionando, depois que mexeram, não consigo fazer mais nada.” Lógico que para o leigo, os serviços não podem ser interrompidos, não importa o motivo, ele não entende, e não têm que entender mesmo, nós é que somos pagos para cuidar disto, mas, muitas dessas situações referem-se a profissionais que trabalham de forma errada, muitas vezes, não porque querem, mas, porque às vezes não têm acesso a uma especialização ou a um estudo mais aprofundado e adequado que lhe dê condições de atuar corretamente na profissão.

Com a graduação, aprende-se a forma correta de se trabalhar, descobrem-se mundos antes desconhecidos. Aprimora-se e às vezes descobre-se que a forma como se trabalha há anos está errada ou poderia ser melhorada. Algumas corporações se esforçam para crescer, mas, não conseguem, estagnam, têm grandes dificuldades operacionais, gerenciais e comerciais.

Nesse cenário a regulamentação pode atuar de forma a garantir um melhor nível dos profissionais que atuam e assim naturalmente os pontos fracos seriam explicitados os fortes ressaltados e as possíveis soluções seriam indicadas de forma muito mais eficiente. Esse seria um processo contínuo que garantiria que as empresas que enfrentam dificuldades possam voltar aos trilhos do desenvolvimento corporativo de forma sustentável e realista.

A rigidez da regulamentação pode causar um impacto em um primeiro momento, mas, certamente contribuiria para o desenvolvimento tecnológico do país e também para o desenvolvimento pessoal de cada profissional envolvido, obrigaria todos a especializar-se ou a graduar-se, enfim, a praticar sua característica essencial de autodidata a favor de toda uma cadeia, mas, principalmente, a favor de si mesmo, dessa vez, com a ajuda da ciência e das técnicas pedagógicas dirigidas especificamente à área de TI.

Um código de ética forte e continuamente aprimorado contribuiria para mudar a imagem que a sociedade tem dos profissionais de TI e principalmente cobrariam de todos atitudes éticas e profissionais e assim conquistaríamos um ganho de credibilidade.

Não é possível saber se a regulamentação algum dia se tornará realidade, mas, uma coisa é certa: O mercado tende a valorizar cada vez mais os profissionais graduados justamente por terem enxergado essa diferença crucial entre os “sem especialização” e os “especializados”. As empresas cansaram de perder dinheiro, chegaram à conclusão que “o barato sai caro” e resolveram proteger seus investimentos de forma a minimizar os riscos de perdas futuras e aumentar as chances de terem investido em um projeto bem estruturado e visionário que muitas vezes será responsável pelo futuro dos seus negócios.

O diferencial competitivo conquistado através da tecnologia é um dos mais difíceis de serem copiados pelos concorrentes, mas, o diferencial competitivo baseado em um projeto tecnológico mal elaborado, conduzido ou executado, não só é facilmente ultrapassado pela concorrência como pode trazer prejuízos incalculáveis para a saúde financeira e para a imagem das empresas e de todos os profissionais de TI.

Poucas são as que se recuperam de um prejuízo dessas proporções e os projetos de TI ganham cada vez mais barreiras para serem aprovados pelos stackholders nas corporações. Dificuldades geradas pelas desconfianças por malogros do passado.

Ao final das contas, hoje e sempre, mas, especialmente por causa da situação exposta, nós somos o que os clientes pensam de nós. A imagem que refletimos é o nosso passaporte para o futuro, isso se mostra valer mais do que um currículo empresarial com anos de fundação e mais uma vez, as imagens das empresas de TI estão atreladas às imagens dos seus colaboradores, portanto, conclui-se que todos dependem de todos, e dessa forma, o futuro a nós pertence, só depende de nós mesmos.

Autor

Programador Sênior e Consultor ERP. Atua em projetos na área de desenvolvimento de sistemas corporativos desde 1995. Graduado Tecnólogo em Informática para a Gestão de Negócios (2010) FATEC - Faculdade de Tecnologia de Jundiaí http://www.fatecjd.edu.br BLOG

Alexandre Fernando

Comentários

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  • Autodidata por paixão ou satisfação pessoal eu concordo. Também sou. Mas a falta de regulamentação coloca em pé de igualdade o autodidata e o graduado. Agora, um graduado tem melhores condições de buscar soluções mais adequadas no mercado de um problema que ele tem que resolver na empresa e não tem o conhecimento específico. Se não fosse assim, a graduação em qualquer área de TI não valeria de nada. Uma coisa é fato: graduados e não graduados têm a mesma capacidade de aprendizagem. Um não é superior ao outro de forma alguma.
    Defendo a regulamentação faz muitos anos e por isso acompanho de perto a PLS 607/2007 em http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=82918

    Sabe onde a coisa é pior na àrea de TI ? É a responsabilidade civil.
    Imagine um engenheiro civil que constroi um casa e ela cai. Agora imagine um programador – autodidata ou graduado – que faz um programa que leva uma empresa a ter uma enorme problema fiscal/financeiro e porventura até falir.

    O engenheiro vai responder processo, vai ter problemas com CREA e quem sabe até perder a sua habilitação. O programador não. Este sai numa boa, arruma outro emprego na mesma função e a vida continua.

    Não adianta falar que o mercado separa o joio do trigo porque muitas vezes nem o mercado sabe o que quer ou o que faz um profissional de TI. Nem todo analista de sistema é programador e nem todo programador é analista de sistemas. Mas no mercado é tudo uma coisa só. Este é um exemplo. Tem essa mesma disparidade em todas as nossas áreas: de BD a Infra. De Suporte a Projetos.

    Por fim, o texto coloca todos os pesos e medidas na balança que tende a favor da regulamentação. Eu não esperaria menos do que isto!

    Sucesso para todos nós!

  • Prezados Alexandre,

    Antes que imagine-se que sou contra a certificação, informo logo que sou totalmente a favor.

    Entretanto penso que será muito importante tomarmos como base outras profissões que existe a certificação para que fique muito claro em nossa mentes que não será com a certificação que iremos resolver um problema clássico da profissão que é a execução de serviços nem sempre de boa qualidade, uma vez que a certificação não expressa o caráter do profissional, veja que por diversas vezes temos notícias na área de medicina, engenharia, para citar como exemplos.

    Então vejo que o principal favor é a conscientização de quem contrata os serviços de tecnologia faça como sempre é noticiado para outras áreas, pesquise muito sobre o profissional que esta contratando, e se possível peça auxílio a quem tem conhecimento da área, de forma a minimizar o risco.

  • Sou totalmente a favor da Regulamentação e cobro muito dos politicos os quais alguns são amigos meus de infância. Apenas com a regulamentação será possível de se fixar pisos salariais e termos a quem recorrer quando precisar, sem falar de que os “Picaretas” e atravessadores seriam banidos do mercado, pois seriamos legalmente tratados como profissionais liberais quando obtermos nosso numero de registro assim como ocorre com médicos, Advogados e outros. Quanto a separar o Joio do Trigo, para quem não é formado e conseguir provar sua atuação antes da lei entrar em vigor será reconhecido, portanto ninguem sairá perdendo.

  • A área de TI não é regulamentada em vários países e os ditos “picaretas” realmente são um empecilho em qualquer desses países.

    Como “separar o trigo do joio”?

    Sou também a favor de ordem no setor, sendo apologista da solução proposta pela Sociedade Brasileira de Computação. Parece-me ser a proposta mais razoável e equilibrada, sendo que assenta em 3 pilares fundamentais, que transcrevo abaixo:

    1. Exercício da profissão de Informática deve ser livre e independer de diploma ou comprovação de educação formal.
    2. Nenhum conselho de profissão pode criar qualquer impedimento ou restrição ao princípio acima.
    3. A área deve ser Auto-Regulada.

    Vejam mais no site da SBC em http://www.sbc.org.br/index.php?language=1&subject=107.

    Devo dizer que nunca tive problemas com os ditos “picaretas”, houve até ocasiões em que por causa dos erros “deles” acabei tendo clientes vindo até mim, acredito que os clientes acabam por conhecer quem são os profissionais de verdade e entender a diferença de preços.

    A nível empresarial o contraste é maior ainda já que muitas vezes tem que se lidar com departamentos de TI que têm conhecimento e pedem referências e certificações.

    Trabalhar em um departamento de TI então nem se fala, pois estes já têm um supervisor ou gerente com bastante conhecimento. “Picareta” aí não tem vez.

  • Eu me formei na área de exatas em 1987. Nessa época o estado da arte eram leitoras de cartões. Quem é da minha época sabe disso! Para trabalhar com “computação” tinha que ser de exatas, de preferência matemáticos. Hoje a coisa é diferente.”Graças a Deus”.
    Também concordo que há a necessidade de regulamentação, mas excluir os profissionais como os que se enquadram no meu caso, ai eu não concordo.
    Informática é muito bom. Fácil de aprender. Não é uma engenharia civil, em que você tem de saber lidar com integrais e derivadas, calcular ponto de gravidade para estabilizar a peça. É algo mais intuitivo, mais dinâmico e de resultado rápido (Dependendo do projeto logicamente).

    • Sério? Então porque o curso de Ciência da Computação tem Cálculo I, Cálculo II, Cálculo Numérico, Física I, Física III? Realmente quando o conhecimento se limita a fazer aplicações, é quando se distingue o cientista do programador, assim como se distingue o engenheiro civil do pedreiro.

    • Me diga, quantas vezes vc usou os conteúdos dessas disciplinas no mercado? Tais disciplinas são inúteis à maioria dos profissionais. Seria legal desmembrar também os cursos de TI, tornando-os mais específicos.

  • “Graduado Tecnólogo em Informática para a Gestão de Negócios (2010)”

    Interessante que o escrito não entraria na regulamentação se não já tivesse trabalhado na área. Seu curso, segundo a regulamentação, não se encaixa para analista

    • qual regulamentação? existe alguma?
      1. a regulamentação nem existe, será muito debatida
      2. proponho um teste para conseguir ser reconhecido pela futura “categoria” , muitos não passarão, quem sabe até você.

  • Sou a favor da regulamentação. Infelizmente acho que esse é o único caminho para organizar a bagunça que reina na profissão de TI. Gostaria muito de acreditar na auto-regulamentação, mas pelo que tenho visto nesses meus quase 20 anos de profissão, nossa cultura não favorece isso. Precisamos sim de padrões de formação de novos profissionais, padrões para estabelecer bases de relacionamento entre o profissional e cliente e, principalmente, um código de ética/conduta que permita expurgar os maus profissionais e aventureiros que atrapalham o mercado. Independente do profissional ser autodidata ou ter feito uma graduação, quem exerce a profissão no momento deve ser reconhecido e a partir de então, criar uma forma de peneirar quem realmente quer seguir a profissão.

    • Jorge, Concordo 100%. Depois de 16 anos de profissão e uma faculdade , acredito que a regulamentação seria melhor para todo mundo. Pena que alguns colegas de profissão se comportam exatamente como o mito da caverna, quando o assunto é regular o setor. Mas, preciso acreditar que o bom senso prevalecerá.

  • “Organização mínima, subdivisões por áreas, graduação e representação social poderiam trazer grandes progressos para todos, pois entendo ser uma forma de acabar com a falsa sensação de que o profissional de TI atua em todos os ramos da área. Sabemos que não é verdade, mas, a sociedade leiga não.”

    Muito bem colocado, Alexandre. Concordo contigo. A tal da regulamentação (PLS 607/07)só trata do Analista de Sistemas e técnico de informática. E os outros profissionais, como ficam?

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