O despertador berra, os olhos brigam e se recusam a abrir, em um ato desesperado, a mão se lança com o único objetivo de alcançar o botão do silencio e ganhar mais 9 minutos de sono.
O ciclo se repete até que a maldita consciência e a responsabilidade tomam conta do ser e o pular da cama torna-se inevitável, banho, café e vamos nós para um dia extenso e difícil de trabalho, chefe cobrando o impossível, clientes querendo sempre mais, funcionários eternamente insatisfeitos, e a sensação de estar jogando a vida pelo ralo a cada dia é maior.
Mais uma semana se vai e a sexta-feira chega, baladas, viagens e tudo aquilo que dá prazer e uma sensação incrível de qualidade de vida toma conta, o desejo é de perpetuar o final de semana e dar uma bica no resto.
A segunda-feira chega e tudo recomeça, os mais velhos que estão nessa toada à décadas e que sempre deixaram para depois o plano de carreira e de aposentadoria iniciam mais uma semana sonhando com o que farão com o dinheiro da Mega-Sena, sabem que o tempo passou e como seu pai e avô terá que trabalhar até a morte ou se sujeitar a viver da ajuda dos filhos.
A galera mais nova olha a sua volta e imbuídos da coragem e irresponsabilidade deliciosa que a juventude traz, percebem que estão no mesmo caminho dos seus antepassados e resolvem fazer o que seu pai e avô não tiveram coragem de fazer, e como um ato de liberdade chutam o balde, largam tudo, mandam o chefe passear, a namorada procurar outro para casar, os pais que parem de sonhar o seu sonho e vão fazer tudo aquilo que tem vontade e que lhe dá prazer.
As primeiras semanas são de total liberdade, o objetivo é de declarar ao mundo que teve coragem de fazer o que todos falam, mas ninguém faz, a sensação de liberdade e de não ter compromisso é dopante, um verdadeiro êxtase sem fim.
O mundo é o limite e os sonhos também, ser mochileiro e conhecer o mundo, tentar a vida em um país de primeiro mundo, ganhar a vida surfando ou vendendo coco na praia, afinal, no país das maravilhas tudo é possível. A leitura de biografia de chutadores de balde de sucesso vira a companheira predileta, e com ela vem a certeza de que se eles conseguiram também conseguirei.
Como diz um velho ditado: “Todos veem as pingas que eu tomo, mas ninguém vê os tombos que eu levo”, continua-se a acreditar que será possível viver fazendo apenas o que se gosta sem nenhum compromisso e muito menos obrigações.
Da mesma maneira que chutar o balde foi um ato sem planejamento, as iniciativas para ganhar dinheiro são todas frutos de impulsos emocionais sem um mínimo de planejamento e pesquisa, não precisa ser nenhum sábio para dizer onde vai desembocar essa história.
Pouco tempo depois e todo dinheiro gasto, o balde de agua gelada cai impiedosamente sobre a cabeça e a volta ao trabalho proletário é inevitável, o que seria a grande virada da vida transforma-se em um enorme trauma com grandes sequelas.
Não pretendemos fazer apologia a irresponsabilidade, muito menos ser os castradores de plantão, o fato é que antes de sair por ai chutando o balde, é fundamental observar e estudar em detalhes o que existe em comum entre os chutadores de sucesso, não só olhar as coisas boas que eles desfrutam e que relatam nos livros, mas também tudo o que realizaram antes do ato de chutar o balde, perceberá que tirando os que tiveram a sorte de acertar os números da loteria e os que se sujeitaram a realizar falcatruas ilegais, o restante alcançou o sucesso através da execução disciplinada de um planejamento detalhado recheado com muito trabalho.
[Crédito da Imagem: Chutar o Balde – ShutterStock]