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Os limites da incompetência

publicado por Wagner Zaparoli

Figura - Os limites da incompetênciaAo final da década de 1970 a Apple se encontrava em franca transformação, partindo de alguns míseros funcionários para milhares deles em pouco tempo, muitos vindos da Intel e da Hewlett Packard. Sua estrutura física e administrativa expandia-se velozmente, culminando em mudanças constantes em seu roadmap. O aporte de investimentos privados e públicos elevou-a ao patamar financeiro de empresas bem estabelecidas no mercado, como Xerox, American Airlines e Lockeed.

O nome Apple transformou-se em sinônimo de criação e inovação, seduzindo muitos engenheiros e técnicos a buscar ali um posto de trabalho. Foi uma questão de pouco tempo para que ela ultrapassasse a circunscrição americana e conquistasse o mundo. Pelos clientes era vista como uma empresa de ponta, uniforme e concisa. Para alguns dos próprios colaboradores, nem tanto.

Pautada em feudos bem delineados, a companhia se desgastava com as várias divisões criadas no curto prazo, resguardando um alto nível de incompetência. Exemplo desse descaminho foi o comentário do legendário designer – Rod Holt – por volta de 1981, em que dizia “se você é um engenheiro que projeta tudo errado, não trabalha e é problemático de um jeito ou outro, então é transformado em gerente. Eles não demitem ninguém aqui”.

Embora passados mais de trinta anos, as palavras desafiadoras de Holt nos parecem extremamente atuais em se tratando de mundo corporativo. Quem ainda não viveu, mesmo que de forma passageira, a experiência de ter de trabalhar em equipes compostas por mulas sem cabeça que não têm a menor capacidade para realizar o trabalho devido? Pior do que a convivência é vê-los faturar as conquistas (promoções, bônus, treinamentos, viagens internacionais, etc.) que pertencem à equipe nas quais estão sorrateiramente inseridos e predatoriamente minando.

Adam Horowitz, escritor americano responsável por episódios de Once Upon a Time e Lost, entre outros, publicou um livro em 2005 chamado “Eles Fizeram Tudo Errado” em que mostra os bastidores de várias companhias permeadas pela incompetência explícita. Alguns episódios parecem até surreais, dada a proporção de equívocos e enganos cometidos.

Devemos nos lembrar de que um colaborador incompetente pode afundar uma equipe ou um projeto. Já um líder pode afundar toda uma empresa. Se a Apple resistiu aos desígnios da incompetência por anos a fio e se tornou uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, Horowitz nos mostra o contraponto através da queda inexorável de várias empresas perante a agonia da incompetência.

Como, individualmente, não temos força suficiente para combater e exterminar as ondas de incompetência que nos permeia, ao menos vale uma reflexão: estamos sendo competentes para aquilo a que fomos designados? Estamos realmente agregando valor para a companhia e para nós mesmos? Ou estamos somente vendo a banda passar?

Autor

Doutor em ciências pela USP, Zaparoli tem atuado no mercado de tecnologia da informação, prestando serviços de metodologia e governança para grandes corporações como Itaipu-binacional, Petrobras, Visanet e Grupo Europa, entre outras. Atualmente é Superintendente de TI na GPS-Logística, líder no ramo de seguros e gerenciamento de riscos para o segmento de transporte rodoviário. É professor universitário e colunista da Gazeta de Bebedouro (www.gazetadebebedouro.com.br).

Wagner Zaparoli

Comentários

3 Comments

  • Parabéns Zapa !! Realmente o seu texto nos impele a duas reflexões. Tenho que a primeira e menos importante é a que nos leva a buscar compreender quais são as condições que permitem que essas situações possam acontecer tão corriqueiramente, para talvez, podermos contribuir para, se não impedir, minimizar ao máximo a frequencia dessas ocorrências. A segunda e mais importante é sobre nos mantermos decididos e motivados para buscarmo a nossa evolução técnica e pessoal e com elas buscarmos o nosso próprio espaço e no momento que o alcançarmos termo nós condições de não cometer os desastres que vimos.

    • Grande Robertão,
      É isso aí, coloquei o tema para uma boa reflexão, já que situações semelhantes parecem fazer parte de nossa rotina.
      Grande abraço,
      Wagner Zaparoli

  • Zapa,

    Excelente matéria. Parabéns

    Abs

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