Toda manifestação de maneira democrática deve ser respeitada. Porém qual é o limite entre o direito ao protesto e o direito de ir e vir?
Não é uma resposta simples, principalmente quando o poder público, de maneira unidirecional, resolve tudo de maneira ditatorial implantando mudanças que alteram a vida de milhares de estudantes e famílias, sem ao menos explicar seus motivos.
Quem está certo e quem está errado nessa história?
Se não deixarmos nos envolver pelo romantismo dos direitos dos estudantes ou pelo racionalismo da busca por redução de despesas públicas, podemos, sem dificuldades, dizer que ambos os lados estão errados.
Não tenho dúvidas que meu caro leitor, que tomou partido por uma das causas, estará nesse momento tecendo fortes críticas a esse que vos escreve. No entanto, antes de abandonar a leitura, convido-o a uma reflexão.
Nossas escolas estão negligenciadas há tempos. E não estou falando apenas das públicas. Existem escolas privadas que possuem salas de primeiro mundo e são igualmente desprezadas. A diferença é que não é de tecnologia, mas sim de sapiência. Já foi o tempo em que alunos e professores se encontravam com o objetivo de trocar conhecimento. Atualmente os alunos vão buscar, simplesmente, o diploma e os professores vão para a sala de aula apenas para manter o seu emprego.
Se pensa que pareço radical, te proponho o seguinte: vá a qualquer escola privada e verifique o que acontece com um professor que decide cobrar aquilo que foi ensinado. Os educandos se revoltam, fazem uma péssima avaliação do educador e em pouco tempo conseguem o que desejam: sua demissão. Para quem ainda não sabe, o estudante deixou de ser um buscador de conhecimento há décadas. Hoje ele é um cliente ávido por notas e diplomas, e caso não seja atendido, vai buscar uma instituição que atenda aos seus anseios, afinal, ele está pagando. Com a concorrência em alta, tudo o que um dono de faculdade não quer é perder receita, e, para isso, faz qualquer coisa para manter o seu freguês satisfeito.
Verificando a realidade das escolas públicas, percebe-se que não é muito diferente. Infelizmente o projeto original da Dona Ruth Cardoso e do Ministro Paulo Renato foi jogado no lixo, e o que era um programa para reduzir a evasão escolar, transformou-se em um “passa todo mundo” para mostrar para países desenvolvidos que o Brasil tem todas as suas crianças na escola.
Lamentavelmente, vivemos em uma realidade do “me engana que eu gosto”. As manifestações dos alunos que invadiram a escola estão recheadas de influências políticas partidárias que estão pouco interessadas na qualidade do ensino; não é diferente, desta forma, do governo que pretende reduzir seus custos, para aplicá-los sabe-se lá onde.
A pergunta é: existe solução?
A resposta é óbvia: claro que sim! Para começar se os alunos que se mobilizaram e tomaram as escolas e as ruas pleiteando a não alteração do local de ensino, mantiverem o movimento para pedir a melhoria da qualidade do mesmo, o aumento do número de hora-aula, discutir o conteúdo programático, exigir a reciclagem dos professores, e garantir que os níveis das escolas sejam iguais as do restante do Mercosul – algo que estamos muito longe – certamente daríamos um passo importante para uma mudança da educação e do próprio país.
A despolitização é outra etapa importante. Chega a ser irritante ver correntes partidárias da situação e da oposição querendo se valer da desgraça alheia para somente para fazer campanha. Nenhum dos lados está interessado, de fato, em resolver o problema.
Precisamos tratar a falta de educação assim como tratamos um problema de saúde pública, uma vez que é notável que ela vem crescendo gradativamente e seus sinais de destruição estão por toda a parte: desde o mar de desempregados aos mais altos componentes dos poderes da república. A situação é tão séria que princípios básicos de uma nação saudável como honestidade e sinceridade tornaram-se diferenciais e não regra em nossa sociedade.
[Crédito da Imagem: Falta de Educação – ShutterStock]