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O chefe dos sonhos é realmente o líder ideal?

publicado por Diego Salim De Oliveira

O chefe dos sonhos é realmente o líder ideal?Liderança é a palavra da moda nos meios corporativo e acadêmico.

No LinkedIn, assim como em outras redes sociais e na internet de modo geral, a todo o momento, vemos ilustrações e textos tratando de liderança de forma simplória, fazendo meras comparações entre alguns aspectos negativos da personalidade de algumas pessoas e aspectos positivos os quais qualquer liderado gostaria de ter em seu “líder”.

Estes textos, imagens e comentários falam de um líder “mão na massa”, que vai à frente, abrindo caminho para seus liderados, puxando os liderados para o sucesso, motivando e unindo a todos, o chefe dos sonhos de qualquer um. Em resumo, uma espécie de Super- Herói, amigo, companheiro de trabalho e tarefas, orientador (“coach”), enfim, tudo menos aquele chefe mala e prepotente que certamente todos nós já tivemos em alguma fase de nossas carreiras.

Mas será que realmente Liderança é isto?

Será que para ser um bom líder, é necessário ser uma espécie de Clark Kent? Uma pessoa com superpoderes, abnegado, que vive para ajudar ao próximo?

É evidente que não.

É certo que muitos profissionais experientes não se iludem com tais simplificações da realidade. Mas meu temor é que muitos jovens em início de carreira se iludam com isto, buscando líderes nestes moldes e se decepcionando com a realidade, ou tentando ser um líder neste formato e decepcionando aos demais (tanto seus liderados, quanto seus líderes).

Não que as qualidades enumeradas nestes textos ou ilustrações estejam erradas. Mas são meras simplificações e idealizações.

Se tão simples fosse, bastaria se fornecer um livreto orientativo para cada funcionário em cargo de chefia, que em um passe de mágica todos se tornariam líderes ideais, transformando a empresa em uma máquina de sucesso e realizações.

Não quero atacar ou desmerecer inúmeros e prestigiados autores que tratam do assunto, muito pelo contrário, existem diversas obras excelentes sobre liderança, tanto do século XXI, quanto milenares.

Este, inclusive, é um tema que atrai a atenção humana há milênios.

O intuito deste artigo é apenas compartilhar minha opinião, de que toda e qualquer simplificação gera inúmeras distorções, não sendo correto tomar uma simplificação como um retrato da realidade, mesmo quando as informações ali contidas estão corretas.

Vale lembrar que qualquer simplificação é genérica e fora de contexto. Uma informação de alto valor referencial, mas apenas referencial.

A liderança é um tema complexo, isto porque o conceito de liderança, bem como a atuação do líder bem sucedido,  varia de acordo com o tempo, com a sociedade, com a situação e com inúmeros fatores.

Como exemplo extremo, podemos lembrar que Hitler foi o líder da Alemanha durante sua empreitada nazista, tendo conduzido milhões de alemães motivados e unidos à morte e a desgraça total, bem como levado o mundo a uma guerra de proporções nunca antes imaginadas pela humanidade. Não foi nem de longe um exemplo de pessoa, não era nada democrático, tão pouco se preocupava com seus liderados ou com qualquer outra coisa, que não as suas metas pessoais, usando a tudo e a todos para alcançá-las. Todavia, possuía traços em sua personalidade que o faziam adorado e seguido por milhões de seu povo, sendo, em sua época, visto como um autêntico líder por seu povo, aliás, como o líder dos sonhos, o “salvador” do povo alemão.

Isto nos faz refletir sobre duas coisas:

  • O que é liderança
  • O real papel do líder

Primeiramente, analisemos a liderança.

Liderança é um conceito subjetivo, podendo inclusive ser conquistada através da força, e não apenas através da admiração e escolha por parte dos liderados.

O líder existe desde muito antes de o homo sapiens habitar a Terra. Os primatas em geral, além dos cães, dos lobos, e de praticamente todos os animais que vivem em grupos, possuem líderes. A liderança pode ser temporária ou permanente durante a vida, exclusiva ou compartilhada, eleita (escolhida de forma consciente ou inconsciente, com base na admiração e outros aspectos) ou imposta (seja em ditaduras, em monarquias ou outras situações onde o líder se impõe, em geral através da força, seja ela militar, político-religiosa, financeira, enfim, qualquer artifício utilizado pelo líder e seus partidários para a obtenção e sustentação do poder).

Especificamente no ser humano, a liderança evoluiu com o tempo, aos trancos e barrancos, mudando de mãos ao longo dos tempos, se revezando entre os “fortes” (guerreiros, militares), os “clérigos” e os “sábios”.

Mas liderar, nada mais é do que conduzir um determinado grupo ou população, mesmo que este grupo lhe siga por obrigação.

É evidente que este não é o líder que queremos ter como nosso superior e muito menos como nosso subordinado. Nenhuma pessoa ou empresa em sã consciência deseja ter um chefe/líder que comande apenas através do uso da força de seu cargo, que exerça o respeito através do medo.

Este tipo de líder é tóxico, contaminando não apenas seus comandados, como até mesmo outras áreas da empresa as quais tenham que conviver com este tipo de chefe.

Desta forma, todas empresas buscam um líder que una e motive seus liderados, que tenha sabedoria para traçar o caminho ideal, bem como o carisma para conduzir seus liderados até os objetivos almejados.

Isto nos traz para a reflexão a respeito do verdadeiro papel do líder.

Será que se ao invés do chefe carrasco, colocarmos o Clark Kent, abnegado, superpoderoso e pronto para se sacrificar pelos demais, como líder, ele será o líder perfeito?

Ou será que muitos o farão de tolo?

Acredito que antes de tudo, um líder tem que ter vocação para liderar.

É claro que muito em nossa personalidade pode ser moldado durante a vida e qualquer um pode se preparar para se tornar um bom líder.

Mas os melhores líderes lideram de forma instintiva. É claro, em geral, se prepararam e muito para isto. Mas é notório que em muitos momentos, agem com instinto.

Este instinto nada mais é do que uma busca constante pelo sucesso e um entendimento inato de que este sucesso só ocorrerá mediante o sucesso de todo seu grupo, sendo o sucesso uma conquista coletiva e não individual. Isto, por si só, já elimina da lista de “líderes”, aqueles que usam os outros objetivando apenas o próprio sucesso.

Por fim, acredito que o bom senso, a justiça e a experiência, completam o perfil de um líder verdadeiro e real. Características as quais vão impedir, de forma geral, que o líder cometa graves erros contra seus liderados, o que compromete a relação de confiança necessária para a união geral em torno de objetivos comuns.

Mas o líder não necessariamente precisa ir à frente, botar a mão na massa, saber e/ou executar o trabalho difícil.

Pelo contrário, se o líder perder muito tempo no operacional, ele se tornará apenas um “operário de luxo”. Quem muito executa não tem tempo para planejar ou mesmo controlar a execução.

Seria como dizer que o Presidente da Petrobrás precisa saber realizar prospecção de petróleo.

O que o líder precisa entender com maestria é a função de cada área, sua importância, seus objetivos, como ela se relaciona com as demais áreas internas e com o exterior, como as áreas devem trabalhar em conjunto para que se alcance o objetivo almejado, e como lidar com as pessoas, protegendo e motivando seus liderados, rumo à vitória.

O soldado não espera que o general o salve de outro soldado no campo de batalha. Ele sabe que está é sua função. Ele espera que o general o prepare para enfrentar os demais soldados, lhe forneça as provisões necessárias e lhe salve de outro exército e das artimanhas de outros generais, ou seja, que o general se preocupe com ele e tenha a sabedoria e experiência para conduzir seus homens à vitória, protegendo-os de emboscadas e manobras inimigas.

Da mesma forma, o líder/chefe, deve conhecer seus liderados, saber os papéis, motivação e até mesmo as limitações de cada um, motivando-os a entregarem o melhor de si para que o grupo alcance o sucesso, e que este sucesso, auxilie cada membro do grupo a caminhar também rumo a suas realizações pessoais. Devendo fornecer as orientações e capacitações, bem como os recursos necessários, para que cada um possa desempenhar a contento seu papel.

Devendo também, proteger seus liderados contra ataques gratuitos e/ou desproporcionais de outras áreas e/ou de superiores, ou seja, forças contra as quais o liderado não tem condições de se defender sozinho.

Mas uma vez tendo a orientação e os recursos necessários, cabe ao liderado executar e muito bem seu trabalho, bem como responder por seus erros ou eventual falta de comprometimento.

Desafios inerentes a própria função, devem ser enfrentados pelo próprio profissional. É claro que cabe ao líder buscar e promover as condições necessárias para que o profissional enfrente estes desafios. Mas uma vez provido destas condições, o profissional deve assumir a responsabilidade e enfrentar os desafios inerentes ao seu papel na organização. Este é seu papel.

Aliás, é importante inclusive citar, que apesar de caber ao líder unir e motivar seus liderados, extraindo de cada um o seu melhor em prol do sucesso comum, o líder não é mágico, muito menos milagreiro. Cabendo ao líder identificar os membros tóxicos do grupo, aqueles membros que por N razões, profissionais ou pessoais, estão desmotivados de forma irreversível, ou, ao menos, de forma que não se tem tempo hábil ou que não se justifica o esforço necessário para tentar reverter tal desmotivação, cabendo ao líder extirpar do grupo tais elementos, visando proteger o grupo como um todo e assegurar a continuidade de sua caminhada rumo ao sucesso.

Esta necessidade é mais nítida em grupos que passaram por mudanças recentes na liderança, sobretudo quando o líder anterior não foi habilidoso em exercer sua liderança.

Mas mesmo em grupos consolidados, com liderança bem exercida e onde tudo está correndo bem, eventualmente, por razões pessoais e muitas vezes até incompreensíveis, algum membro pode se tornar “tóxico”. Cabendo ao líder identificar e reverter esta tendência, ou, em último caso, retirar este membro do grupo, para evitar que contamine aos os demais. Neste caso, quanto mais rápido o líder conseguir identificar os sinais de degradação de um ou mais de seus liderados, menos complexa será a reversão.

Por isto, o líder deve ser justo, possuir bom senso e ter experiência, para ter a sabedoria e demais qualidades necessárias para que o grupo lhe admire e queira lhe seguir, mas também para ser rápido e enérgico, quando se fizer necessário.

Apesar de em uma situação ideal, um grupo com liderança sólida e sábia, todos os liderados se sentirem inspirados pela atuação do líder, de modo que o conjunto como um todo tenha tendência a crescer e evoluir de maneira contínua, um líder lidera pessoas, e as pessoas são imprevisíveis.

Principalmente quando se lidera grandes equipes, infelizmente é possível que vez ou outra, mesmo o melhor líder, venha a ter problemas onde se faça necessário o uso de sua autoridade para que se reestabeleça o equilíbrio.

Isto não quer dizer que o líder deve ser autoritário. Muito pelo contrário.

Mas um líder não pode ser covarde.

Certamente, todos nós já vimos algum chefe carrasco.

Mas, quantos de nós já não viram um chefe bonzinho?

Aquele chefe que de início, pode até ser admirado, mas que no decorrer do tempo perde a liderança em razão de seu medo de enfrentar seus liderados, de ser energético e disciplinador, quando se faz necessário.

Do mesmo modo que é natural para muitos seguirem aqueles que admiram e em quem confiam, é natural para alguns desafiarem qualquer tipo de autoridade ou liderança constituída, muitas vezes sem nem mesmo razões aparentes.

O verdadeiro líder tem que estar preparado para enfrentar este tipo de desafio, sem se acovardar.

Aquele que se acha líder, mas se acovarda, perderá a liderança. Ou, é possível imaginar algum grupo que deseje seguir um covarde?

Assim como o autoritarismo e a injustiça fazem com que os liderados percam a admiração pelo líder, deixando de vê-lo como tal, o medo e a covardia também o fazem. E onde a liderança não é sólida, sempre haverá disputas internas por esta liderança, comprometendo o equilíbrio do grupo e desviando-o dos objetivos almejados.

Como dizia Sun Tzu (General e Estrategista chinês) há 2.500 anos: “Trate seus homens como seus filhos, e eles o seguirão aos vales mais escuros. Trate-os como filhos queridos, e eles o defenderão com o próprio corpo até a morte”.

Ou seja, de certa forma, o líder deve ser como um pai para seus liderados.

Mas um verdadeiro pai, que ama, cuida, protege, guia e orienta seus filhos, mas que quando necessário, utiliza-se da força e da autoridade para discipliná-los, não se fazendo omisso diante de atos de desobediência.

Em relação à experiência, é importante citar que experiência é diferente de idade. Nada garante que uma pessoa com décadas de experiência profissional será um bom líder. Assim como nada impede que um jovem seja um líder exemplar.

A experiência diz respeito não apenas ao tempo que a pessoa atua, como as oportunidades que teve de se preparar, errar e aprender, mas principalmente, aprender com os acertos e erros dos demais, analisar os mais diversos ambientes aos quais foi exposto, aprendendo através das experiências alheias, sabendo projetar este aprendizado para as novas situações do dia a dia.

[Crédito da Imagem: Líder – ShutterStock]

Autor

• Profissional com 16 anos de experiência em empresas multinacionais e nacionais de Tecnologia da Informação e Telecomunicações, com conhecimentos e experiência adquiridos nas áreas Comercial, Canais, Parcerias, Produtos e Técnica. • MBA em Gestão Estratégica de Negócios (ESALQ/USP), Master in Information Technology (FIAP) com módulo internacional pela Singularity University, Pós-graduação em Administração (UNIP) e graduação em Tecnologia em Marketing (UNIP). • Sólida experiência na gestão de equipes multidisciplinares. • Liderança técnica e comercial de projetos estratégicos em clientes privados e públicos, incluindo experiência e conhecimento da Lei Federal 8.666/93. • Experiência em Tecnologia da Informação (TI), incluindo Soluções em Big Data Analytics, Nuvem (Cloud), Continuidade de Negócios, Recuperação de Desastres, Virtualização (de Servidores, Desktops, Aplicações e Armazenamento), Bancos de Dados, Redes (SAN, LAN e WAN), Arquivamento, Data Center, Monitoramento e Mascaramento de Dados. • Experiência em Segurança da Informação (SI), incluindo Cyber Intelligence, Anti-DDoS, Segurança Perimetral e de Redes, End Point Security, MDM (Mobile Device Management), DLP (Data Loss Prevention), entre outros temas. • Experiência em Telecomunicações, incluindo Fixas e Móveis. • Experiência em Automação, com foco em M2M (Machine to Machine) e IoT (Internet of Things). • Domínio da Lei Geral de Proteção de Dados e das Resoluções 4658 e 3909 do Banco Central do Brasil. • Conhecimentos em Administração, Contabilidade, Gestão Tributária, Marketing e Direito (com foco em Direito Digital e legislação específica a respeito a respeito de Licitações e Contratos Públicos). LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/DiegoSalimDeOliveira

Diego Salim De Oliveira

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