Eu dizia que as operadoras (de telefonia e TV à cabo) agregaram o acesso à internet juntamente os serviços (banda larga, TV, telefonia). Porém, iniciativas como a “OpenNet” aqui na Suécia criaram uma nova categoria de operadora. A operadora “de acesso”. No meu apartamenteo novo, em todos os aposentos existem 3 saídas para plugs RJ-45. Teoricamente, isso me habilita a assinar quaisquer serviços com quaisquer empresas, desde que essa tenha um acordo com a “OpenNet”. Assim, posso assinar TV com uma, Telefonia com outra e Internet banda larga ainda com uma terceira. Tudo ativado instantaneamente. O melhor dos mundos, o futuro desses do tipo que a gente via nos filmes de ficção científica!!!
Interessantemente, minha primeira surpresa foi quando o corretor me explicou, todo alegre, que eu receberia gratuitamente um set-top box da empresa Viasat. Pera aí: Se eu posso escolher qualquer um, então porque o set-top Box da Viasat? Eu mesmo respondi essa pergunta, já prevendo que o futuro não era assim, tão futurístico: Cada operadora de TV tem seu próprio modelo de set-top box onde você encaixa aquele cartãozinho estilo sim-card para a identificação de assinante. Assim, a Viasat “doando” o seu set-top box contava que todos “automaticamente” assinassem com ela ao invés de contatarem outra empresa e serem obrigados a aguardar uns dias para receber um novo set-top box e etc. Boa jogada de marketing apesar do relativamente alto custo de aquisição de assinante.
Mudanças, confusões e caixas à parte, descobri que estava sem internet. Sem tempo para analisar com cuidados as ofertas das diversas provedoras, tentei utilizar a internet através do meu telefone celular (algo que faço frequentemente). Descobri que a minha operadora, Telia, por motivos que desconheço não me dá cobertura nem de voz nem de dados assim que entro no meu apartamento. Estava completamente desconectado do mundo….
Mas, dentre as mil caixas empilhadas por todos os lados, não ter internet, TV ou telefone não parecia algo de urgência. Foi somente no terceiro dia que resolvi então, dar-me ao trabalho de “instantaneamente” ativar os serviços. Optei por conformar-me e pegar a TV da Viasat e o pacote de internet e telefonia da Bahnhof, esta última famosa por ser uma pequena, mas muito ágil e agressiva provedora para pequenas empresas. Morrendo de frio, fiz as ligações da varanda do apartamento. Para minha surpresa, a Bahnhof explicou-me que o serviço seria ativado daqui a 2 semanas. Protestei desesperadamente, e ele me disse que “se você fizer o pedido pela internet, leva no máximo 2 dias”. Doidera? Na Viasat, disseram que a ativação poderia levar algumas horas. Fui dormir aquele dia e nada de TV. E ainda desconectado do mundo.
Frustrado, mas não vencido, fiz o pedido para a Bahnhof via internet no dia seguinte assim que cheguei ao trabalho. À noite, em casa, a TV permanecia sem sinal de vida. Novamente na sacada gelada, passei literalmente horas ao telefone com o suporte da Viasat que me garantia que o problema era que a Open Net não havia liberado para o acesso. A OpenNet dizia que a Viasat não havia seguido os passos devidos. Mas que tudo se resolveria no dia seguinte.
No outro dia, no trabalho, recebo um email da Bahnhof congratulando-me que agora eu era um cliente, me dando o número de assinante, manual de como conectar à internet, etc. Maravilha! Todo alegre chego em casa. A TV continuava sem vida, mas agora pelo menos internet e telefone terei, penso. Duas horas depois, vermelho de raiva, gritava com o suporte da Bahnhof que me dizia que o problema era com a OpenNet que dizia que o problema era com esses provedores que não seguiam os procedimentos certos. Mas que no dia seguinte tudo seria resolvido.
Dia seguinte, no trabalho, telefonema da OpenNet. Um técnico teria te ter acesso ao meu apartamento Mas já era quinta feira, infelizmente isso só poderia ser na segunda ou terca da outra semana. Enquanto eu conversava com o técnico, pling na caixa de entrada. Era a Bahnhof, já me enviando a fatura do mês pelos serviços de telefonia e internet prestados. Transtornado, passei a bombardear a OpenNet com emails. Logo, a gerente de suporte me ligou. Que meu caso era uma infelicidade. Terca feira tudo estaria bem. Consegui o email do presidente da OpenNet. Mandei um email descascando o infeliz, a companhia, contando que estava escrevendo um blog. Que isso iria dar nos jornais, esse caso ia parar na polícia! Meia hora depois, outro telefonema: Um técnico iria à minha casa no dia seguinte.
Dia seguinte, 11 horas da manhã, o técnico estava lá já fazia quase 2 horas. Finalmente, disse que o problema eram os routers. Que ele não podia fazer nada. Vou para a sacada e telefono para o síndico, que me dá o número de uma empresa terceirizada que cuida dos routers que ficam dentro de cada apartamento, numa espécie de segunda caixa de luz perto do hall de entrada. Telefono para essa empresa, eles tem um horário quarta feira da semana que vem. De saída, o cara da OpenNet me avisa que “ah, vou ter de cobrar essa visita porque o problema não era conosco”.
Quase que aos prantos, recebi a notícia da tal empresa terceirizada, na prometida quarta feira que o problema não era com os routers, mas sim com a fiação do prédio. Que a empresa que construiu o prédio teria de passar uma nova fibra ótica. Telefono para o síndico de novo. A empresa que construiu o prédio se eximiu de culpa, ainda mais porque quem fez a fiação foi uma terceirizada da OpenNet. De novo na OpenNet, embora a responsabilidade, teoricamente, seja do condomínio. Contemplei o suicídio, mas ponderei que pular do primeiro andar não iria me levar à morte, ficaria apenas entrevado em um apartamento sem sinal de celular, sem TV nem internet. Desisti de pular e fiquei esperando a visita da empresa de cabeamento…….
Ah, que saudades dos bons tempos em que você tinha uma operadora que era a responsável por “tudo”. Chuvisco na tela? Telefone mudo? Quer adicionar mais canais? Mudar a velocidade da sua banda larga? Essa santa empresa fazia tudo. Se preciso fosse, mudava o cabeamento, trocava sua set-top box, serviço completo de A a Z. Um telefonema e a responsabilidade era toda dela de deixar “tudo” funcionando redondinho. Era bom, funcionava perfeito? Claro que não. Técnico deixava você esperando o dia inteiro e não aparecia? Constantemente. Mas pode ser que no futuro, você venha a ter saudades desses bons tempos…..
Agora em Julho volto ao Brasil para promover meu livro. Abraços
PS: Uma vez que passaram um novo cabo (o que aconteceu uma semana depois), tudo funcionou bem. Pelo menos até agora. Mas já imagino o Deus-nos-acuda no dia que algo der errado. Se um dia a TV estiver sem sinal, prá quem eu ligo?