Governança

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Levantamento e mapeamento do AS-IS: uma prática insustentável

publicado por Pedro Miguel Sousa

AS-IS & TO-BEA atividade de levantamento e mapeamento da realidade atual de uma organização, comumente designada de AS-IS, é geralmente o ponto de partida da grande maioria dos projetos de arquitetura. Porém, esta prática tem vindo a revelar-se insustentável.

A justificação desta abordagem vem normalmente acompanhada por frases como: “Para poder evoluir é essencial saber onde se está”. Apesar de sensata, não se adéqua mais à agilidade dos dias de hoje.

A mudança organizacional é cada vez mais rápida e os ciclos de transformação são cada vez mais curtos. Porém, a percepção de que este fato permite uma abordagem mais pragmática e simples ao problema da Arquitetura Empresarial, é normalmente ignorada.

O PROBLEMA

A fase de levantamento inicialmente referida e o carregamento do estado atual da organização num repositório ou base de conhecimento é talvez uma das etapas mais críticas numa iniciativa de Arquitetura Empresarial. Isto porque, tipicamente, existe uma forte probabilidade das informações obtidas após a conclusão do levantamento estarem já desatualizadas face à realidade da organização. Como este levantamento do AS-IS é sempre algo bastante complexo e exigente em termos de esforço, a suspeita (ou em muitos casos a certeza) de que irá ficar obsoleto rapidamente é um forte elemento contra uma iniciativa de um projeto deArquitetura Empresarial. Aliás, este será talvez o principal argumento dos descrentes sobre os benefícios da Arquitetura Empresarial.

Antigamente, antes de entrarmos na era globalizada que vivenciamos hoje, o fluxo de informação, assim como o ritmo das mudanças organizacionais, era lento. Os ciclos de transformação duravam entre 5 a 7 anos, o que permitia realizar um levantamento do AS-IS que se revelava útil e permanecia válido durante pelo menos nos primeiros 2 a 3 anos. Com a rápida redução dos ciclos de transformação, a validade de um levantamento do AS-IS vem naturalmente se reduzindo na mesma proporção.

Vivemos numa era em que o que é novo agora pode tornar-se obsoleto amanhã. E o mesmo se aplica às informações que servem de base à tomada de decisão nas organizações. Quanto mais rápidos são os ciclos de transformação, mais irrelevante é o detalhe do AS-IS, havendo portanto cada vez menos necessidade de realizar um levantamento detalhado das informações que traduzem a realidade atual da empresa.

Consideremos a título de exemplo uma organização que está planejando o início dos projetos de transformação dentro de 6 meses, e que até lá tem que concluir os projetos que estão em curso. Neste caso concreto, qual a relevância do AS-IS da organização para o planejamento das iniciativas a começar daqui a 6 meses? Com efeito, quanto maior for a transformação decorrente dos projetos em curso, menor será a exatidão das informações hoje levantadas. Após 6 meses, o AS-IS inicialmente mapeado não irá mais traduzir a realidade da organização e como tal não será fiável para a tomada de decisões.

Por absurdo, imaginemos que os projetos em curso iriam alterar toda a organização. Neste cenário o planejamento das ações a iniciar em 6 meses não precisaria do AS-IS de hoje, mas sim do TO-BE resultante dos projetos em curso.

Na prática, as organizações precisam tanto do AS-IS como do TO-BE resultante dos projetos em curso. Ou melhor, precisam da integração dessas duas visões. É esse o desafio que cabe aos projetos de Arquitetura Empresarial nas organizações que estão em mudança.

SOLUÇÃO

Pegando no tópico do último artigo, a capacidade de geração automática de representações/modelos da organização revela-se um instrumento essencial na mitigação deste problema. Desta forma, torna-se possível extrair a informação dos modelos TO-BE produzidos manualmente pelas equipes dos vários projetos e gerar automaticamente um modelo integrado que represente a realidade futura da organização em função da conclusão dos projetos em curso.

Fazendo o paralelo com a física, quanto maior for a velocidade de um corpo menos relevante é a sua posição num determinado momento. Na arquitetura empresarial, quanto maior for a velocidade de transformação da organização menos relevante é o seu AS-IS.

Felizmente, fazer o levantamento do que os projetos estão implementando (e que será o TO-BE imediato) é significativamente mais simples do que realizar o levantamento do que foi feito lá atrás, e que já ninguém quer saber na verdade. Mas este será o tema do próximo artigo.

PARA SABER MAIS

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AUTORES

Prof. Pedro Sousa

Pedro Miguel Sousa

Autor

Mestrado em Engenharia Informática e de Computadores pela Universidade Técnica de Lisboa. Estudioso de assuntos relacionados com Arquitetura Empresarial, Arquitetura de Sistemas, Processos de Negócio, Governança de TI e Engenharia de Software. Atua como consultor especialista em arquiteturas empresariais na Aitec Brasil. ------------------------------------------------------------------------------------------------------ Blog: http://arquiteturacorporativa.wordpress.com/ Site: http://www.aitecbrasil.com.br/eams Grupo Linkedin: http://tiny.cc/arqcorpbr Twitter: @arqcorp_br

Pedro Miguel Sousa

Comentários

2 Comments

  • Ótima colocação, Pedro.
    Penso que toda iniciativa de mapeamento do AS-IS deve ser precedida de uma análise da sua real necessidade.

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