Carreira

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CEO: o imperador do século XXI

publicado por Alberto Parada

Na idade média, império romano, e até mais recentemente, no século XIX, quando Napoleão era o grande vilão da Europa, os imperadores eram soberanos, mandavam e faziam as leis a partir das suas vontades, eram cercados pelos súditos que os afagavam de toda maneira para viver as benesses do seu poder.

Passados alguns séculos, os reis e imperadores ainda povoam parte da Europa, Ásia e alguns reinos perdidos pela África, todos, exceto os tiranos africanos, claro, possuem apenas uma função decorativa, quase igual a um animal exótico no zoológico, recebendo visitações diárias em troca de um punhado de dinheiro para manter seus mimos.

Visto isso, quem imagina que os antigos imperadores foram absolutamente extintos está enganado. Eles apenas mudaram sua corte e seus poderes para outros reinos. Hoje habitam as corporações mundo afora.  Antigamente, trocavam o afago dos súditos por proteção militar; hoje sustentam suas cortes com regalias, polpudos bônus e quinhões de departamentos e filiais, tudo muito parecido com a distribuição de terras na época feudal.

Sua atuação também não mudou. Antigamente conhecia-se seu reinado pela linhagem familiar, os mais tradicionais e de cultura mais nobre tinham a tendência de serem mais amáveis, condescendentes e populares entre seus súditos; os mais conquistadores e truculentos conseguiam o respeito à base de sangue e medo.

Hoje, a linhagem familiar foi substituída pelo histórico de carreira. Os CEOs de formação financeira, que antes de sentarem no trono foram CFOs, possuem a prática de restringir e controlar tudo em seu reinado. Este é marcado pelo controle absoluto dos gastos; seu sonho é não ter despesa nem que para isso não tenha receita; seu lema é que despesas são como unhas devem ser constantemente cortadas. Mais reclusos, tem uma corte singela; normalmente é tímido e pouco comunicativo, administra por comunicados formais e raramente se expõe em aparições públicas com a plebe que lidera; é grande cumpridor das suas metas e, normalmente, tem um reinado longo pois garante a longevidade das empresas.

Os oriundos das tendas de marketing são como os velhos imperadores populares, amados por todos, caminham de maneira desenvolta pelos departamentos, adoram ser conhecidos e conhecem muitos dos seus súditos pelo nome; adoram festas e exibições públicas e tem na exposição seu grande balaústre; fantásticos para tirar as empresas do anonimato, mas deficiente em manter a longevidade do seu reino; não raramente são surpreendidos com um golpe mortal por um dos componentes da corte, sempre à espreita, esperando uma oportunidade para esfaqueá-los, normalmente utilizando como golpe fatal o não cumprimento das metas.

Os mais típicos são os que assumem os tronos oriundos da linhagem comercial. Assustadoramente focados nas metas e resultados, não são adeptos de processos e controle; seu negócio é estar de frente ao cliente, buscando vendas e mais vendas; comumente é arredio nas tarefas administrativas que facilmente são delegadas a súditos que o acompanham há muito tempo, seguidores desde outros reinados.

Sendo um batedor de metas, tem sua grande deficiência na retaguarda. Costumeiramente promete mais do que a própria capacidade que seus súditos conseguem entregar, além de terem o costume de colocar a venda acima da própria lucratividade, seu reinado costuma ser mais longo que os marqueteiros, mas nada comparado aos financeiros.

Sei que muitos que leem estão esperando o relato sobre o CEO oriundos da carreira de TI. Pois é, este imperador não existe e os que existiram tiveram morte prematura.

Analisando os feudos que criam profissionais de TI, logo concluiremos que jamais conseguirão assumir o trono e imperar sobre os súditos e por longo tempo.

Com características introspectivas são criados trancados em quartos ou em ambientes que a convivência acontece apenas com seus pares; quando acessam o mundo externo o fazem através de meios digitais; odeiam falar e tem péssima redação;  quando saem dos feudos e integram as empresas, continuam vivendo em comunidade e raramente se relacionam com pares de outras áreas; acessam a corte inicialmente de maneira tímida, apenas como fornecedores de informações e, quando começam a frequentar as cerimônias e eventos da corte, normalmente se sentem mal com a vestimenta e com as conversas. Avessos a clientes e a controlar, seu foco é a tecnologia pela tecnologia, não importando muito se ela terá alguma utilidade.

Mesmo fazendo parte da corte, seu maior sonho era continuar como técnico em algum quartinho mexendo com seus brinquedos e se comunicando com o mundo o mínimo possível.

Poucos em toda história moderna assumiram o trono. Os que fizeram foram mais por sua criatividade em desenvolver produtos de enorme sucesso e que acabaram mudando a história, como Bill Gates e Steve Jobs do que pelo seu brilhantismo em liderar seus súditos de maneira eficiente.

Os mais críticos irão, com certeza, lembrar de outros oriundos dos feudos de TI que assumiram o trono e tiveram um longo reinado. É fato, eles existiram e aparecem aqui ou acola, mas com um pouco de cuidado e analisando seu passado, encontraremos períodos que estes imperadores passaram em outros feudos aprendendo a arte de vender, de aparecer ou de controlar.

Autor

Fundador do : descomplicandocarreiras.com.br

Alberto Parada

Comentários

4 Comments

  • Como sempre um excelente artigo.

    Parabéns …

  • Um certo Homem Sábio, certa feita, quando uma mulher ao acusar sua rival de tê-la tomado seu filho perguntou: “de quem é o filho”? e as duas responderam: “o filho é meu”, então Sabiamente ele acrescentou: “então vamos dividi-lo ao meio, assim cada uma fica com sua parte”; uma das jovens senhoras, em prantos, brada com todas as suas forças: “por favor, deixem que essa mulher leve a criança”, enquanto que a outra concordou com a ideia da “divisão” proposta. Moral da história: quem é a verdadeira mãe? é aquela que diante da perda do filho preferia perde-lo. Vejo o Homem Sábio dessa História, como um Homem de Equilíbrio, o qual com um alto nível de discernimento soube e contribuiu com grandes resoluções, independente de sua origem, a qual conforme contexto histórico, teria contribuído para que fosse diferente; não sei se perceberam, mas estamos falando do Rei Salomão, Oriundo da Linhagem de Davi, o qual o teria influenciado se não fosse o mesmo designado a tal destino: o de manter a Sabedoria que havia-lhe sido dada, pela parte de Deus.

    O que desejo dizer com tudo isso? no mundo coorporativo, muitas são as origens, contudo quando se está certo e seguro da missão, por meio da qual impunha-se a espada compromisso, mantem-se o equilíbrio nos momentos de decisões e mesmo diante do que possivelmente nos levaria a tomadas visões impensadas, atreladas aos “espíritos” históricos e “profanos” de nossos antepassados organizacionais podemos ainda ser prudentes e melhores tomadores de decisões, isso é claro atrelado a uma boa equipe e regado a bons e confiáveis amigos.

    Acredito no resultado de uma postura regada de equilíbrio e coerência na ora de uma decisão.

    Abraços amigo; parabéns pela matéria!!! Muito Boa!!!

  • Professor Alberto,

    Adorei, estou iniciando minha vida de pesquisadora e o CEO é meu foco de estudo.

    Excelente mesmo!!

  • Ótimo artigo Alberto, eu concordo plenamente com a visão que vc demonstrou, nestes últimos anos como profissioal venho aprendendo técnicas de outros feudos, justamente visando um maior crescimento profissional, o que vejo no mercado hoje, e que o profissional de TI tem de dominar muitas vezes conhecimentos que vao alem da area técnica, para ter destaque e quem sabe valorização profissional.

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