No final de 2011, participei de uma conferência em Berlin sobre banda larga móvel. Para minha surpresa, a maioria das operadoras presentes reclamou da dificuldade em servir seus clientes, diante da demanda causada pela explosão dos Smartphones e dos tablets. É aquela história, o mundo dá voltas né? Não mais que derepentemente, uma situação se inverte.
Não faz muito tempo, eu participava de conferências onde a choradeira geral era devido à inexistência de demanda pelos serviços de 3G. Que as operadoras haviam investido rios de dinheiro nessa nova tecnologia que permanecia subutilizada. Snif, snif…. Se a choradeira de dantes talvez fizesse sentido, a de hoje me soa artificial: o famoso chorar de barriga cheia. Deixa ver se eu entendi o X da questão: Os sujeitos estão reclamando que os consumidores estão querendo os produtos deles “exageradamente”? Produtos os quais os clientes pagam relativamente altas quantias em relação aos custos de produção, e que os “fabricantes” tem totais condições de regular o preço (e por conseguinte demanda), baseado em parâmetros como hora do dia, tipo de dispositivo utilizado, posição geográfica, velocidade de transmissão, total de bytes transmitidos, etc. Você por um acaso já viu outra indústria reclamar disso? Já imaginou a indústria automobilística dizendo: “Como nossa vida é difícil, nossos clientes estão sempre consumindo mais e mais carros, não estamos conseguindo suprir a demanda”. Somente em alguns casos específicos, notadamente nos grandes centros urbanos como Tóquio e Londres, a choradeira faz sentido.
Nesses lugares as operadoras estão realmente sem ter como suprir a demanda por absoluta falta de espectro, e é aí que entra em cena uma idéia antiqüíssima, da época do início do sistema GSM: Fazer o offload da rede móvel celular para uma rede não licenciada, como por exemplo, Wi-Fi. Isso já havia sido tentado antes pela UMA, mas na época não foi viável economicamente. Agora essa ideia, depois de uma plástica de rejuvenescimento tecnológico, pelo menos nesses lugares congestionados, está voltando com força total.
Aqui na Suécia, a maior operadora da Escandinávia, TeliaSonera, há muito investiu bastante em Wi-Fi e hoje possui uma excelente cobertura nas grandes áreas urbanas. Sem contar que os telefones também evoluíram muito do finado/ressuscitado UMA para cá –hoje, o celular que você tem na mão é quase que um supercomputador da época- mas ainda permanece o desafio de criar um “handover“ automático da rede celular para a Wi-Fi. Naturalmente, as empresas vendedoras de infraestrutura estão achando toda essa história ótima e a Ericsson inclusive já saiu na frente adquirindo uma empresa especializada em Wi-Fi. Garanto-lhes que muito em breve essa história de handover terá sido superada, ainda mais que todas as grandes da indústria já estão no processo de “trials” dessa tecnologia, antes mesmo da padronização que certamente ainda levará um tempo.
Um assunto de realmente dar pano prá manga, ainda mais que já tem gente (a própria TeliaSonera) levantando a bandeira do oposto, isto é, fazer o offload da rede Wi-Fi para a celular. Em conclusão, como praticamente tudo na vida, o mundo dá voltas e quem está por baixo hoje pode estar por cima amanhã; tecnologias e idéias que há anos atrás se mostraram inviáveis voltam de repente a ficarem em voga com força total. Na próxima crônica, vou continuar no mesmo tema e falando da mesma conferência. Contarei a história da minha interessante conversa com um dos VPs to YouTube. Abraços daqui da capital da Bulgária, Sofia, para vocês e até a próxima.