Olá amigos,
Eis que finalmente, aconteceu o que, particularmente, achava inevitável de acontecer com os Profissionais de TI do Brasil: a Greve de TI dos profissionais (em São Paulo).
Pessoalmente, desde minha época de faculdade, onde já atuava na área, conversava com meus colegas sobre o poder que os profissionais de tecnologia/telecom teriam sob toda a produção do país. Afinal, atuamos em aeroportos, universidades, hospitais, no congresso nacional, empresas de engenharia, de RH, até no Vaticano, enfim, atuamos em todos os setores produtivos da sociedade brasileira.
98% das conversas sempre foram desanimadoras, porque sempre ouvi que eu teria “espírito revolucionário”, era “anarquista” (hã?) ou simplesmente maluco.
Na verdade, nunca incitei os colegas a nos organizarmos para criar movimentos grevistas. Sempre tentei trocar idéias e colocar para todos a visão que já tinha aos 20 anos de idade, de que os profissionais de tecnologia eram muito mal reconhecidos, com raríssimas exceções proporcionalmente falando, não só salarialmente, mas com exigências de carga horária enormes (guardadas em famigerados bancos de horas), “obrigados” a aprender e implementar novas tecnologias, softwares, bancos de dados, appliances, entre outros, sem treinamentos e até sem reconhecimento, mantermos serviços críticos “24/7” com equipamentos inadequados, ambiente de trabalho sem o mínimo de condições de “pensar” ou analisar um problema, falta de infraestrutura para backups, manutenções, projetos, ausência de setor de recursos humanos “real” para dar suporte (porque não) aos problemas, stress, fadigas que só nossa profissão causa.
Mas atenção: não me entendam mal, não somos exclusivos nestas questões, nem tento rasgar sedas para nossa área; estou citando constatações que muitos de nós já passaram. Costumo dizer que, quando comparados a cargas horárias e responsabilidades, o profissional de TI, principalmente aqueles que mantém infraestruturas de serviços chamados “24/7”, somos os únicos que podem ser comparados a médicos, excetuando, claro, a questão salarial.
Então, este movimento que houve em São Paulo com repercussão nacional, me deixou muito feliz, renovou minhas esperanças, não pela greve, mas pela movimentação dos profissionais. O mais importante não é parar os serviços: na minha humilde opinião, o preço de conseguirmos mostrar à sociedade que não somos “aqueles caras que instalam o Windows e tiram antivírus” (sim, somos uma sociedade desinformada. E muito), que mantemos muitos serviços que podem causar tragédias, vide os controladores de vôo por exemplo, ou os responsáveis pelos servidores que monitoram toda uma usina nuclear, é incomensurável.
Mas, como todos os assuntos que relacionam empregados e empregadores, essa “movimentação” pode não ser bem vista e daí o motivo deste artigo: analisar até onde devemos ou podemos nos envolver com o intuito de até mesmo melhorar os ambientes dos próprios empregadores, possibilitando permitir altos períodos de uptime de serviços, diminuindo os custos, otimizando “os” ROI (return over investiment), enfim, com melhores condições de trabalho é FATO que o retorno para os empregadores é estatisticamente comprovado.
Então. O que fazer?
Vamos traçar 3 perfis:
1. Profissional com salario de mercado, plano de saúde, 13 salarios anuais, casado, plantão de 24 horas 3 semanas por mês;
2. Profissional com salario 3 vezes acima do mercado, participação nos lucros, planos de saúde familiar, prêmios por produtividade, possibilidade de home office, casado, 2 filhos, carga horária de 45 horas semanais;
3. Profissional com salario 2 vezes acima de mercado, solteiro, carga horária de 45 horas semanais, plantão de 24 horas 2 semanas por mês.
Agora, pense rápido, dentro do seu networking ou de amigos com perfis parecidos, quem estaria suscetível a buscar melhorias de trabalho?
É importante deixar claro que, neste caso, foi uma observação pessoal feita, a partir dos mais de 15 anos de mercado, trabalhando no Brasil e no exterior.
Por experiência própria, claro, a resposta é: “isso é muito relativo!”.
Mas porque? Porque há uma tendência sócio-cultural nos profissionais brasileiros (neste caso de qualquer área profissional) de acomodar-se, principalmente por medo de perda de emprego. Analisando os perfis fictícios acima, a tendência é muito grande para que os profissionais com maior salário, casados e/ou com filhos não se envolvam neste tipo de assunto. Em “entrevistas” feitas, muitos relatam que possuem “muitas responsabilidades”, filhos e esposa(ou marido), tornando muito arriscado qualquer movimentação neste sentido.
O profissional com menor salário, solteiro, estaria mais tendencioso a “lutar” mas, mesmo assim, não encontra apoio em colegas até para se informar diante dos órgãos reguladores ou fiscalizadores das leis de trabalho.
Então, amigos, será que chegou a hora de começarmos a pelo menos pensar no assunto? Observem: todos os anos, muitos profissionais de TI buscam oportunidades no exterior, buscando condições de vida e profissionais melhores. Simplesmente por acreditarem que as condições do mercado de TI não irão mudar tão cedo.
Pois, a conclusão pode ser que podem haver consequências “negativas” ao ser perfil profissionais, sim. Mas também, você pode colaborar para a melhoria do seu próprio trabalho, da sua empresa, e porque não, o desenvolvimento do nosso país. É sabido que temos no Brasil profissionais de TI que não devem nada a outros profissionais de qualquer lugar do mundo. As diferenças começam nas estruturas escolares e acadêmicas, passando por questões políticas. Podemos citar aí, órgãos educacionais como o M.I.T. nos Estados Unidos e o INL (Laboratório Internacional Ibérico de Nanotecnologia) criado em conjunto por Portugal e Espanha.
Por razões de termos de confidencialidade, estou impedido de citar muito, mas posso dizer possuímos no Brasil um projeto que está previsto para mostrar seus resultados na Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016, mas que não pôde contratar todos os profissionais porque, segundo consta, “ainda há indefinições” sobre a liberação das verbas já aprovadas pelo Governo Brasileiro.
Pasmen, sem absolutamente nenhuma vertente politica, o Brasil esbanja desenvolvimento econômico, etc, e não investe em pesquisas num número mínimo para que possamos ter destaque “real” mundialmente. Os projetos que acontecem, na sua grande maioria, são criados na cara e na coragem de alguns, normalmente com pouco ou nenhum apoio governamental, em qualquer esfera. Por outro lado, Portugal e Espanha, em forte crise econômica e com números altos de desemprego, investiram milhões, sim milhões de euros para contratar os melhores profissionais de mundo para o Instituto citado.
Resumindo, de novo, a questão da educação/informação faz a diferença.
Enfim, reitero, não está na hora de lutarmos por melhores condições de trabalho, para demonstrar a importância e relevância do nosso trabalho para a sociedade no intuito de sermos reconhecidos, sem precisar fazermos greve? Já pensou que categorias profissionais como bancários e rodoviários fazem todo o país “morrer de medo” quando ameaçam parar porque eles são UNIDOS? Neste 1° de Maio, Dia do Trabalho, Faça sua reflexão.
Para finalizar, e alguns arrancarem o resto de cabelo :), um link para o vídeo construção do Laboratório Internacional Ibérico de Nanotecnologia, que foi construído em aproximadamente 8 meses e com investimento anual de, ATENÇÃO, 30 MILHÕES DE EUROS.
Um grande abraço e até a próxima.
Eu particularmente penso que esta greve é mais uma jogada de por parte dos “Sindicatos” afim de conseguir novos adeptos. Quantos dos seus colegas de trabalho especialistas, falando dos que realmente correm atrás para se manter atualizado com as tecnologias e com o mercado, ganham menos de 1500,00? Acho que nenhum.
Portanto para esta galera que acredita que a greve pode resolver alguma coisa, não é 6% ou 8% de reajuste que o Sindicato briga que vai resolver sua vida. O caminho é estudar, se especializar, larguem a preguiça de lado e corram atrás, hoje temos inúmeros programas para estudo gratuitos e muita informação de qualidade espalhada na internet.
As coisas aqui no Brasil demoram, mas até que andam. Como podemos ver nesta notícia:
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=laboratorio-nanociencia-nanotecnologia&id=010175101210
Discordo do Douglas quanto a renumeração citada. Vejo a mesma situação descrita pelo Marcelo, principalmente fora das regiões de polo tecnologico ( sul Brasil, S.R.Sapucai, Hortolandia, etc .. ) onde não se valorizam o profissional, apesar deste ter o mesmo perfil e qualificação dos demais. Dizem que a valorização esta atrelada ao custo do projeto e aos impostos da regiões; até que ponto isto é verdade?
Marcelo, muito bom artigo. Expressa minha opinião também.
Douglas, achei seu comentário ambíguo. Você acha R$1.500,00 um bom salário? O Brasil e os profissionais de TI precisam de muito mais que cursinhos gratuítos: mestrados, doutorados, centros de pesquisa, planos de carreira, etc. O Marcelo foi muito feliz em seu comentário: O mais importante não é a greve, mas a união. Como classe unida poderias a ajudar a definir o futuro do Brasil, não continuar somente seguindo a decisão de outras classes.
Acho interessante uma greve desse tipo pois mostra que nossa classe esta se unindo o que ja demonstra um pensamento diferente do de antes, eu particularmente nunca fiquei desempregado ou ganhei abaixo do mercado (na verdade na maioria das veses ganhei acima da media e tambem corro atraz não espero salario de uma unica empresa para sobreviver) Não Sobrevivo eu Vivo sempre me atualizando…
Muito legal o texto.
Existem sim, profissionais que são explorados em alguns lugares. Acho que tanto em desenvolvimento (programadores de linguagens mais comuns e populares que ganham pouco) e infra-estrutura (o rapazinho bombril da empresa). Costumamos avaliar apenas o mercado que paga bem, mas como em todas as profissões, existem aqueles quebra galhos que vão ficando e ficando…
Acho que tem muita coisa pra ajeitar ainda.