Há alguns séculos, um homem vivia no máximo 30 anos. Se não fosse vencido pelas eternas batalhas que lutava, a busca de novas conquistas para o seu rei, com certeza era acometido por alguma doença. Uma gripe mais forte ou uma simples infecção de urina era o suficiente para ceifar sua vida. Em raras situações, quando conseguia passar dos 40 anos, sua aparência física era terrível, igual ou pior à dos anciões acima dos 90 anos dos dias de hoje.
Neste período, os sobreviventes eram referências para seu reino, respeitados pelos guerreiros e idolatrados como lenda pelas crianças que sonhavam um dia ir para as batalhas e conseguir, como ele, ser um grande gladiador. Eram tão importantes que o estado os mantinham como conselheiros referencias para elaborar estratégias para as novas cruzadas.
Os séculos passaram e a evolução tecnológica invadiu todos os cantos: a gripe ainda não tem cura, mas não mata mais ninguém; os avanços são tantos que um homem com 77 anos como o empresário Abílio Diniz, pai há não mais de 6 anos, tem planos para voltar a investir no mercado de varejo depois de vender seu conglomerado e ninguém é louco de dizer a ele que ele já passou da idade.
Não é mais possível, mesmo em classes sociais diferentes, dizer que um homem está velho olhando apenas sua data de nascimento. Um exemplo pouco conhecido foi o Sr. Abraham Kasinsky, que fundou sua fábrica de autopeças COFAP (aquela da propaganda do cachorrinho que derrapava na curva) em 1955 com 37 anos, a vendeu quando já tinha 70. Nessa época todos pensavam que ele iria se aposentar, mas ele foi contra e criou a fabrica de motos que levou seu sobrenome.
Exemplos de competência e longevidade não faltam. Quantos torceriam o nariz e reprovariam a substituição de um jovem executivo de 51 anos por um senhor já considerado de terceira idade com 64 anos? Com certeza poucos aprovariam. Porém, este ‘vovozinho’ assim que assumiu suas funções, mudou a cara e a maneira de jogar do esporte mais popular do país e já em sua primeira competição conquistou a taça de campeão na copa das confederações.
A experiência, aliada à saúde física e mental está mais que provada que dá grandes retornos. Juntando isso à geração Y e às outras que antecedem os sessentões com certeza conseguimos montar uma estrutura organizacional vencedora. Mas porque isso não acontece?
Muitos vão dizer que os principais CEO estão próximos desta idade ou já passaram dela, mas não é aí o grande problema do mercado porque existe tanta resistência em aumentar ofertas de emprego no meio da pirâmide para o pessoal com muita experiência (e não é mudança de carreira que estamos falando) muito menos contratar como trainee uma pessoa de 60 anos. É utilizar profissionais com muita experiência técnica e gerencial que, por diversos motivos, não chegaram ao topo da pirâmide, o que não quer dizer que são incompetentes.
Ouvimos muitas desculpas a respeito: eles falam sempre a mesma coisa, vivem do passado, não são atualizados tecnologicamente e tantas outras. Muitas delas podem ser verdadeiras, mas o fato é que, mesmo antes de chamar o candidato para uma conversa, ele já é descartado pela idade.
E, se ele, ao invés de falar do passado com saudosismo, mudasse o discurso substituindo “no meu tempo” por as melhores práticas do mercado, afinal é exatamente isso que os gurus gringos que passaram há muito dos 60 fazem com sua experiência e nós pagamos um caminhão de dinheiro para ouvi-los.
Uma nova roupagem, um banho de loja e uma atualização tecnológica que não precisa transformar ninguém em nerd, seria de grande valia para o mercado. Profissionais maduros não tem problema com droga, estão estabilizados financeiramente e tem disciplina invejável, e não saem trocando de emprego toda hora o que resolveria um problema que as empresas gastam milhões anualmente e muitas vezes não conseguem resolver que é deter e disseminar o conhecimento, sem contar que o exemplo do mais velho ainda é um grande gerador de referências positivas para os mais novos.
Se atualmente os brilhantes executivos gostam de pregar que adoram quebrar paradigmas, procuram todos os dias por novos desafios, que o resultado financeiro tem que compensar o investimento, aí esta uma oportunidade fantástica de fazer tudo isso junto. É só viabilizar o retorno para dentro das corporações de profissionais que irão reduzir as despesas, aumentar a produtividade e de quebra garantir seus bônus.