Nos últimos anos venho apresentando inumeras palestras sobre Cloud Computing, Big Data, Mobilidade e Social Media. Embora muitas vezes estes temas sejam apresentados de forma independente, eles formam uma convergência de forças transformadoras que, na minha opinião, irão mudar de forma radical o atual “way of life” de TI. Os dispositivos móveis, impulsionados pelo tsunami da consumerização serão a plataforma de acesso, onde volumes imensos de dados e processamento serão operados em nuvem, criando inumeras e inovadoras formas de conexões entre pessoas e empresas, gerando o que chamamos de social business.
No ambiente doméstico já vivenciamos isso no nosso cotidiano. Por exemplo, posso armazenar uma informação, seja esta um texto ou uma foto, e acessa-la pelo meu smartphone, meu tablet, meu iPod e meu laptop. Onde estão estas informações? Não estão no disco rigido do meu laptop, mas em uma nuvem. Este movimento vai, e, creio, rapidamente, também entrar no ambiente corporativo.
As razões são muitas. Uma delas é que os usuarios domésticos, e principalmente a geração digital que está entrando no mercado de trabalho, já lidam com a tecnologia com muita intimidade. Além disso, a imensa complexidade da infraestrutura por trás de um contexto destes está mascarada para eles. Eles interagem com seus dispositivos móveis sem ter idéia da complexidade tecnológica que está na retaguarda. Por outro lado, nas corporações, muito da complexidade tecnológica está exposta aos seus usuários. Eles devem interagir com TI para obter novos serviços e serem autorizados a usar determinada tecnologia. As interfaces dos sistemas e aplicativos são complexos e pouco intuitivos. Requisitar mais capacidade computacional é demorado, passa por um lento processo de aprovação e instalação de novos servidores e softwares. Claramente que existe uma diferença significativa e palpável entre a imensa facilidade com que a pessoa interage com a tecnologia em casa e como ele interage com ela no seu ambiente de trabalho nas empresas. Este descompasso cria uma pressão muito grande para a reformulação do atual cenário de TI.
Em casa posso pesquisar rapidamente um livro eletrônico na Amazon e baixa-lo para meu Kindle. Posso ver filmes atuais via Netflix e pegar qualquer musica no iTunes, de forma facil e quase instantanea. Faço isso sozinho, sem necessidade de recorrer a nenhum suporte técnico. Esperar horas para ter acesso a quaisquer destes recursos é inimaginavel. Estas mudanças estão fazendo com que alguns setores caminhem para obsolescência, mesmo sem perceber. Um exemplo? Eu confio muito mais nas opiniões dos meus amigos que na opinião dos criticos de cinema quando escolhendo um filme. Existirão criticos de cinema no futuro? Decisões sobre tecnologias são muito mais influenciadas pelas conexões com outros profissionais via plataformas sociais como Facebook, Linkedin e Twitter que pela leitura dos sites oficiais das empresas. Qual será o valor de um site tipico de hoje daqui a cinco anos?
Mas, nas empresas, o acesso às informações e recursos computacionais leva muito tempo. Os processos são demorados e muitas vezes burocráticos. A tecnologia nem sempre é usada para transformar processos, mas simplesmente automatiza-los. Não criam inovações no dia a dia dos funcionários e nas relações da empresa com seus clientes.
Portanto, neste verdadeiro turbilhão de transformações as áreas de TI devem reinventar-se. A convergência aparece em todos os momentos. Por exemplo, para criarmos um modelo de social business, o acesso via dispositivos móveis é essencial. A computação móvel vai ter tanto impacto na sociedade e em seus hábitos como o automóvel. A sociedade atual é baseada em um modelo centrado no automóvel. Com a computação móvel o trabalho deixa de ser um local fisico, estabelecido, para ser o local onde você está. As pessoas querem fazer suas conexões a qualquer momento, exatamente quando precisarem. A rede social também depende de escala e para suportar esta escala é necessario um ambiente computacional dinâmico como cloud. E as conexões geram muitas informações, que, se analisadas e correlacionadas, nos permite ampliar a rede e gerar mais conexões: Big data.
A computação em nuvem é o elo de ligação entre as outras forças. É a base em que construiremos um novo modelo de aquisição e entrega de produtos e serviços de TI. Na verdade, TI tende a ser serviço por excelência. “TI-as-a-Service” será o modelo dominante, quem sabe, já no final desta década.
Este cenário apresenta um grande desafio para as áreas de TI. O processo atual de identificar uma determinada tecnologia, instalá-la e ensiná-la aos usuarios cai por terra diante da consumerização. Esta permite que os usuarios escolham suas próprias tecnologias e aprendam a usa-las sozinhos ou com ajuda da sua rede social, sem interferencia dos fornecedores. A convergencia das forças, e principalmente a consumerização está deslocando o eixo de controle da TI para o usuario. Em tempo, consumerização é muito mais que BYOD (Bring Your Own Device), pois sua influência cria uma expectativa de experiências com a tecnologia que provoca disrupções na maneira como TI deverá ser usada nas empresas. BYOD é consequencia da consumerização e não sinônimo. Portanto, os setores de TI que continuarem sendo rigidos e inflexiveis diante destas mudanças correm o risco de se tornarem anacrônicos.
TI não tem outra alternativa, a não ser se transformar. É verdade que as transformações no setor de TI de uma empresa são tarefas complexas. Existem inumeros sistemas legados a serem mantidos e diversas gerações de tecnologias que interoperam entre si, mas é importante que o legado fique restrito apenas aos sistemas e não ao mind-set. O que TI deve fazer? Redesenhar sua arquitetura para contemplar a convergência das quatro forças, que interagem entre si, impulsionando-se reciprocamente. Os dispositivos móveis são a plataforma de acesso e um impulsionador para as midias sociais. A informação passa a ser o contexto para a criação das conexões e o ambiente de cloud computing é a base computacional para suportar todo este cenário.
TI pode, com esta arquitetura, deixar de ser um centro de custo para ser parte integrante do negócio, como a plataforma que a empresa vai usar para criar novos produtos e negócios. TI passa ser função do negócio e o CIO deve se transformar em um executivo de negócios que usa tecnologia como alavancador de inovações, e não se manter como um tecnocrata. Deve pensar e falar a linguagem do negócio e não em 0s e 1s. Focar na tecnologia por si é apequenar o potencial da TI.