Tecnologia

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O movimento das ruas – do Facebook ao “Co-Creation”

publicado por Antônio Sérgio Borba Cangiano

Nosso século XXI está muito veloz nos acontecimentos.  Uma manifestação nas redes sociais, contra o  aumento de tarifas de transporte, tomou proporções nacionais com repercussão internacional. Cerca de dois anos atrás, uma discussão com policiais na feira Árabe seguida de uma ação desesperada do comerciante provocou a Primavera Árabe com manifestações nas ruas.

As redes sociais começam a mostrar o seu poder ampliado no globo. Contra a elevação da tarifa, a mobilização social, sem líderes e basicamente coletiva, e isso é motivo para reflexão de sociólogos e políticos, começou na rede e foi para as ruas, e muitos brasileiros e estrangeiros, mesmo em outros países, fizeram manifestações de apoio, sem mesmo serem usuários dos “busões”  paulistas e cariocas. Isso tudo consequência de insatisfações, associadas às facilidades das tecnologias que estão no ar e em uso nas redes sociais.

As mídias e as redes sociais ampliam o seu poder rapidamente nesse milênio, e é um fenômeno que todos tentam decifrar e que tem como protagonistas os jovens que nasceram com a TV , internet e mobilidade. A rua é o espaço democrático por excelência, e esta sendo ocupado para expressão pacífica de reivindicações, e isso é uma conquista do Brasil.

As tecnologias usadas nas redes sociais que facilitam o incentivo para a ação, basicamente usam comunicação interativa, apesar de grandes impactos ainda são insuficientes para o “empowerment”, ou aumento do poder do Cidadão . Quando se trata do cidadão e não do consumidor, o assunto toma uma dimensão importante para a democracia, vai desde a garantia de privacidade no mundo virtual, até a garantia sobre os dados individuais, direitos autorais e direito universal de uso da rede mundial. Quando se trata de dados de manifestações e fatos privados sensíveis, contra a imagem do cidadão ou entidades, o marco jurídico deve dar conta para conter arroubos tipo “Big Brother”, de Aldous Huxley, dos idos de 1984 . Perguntamos: as tecnologias atuais são democráticas? Garantem a democracia? Tem limites? Essas perguntas servem para colocar uma divisória entre ações bem intencionadas de governos para descobrir o que o cidadão necessita, ou ações para saber qual o seu nível de satisfação com os serviços públicos e atendê-los antecipadamente.

Podemos descobrir que uma análise de enorme volume de dados dos cidadãos usando por exemplo o Big Data terá  impacto limitado na democracia como conhecemos, desde que usada criteriosamente dentro da legalidade. Essas tecnologias podem até melhorar a velocidade de atendimento de necessidades dos cidadãos, e só. Porém novas tecnologias e tendências atuais em curso poderão transformar a forma do cidadão interagir com o Estado e incentivar a construção em conjunto de um mundo melhor mais consensual em regime democrático participativo.

Plataformas de Co-Criação, e “crowdworking” já estão no ar, para ao invés de buscar descobrir os desejos do consumidor ou do cidadão, incentivá-lo a construir novos produtos e soluções para o mundo real. Essas novas tecnologias, não sabemos ainda seus impactos, mas seguramente teremos soluções com mais produtividade e resultados mais coerentes e melhores, quando governos e cidadãos e sociedade trabalharem juntos. Para ilustrar essas novas tecnologias, que extrapolam a interação com a internet, com facilidades de criação simultânea de projetos, com ferramentas gráficas, com acesso a banco de dados de projetos, dados abertos de governo e patentes públicas, e com terminais smartphones, ou seja interface fácil, passamos a mostrar exemplos de uso de plataformas para Co-Criação em governo. Essas ferramentas servem para construções coletivas de soluções para atuações do Estado, governos e municípios, como acontece em países como EUA e Inglaterra. Em recente palestra no COGEP – Congresso de Gestão do Conhecimento na Administração Pública, um dos autores do livro “The Future of Competition” , Venkat Ramaswany mostrou a nova era do engajamento em plataformas de Co-Creation” .

Busquem os sites com seu browser e ficarão surpreendidos como fiquei: http://www.crowdsourcing.org/site/manorlabs/manorlabsorg/3055la (Manorlabs é uma plataforma para a inovação aberta desenhada para permitir ao cidadão ajudar o município a resolver problemas que impactam o governo), https://cosponsor.gov (“fique conectado com o Congresso no Facebook. Ele é o seu governo, então faça sua voz ser escutada e fique atualizado no progresso de legislação que você tem interesse” é o chamado no site),http://challenge.gov/search (apresenta uma lista de desafios e oferece prêmios em dinheiro para quem submeter soluções inovadoras e vencedoras). Cada site desse merece um artigo. Para quem deseja conhecer os princípios do governo aberto acesse: http://opengovernmentinitiative.org. No Brasil no portal da Câmara existe o e-democracia, que nos permite acompanhar os debates mas não ainda construir soluções. O Brasil apesar de ter sido um dos fundadores do open government, ainda tem poucos dispositivos em ação a exemplo da LAI, Lei de Acesso a Informação e o DadosAbertos.gov.  O movimento  governo aberto conta com a participação do Brasil desde o começo.

Acessem os sites e  poderão visualizar nossa bandeira virtual lá hasteada como país integrante. Os participantes das redes virtuais perceberam o virtual  apenas para comunicação e para o incentivo, não é o  bastante. As ruas têm força, e  qualquer um pode participar. Entendemos isso como avanços da mobilização da juventude, mesmo com o sentimento de que falta algo ainda, pois costumamos ver a vida como algo mais complexo do que as fotos, as poucas linhas dos comentários e dos clicks em “curtires”, e uma gama de cartazes e palavras de ordem, que as redes sociais apresentam cotidianamente. Faltam ainda canais de participação efetiva para além do voto democrático. Para construção de um mundo que queremos com a participação de todos,  essas novas plataformas para trabalho coletivo e criação coletiva podem aprofundar a participação. Estão assegurados a democracia, os direitos de expressão, de mobilização, de manifestação nas ruas. Mas por ora o que se percebe é que é preciso fazer a democracia avançar.

Vemos perplexos que a democracia representativa tem sido negada, basta ver que partidos, políticos, governos, legislativo e judiciário, nosso modelo constitucional, são rechaçados nas ruas pela gama de palavras difusas de negação da ordem e ações de manifestantes. É necessário inovar no diálogo, instrumentalizar a construção com participação, conseguir avançar para a democracia participativa. O Brasil melhorou, o emprego é quase pleno, a educação melhorou, não se tem criança fora da escola, a saúde, a economia, tudo tem melhorado mas grande parte do povo quer participar ainda mais, o que é bom. A democracia deve avançar para a participativa, onde população e dirigentes possam trabalhar para a construção de soluções para a cidadania, e as novas tecnologias podem contribuir. Os governos, os partidos, os sindicatos, as instituições ainda não se apropriaram dessas novas tecnologias para o desenvolvimento da Democracia, mas já estão sendo vítimas delas, justa ou injustamente, dado a enorme facilidade de conexão e comunicação e mobilidade disponíveis como direito universal.

Abre-se uma enorme oportunidade para que a democracia passe de representativa para participativa, onde plataformas de “Crowdworking – like”, em sites de governo aberto onde plataformas de Co-Creation e dados abertos possam ser utilizadas pelos cidadãos, servidores e dirigentes para a construção de um mundo melhor, com resultados para o bem comum produzidos na velocidade que as novas tecnologias e as cabeças conectadas são capazes de produzir. Essa movimentação, mais complexa e participativa, não prescinde das ruas, mas pode ajudar com a informação correta, com o conhecimento necessário, com construções que viabilizem uma pauta de reivindicações consciente, que preencha esse algo ausente, e produza anseios mais concretos e não superficiais, passíveis de serem realizados, e que não poderão ser negados com a força das ruas.

Autor

Mestre em Engenharia de software: redes de computadores pelo IPT - USP, Bacharel em Ciências Econômicas e em Ciências de Computação, ambos na Universidade Estadual de Campinas. É Certificado pelo PMI em Gestão de Projetos – PMP e Conselheiro de Administração e Fiscal – IBGC/CCI. Experiência em empresas multinacionais, nacionais e públicas de grande porte: IBM, Ericsson, Unisys, Atos Origin e no SERPRO como diretor de gestão empresarial. Atuação executiva nas áreas de TIC, Finanças e venda de soluções. Conhecimento e habilidade nas áreas de: Planejamento, Gestão, Comercial, Projetos, Certificação Digital, Viabilidade Econômica/Financeira, Segurança e Sustentabilidade. Hoje exerce cargo de Assessor da Presidência do ITI – Instituto de Tecnologia da Informação – responsável pela ICP Brasil. Autarquia supervisionada pela Casa Civil do Governo Federal. Participa da câmara de segurança e é membro substituto ambos no CGI.BR.

Antônio Sérgio Borba Cangiano

Comentários

1 Comment

  • Muito oportuno o artigo do Sr. Antonio Sergio em que faz um paralelo entre o que acontece nas manifestações e as tecnologias disponíveis que podem ajudar a participação popular na execução e elaboração de políticas públicas.

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