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O Fim do Trabalho: Mito ou Verdade

publicado por Sandro Magaldi

Figura - O Fim do Trabalho: Mito ou VerdadeAfinal, a tecnologia irá acabar com o trabalho? Este é um dos temas mais instigantes da atualidade e que, não à toa, causa tremendo alvoroço em todos os extratos da sociedade.

Os motivos para tamanha preocupação são óbvios, afinal, o que se anunciava como um prenúncio distante de uma catástrofe está mais próximo do que nunca e impacta a realidade de todos os cidadãos brasileiros.

Como sempre temos a tendência, no Brasil, de descambar para as frases de efeito e o bom e velho senso comum ao invés de analisar as condições estruturais desse fenômeno buscando entender seu alcance e distinguir o que é verdade do que é mito. O resultado é uma avalanche de visões trágicas sem lastro com estudos mais aprofundados.

O que tem de real por trás da visão do fim do trabalho?

Inúmeros estudos têm sido publicados visando trazer uma luz a uma questão tão essencial para o desenvolvimento da sociedade.

Um dos mais profundos foi publicado em Dezembro de 2017 pela consultoria McKinsey com o título “Jobs Lost, Jobs Gained”. Trata-se de material de consulta obrigatória para quem deseja estudar o tema, pois foi fundo na questão buscando dados que evidenciem os impactos da revolução tecnológica no mundo do trabalho.

Uma primeira conclusão evidente diz respeito ao impacto da tecnologia na automação dos empregos existentes. Cerca de 60% de todas as ocupações que conhecemos podem ter suas atividades automatizadas em, pelo menos, 30%.

Como evolução desse processo, o estudo aponta que cerca de 14% da força de trabalho global (algo em torno de 375 milhões de trabalhadores) passarão por forte transição na natureza de seu trabalho e, certamente, haverá um impacto decisivo.

O Estudo aponta que no Brasil cerca de 15,7 milhões de trabalhadores devem ser atingidos por esse processo.

Como essa transição tende a ser lenta e gradual, o desemprego tende a aumentar e o crescimento dos salários diminuir.

Cenário desolador e preocupante.

Há, no entanto, uma perspectiva colateral que tem passado despercebido por boa parte dos analistas e curiosos de plantão. Esse movimento tem impactado um dos principais setores da economia brasileira: o Agronegócio

Estudo realizado pelo Centro de Estudos dos Agronegócios da FGV, realizado em 2017, identificou que, nos últimos 5 anos, o número de trabalhadores no setor caiu 1,9% a despeito do crescimento da sua atividade econômica.

O Estudo aponta que o principal responsável por essa tendência foi a incorporação de novas tecnologias no campo que, se por um lado, aumentaram a produtividade da atividade, por outro resultaram na diminuição da demanda por trabalhadores.

Ao mesmo tempo em que essa tendência se consolidou, no entanto, outro movimento forte tomou as mesmas proporções: há um evidente aumento da remuneração dos trabalhadores do setor em um ritmo mais intenso do que os profissionais de outras categorias da economia em geral.

No mesmo período estudado (2012 a 2017) o rendimento real (descontado a inflação) dos trabalhadores do setor cresceu 7% enquanto a evolução média de trabalhadores de outras categorias da economia foi de 4,6%.

Conclusão: se por um lado há a diminuição do volume de vagas disponíveis no mercado, por outro há uma demanda cada vez maior por profissionais qualificados.

Essa visão é uma das relações desses achados com o Estudo Mckinsey: a tecnologia irá gerar demanda para milhões de empregos até 2030. A diferença, em relação à evolução do trabalho de até então, diz respeito à natureza desses novos empregos e a qualificação requerida para atender a esses novos requisitos.

Analisando o fenômeno atual de acordo com acontecimentos históricos de forte substituição tecnológica que aconteceram em períodos marcantes da humanidade conclui-se que de 8% a 9% dos empregos de 2030 serão compostos por ocupações que nunca existiram antes.

São novas ocupações que demandam novas competências e habilidades que emergirão com uma força incrível. Esse fenômeno de criação de novos empregos tem o potencial de suplantar àqueles que irão desaparecer e gerar forte demanda pela contratação de profissionais e pressão pelo crescimento salarial, como já acontece no setor de agronegócios no Brasil.

Essa notícia gera um alívio para a visão catastrofista do fim do trabalho. Essa sensação, no entanto, é, apenas, momentânea, pois por trás dessa perspectiva emerge a consciência de que o tipo de emprego que tende a ganhar força requer um nível de preparação muito distinto dos atuais.

E isso é um problema, especialmente, em uma sociedade, como a brasileira, afeita a subestimar a importância da educação.

Os riscos do aumento da concentração de renda e exclusão daqueles despreparados já se evidenciam como realidade.

Estudo publicado, recentemente, pela consultoria Robert Half aponta que a taxa de desocupação para profissionais com 25 anos ou mais e formação superior é 5,7% contra 11,8% da taxa geral de desemprego no Brasil.

Esses dados ainda não consideram os impactos da tecnologia que tendem a se acentuar em uma velocidade avassaladora. Sob essa ótica é possível inferir que esta ainda é uma visão conservadora das possibilidades resultantes de um futuro muito distinto e desafiador do que o atual.

A questão da readequação de toda a matriz de desenvolvimento dos trabalhadores é um dos temas mais relevantes que deve estar na pauta de todos os líderes globais. Seu impacto não acontecerá em centenas de anos. Sequer em dezenas. A revolução está acontecendo aqui e agora.

Essa nova matriz deve ter como foco a adoção de uma nova filosofia educacional que valoriza o ensino técnico já tendo como base essa nova realidade. As ementas das Universidades e Instituições de ensino se tornaram obsoletas perante o avanço tecnológico que impacta todos os setores da economia.

No entanto, não basta ter como foco, apenas, o aprendizado técnico. É necessário investir no desenvolvimento das habilidades cognitivas, competências emocionais, criatividade e capacidade do desenvolvimento de pensamento crítico. Tomando a licença pelo uso de uma visão popular: é necessário ensinar os indivíduos a pensarem.

Transições causadas por transformações tecnológicas geram deslocamentos importantes no curto prazo e, certamente, resultarão em impactos no mundo do trabalho. A história mostra, no entanto, que no longo prazo são criados milhares de novas oportunidades que geram um saldo positivo entre àquelas destruídas e a geração de novas.

O período de transição é estratégico para uma inserção positiva nesse novo ambiente que se constitui. É demandada uma ação propositiva rumo ao desenvolvimento de iniciativas que visem diminuir o impacto dessa transição ao mesmo tempo em que prepara as bases para o novo.

Ainda não existe uma visão consolidada acerca dos impactos da tecnologia para o mundo do trabalho no longo prazo. Cientistas e pesquisadores têm visões muitos disruptivas – e sombrias – acerca das possíveis realidades geradas pelo aumento da inteligência de sistemas e robôs.

No médio prazo, por outro lado, se evidenciam convicções que apontam caminhos mais racionais e – um pouco – mais previsíveis. Há uma demanda clara pela necessidade de reinvenção do atual modelo de educação para o trabalho.

Sob a ótica do desenvolvimento pessoal, é imperativo que cada indivíduo assuma as rédeas de sua educação de forma contínua e multidisciplinar. Ninguém mais estará “formado” em nada. Todos estarão em eterna “formação”.

Existe, no entanto, a necessidade de extrapolarmos a visão do indivíduo e pensarmos de forma mais ambiciosa.

O tema deve estar presente na pauta prioritária do desenvolvimento de nosso país. A questão do emprego é seminal para a evolução de qualquer nação e as transformações atuais causam um impacto inédito nesse cenário.

Ao não nos dedicarmos, como nação, a reflexão desse tema estaremos, mais uma vez, relegados à margem da margem da evolução global.

A diferença, no entanto, é que as transformações atuais são tão impactantes em um mundo globalizado que os impactos de todas as revoluções anteriores serão irrisórios perante a perspectiva atual.

Arrisco a dizer que, se não fizermos nada, teremos saudades dos alarmantes atuais níveis de concentração de renda e exclusão vigentes em nosso país.

E essa uma responsabilidade de todos nós.

Autor

Sandro Magaldi é cofundador do meuSucesso.com, startup dedicada a incentivar o empreendedorismo no Brasil por meio da apresentação de estudos de caso com empreendedores bem-sucedidos. Foi eleita a melhor empresa de serviços de assinatura do Brasil em 2017 no Assinaturas Awards e recebeu o Prêmio Digital Awards como a melhor plataforma de empreendedorismo do país. Atuou como vice-presidente de clientes e negócios do Grupo TV1, um dos maiores grupos de comunicação do país, e diretor comercial da HSM do Brasil durante nove anos. Tem cerca de trinta anos de experiência em liderança e vendas. Em sua carreira acadêmica, atuou por mais de quinze anos como professor do MBA na Escola de Propaganda e Marketing (ESPM), na Fundação Instituto de Administração (FIA) e na Fundação Dom Cabral (FDC). Como palestrante apresentou-se em eventos para organizações, como Oracle, Toyota, Unilever, Cimed, Coca-Cola e Unimed Seguros, dentre outros. É pós-graduado pela ESPM e tem mestrado acadêmico em Administração pela PUC-SP. É mentor do Instituto Endeavor, do Oracle Startup Accelerator Program; conselheiro do projeto social Gerando Falcões e autor dos livros Movidos por ideias: Insights para criar empresas e carreiras duradouras e Vendas 3.0: Reposicionando o vendedor, a equipe de vendas e toda a organização.

Sandro Magaldi

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