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Malandragens, resistências e sabotagens no ambiente empresarial

publicado por Ricardo Ferrara

Na implantação de sistemas ERP (Enterprise Resource Planning), Sistemas Integrados de Gestão Empresarial é uma integração das áreas de finanças, contabilidade, recursos humanos, fabricação, marketing, vendas, compras com ênfase sistêmica: sistema de processamento de transações, sistemas de informações gerenciais, sistemas de apoio a decisão, há questões de diversas naturezas que precisam ser pensadas para que o ERP atinja a máxima performance e eficácia, como por exemplo, infra-estrutura tecnológica, metodologia de desenvolvimento dos trabalhos, ferramentas de suporte ao projeto, estratégia de implantação, entre outros. Porém, um ponto que pode fazer uma grande diferença neste processo são as pessoas que compõem a equipe do projeto. A equipe deve ter em comum o gosto pelo desafio que o projeto representa, a capacidade de dedicação que o trabalho exige, a habilidade de aprender rapidamente coisas novas e complexas que um software de gestão acaba de revelar e a flexibilidade para pensar em soluções diferentes das existentes atualmente na empresa. Mas quem deve participar do projeto? Se fosse possível, todos deveriam participar diretamente, afinal, o sistema em questão é um sistema integrado, portanto de alguma forma, todos serão afetados por essa nova solução. Porém, não é possível que a organização pare suas atividades para poder implementar um novo pacote de gestão empresarial. Além de ter os funcionários envolvidos no processo de implantação ERP, deve-se também trabalhar os medos e receios dessas pessoas, pois grande parte dos mesmos vem da ignorância.

Na falta de informações claras sobre as mudanças que estão sendo planejadas, as pessoas criam informações e, em geral, geram as correntes pessimistas. Os esclarecimentos que se fazem necessários devem responder as questões a seguir:

  • O que vou ter que mudar em mim mesmo?
  • O que se supõe que eu e minha equipe passemos a fazer de modo diferente após a implantação do sistema?
  • Como vai ser nosso processo de adaptação? É verdade que algumas pessoas não se adaptam? O que devo fazer para não ser uma delas?
  • Considerando tudo o que me ensinaram até hoje em termos de como gerenciar, o que controlar, como me relacionar com as pessoas? O que continua válido e o que deve ser diferente?
  • Se o meu trabalho desaparecer, seja porque vai passar a ser feito por pessoas espalhadas pela organização, seja pelo sistema, o que vai ser de mim?

De forma negativa haverá um impacto muito grande sobre os recursos humanos com a implantação do sistema, pois as pessoas terão de se preocupar com o processo como um todo e não apenas com a sua atividade específica. Devido a essa integração, o problema de uma área poderá ficar mais complexo rapidamente em relação aos outros departamentos, afetando assim toda a empresa. Existem casos em que o estereotipo dos funcionários será alterado, uma vez que o funcionário deverá se adaptar as mudanças e ter conhecimentos que nem sempre os atuais funcionários possuem, conhecimentos esses adquiridos através do treinamento e da cultura da multidisciplinar da organização. A empresa deverá escolher por treinar seus profissionais, ou muitas vezes demiti-los. Esta última opção ganha força pelo fato que a partir da automação, da integração entre os processos, muitas atividades que eram realizadas manualmente ou no sistema anterior não serão mais necessárias. Muitas vezes, pode ocorrer resistência interna à adoção do ERP, originado pela desconfiança de perda de emprego ou até mesmo de poder, já que haverá maior acesso da informação. Porém, como uma das fortes características do ERP é distribuir a informação, a produtividade pessoal cresce de forma considerável, uma vez que através de poucos clique no mouse pode-se ter acesso às informações de qualquer área da empresa, mesmo que seja de uma filial do outro lado do mundo.

Como conseqüência, isto traz mais independência em relação à necessidade de informações vindas de outras partes da organização. Ainda há uma questão muito importante a ser tratada no que se refere à resistência das próprias lideranças no projeto de implantação do ERP. Segundo Herman F. Hehn (1999), “Cada pessoa tem em seu repertório de atuações muitas formas de resistir e impedir aquilo que ela não quer que ocorra”. Após pesquisa realizada desse mesmo autor com várias lideranças de projetos do ERP, têm-se os seguintes argumentos de repulsa: • Quando eles determinam que seja feito algo com que não concordo, eu cumpro os rituais, faço o que determinam ser minha obrigação, mas não repasso o entusiasmo para minha equipe.

  • Não exerço minha liderança, não me manifesto; no fundo, deixo claro para minha equipe que não estou engajado naquele esforço;
  • Centralizo a tomada de decisões de forma que nada ande sem a minha presença. E eu sempre que possível, não estou presente.
  • Uso a técnica do jogador de Poker: escondo as coisas boas que eu tenho (informações e dados de que eles precisam) e blefo em relação aquilo que não tenho (informações que provam que, o que eles estão tentando implantar falhou em outros lugares).
  • Atenho –me às dificuldades; não existe projeto em que você não possa encontrar dificuldades com as quais as pessoas ainda não sabem como lidar. Isso vai gerando insegurança ou, no mínimo, toma tempo e adia a implantação.
  • Falto aos os compromissos, não estudo, não me preparo, não me interesso em conhecer o assunto. • Quando explicam, finjo que não entendi, que o assunto não está claro, que não estão nos dando todas as informações.
  • Omito a verdade. Se não me perguntam, não falo nada. Procuro agir sempre de maneira dissimulada pra ninguém perceber que estou escondendo informações.
  • Priorizo o que não é prioridade e digo aos outros que, lamentavelmente não deu, mas a culpa não foi minha.
  • Arranjo formas de faltar aos compromissos: viagens, chamados inesperados dos clientes, problemas no campo, vale tudo.
  • Não considero as propostas impostas. Estabeleço meus próprios objetivos e trabalho neles em silencio.
  • Esqueço, “fecho a cara”, mostro–me irritado. Dessa forma as pessoas ficam com medo de falar comigo.
  • Articulo nos bastidores, influencio negativamente as pessoas, gero desmotivação e descrença.

As malandragens, resistências e sabotagens ao processo de implantação como se viu não tem limites e acabam por minar os esforços das pessoas determinadas em levar adiante o projeto de reorganização tecnológica da empresa. É preciso identificar as atitudes que demonstre contrariedade ao projeto e combate – las o mais antes possível, senão o processo caminhará para um possível fracasso. É como disse Herman F. Hehn (1999) no livro Peopleware: Como trabalhar o fator humano nas implementações de sistemas integrados (ERP): “Se as lideranças da implantação de um programa de transformação não souberem perceber e trabalhar as causas desses comportamentos, as probabilidades de sucesso serão significativamente reduzidas”

Autor

Ricardo Czepurnyj Ferrara. Mestrando (Stricto Sensu) em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. Bacharel em Filosofia pela mesma universidade. Bacharel em Sistemas de Informação pelo Centro Universitário Íbero-Americano (Unibero). Vivência em ambientes de grande porte Mainframe com desenvolvimento e manutenção de sistemas desde 2002. Forte atuação em projetos voltados para fusão / migração de empresas.

Ricardo Ferrara

Comentários

1 Comment

  • Ricardo,

    Muito bom o seu artigo! Aborda questões sobre ERP que você não encontra facilmente por aí, pois poucos têm coragem de abordar (apesar de muitos conviver com elas no dia a dia). Recomendo a leitura a todos que, de uma forma ou de outra, estão envolvidos na aquisição, troca, adoção ou implantação de um ERP. O artigo é fonte de vários tópicos para a reflexão.

    Parabéns!!!

    Joelson

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