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Inovação, muito discurso e pouca ação

publicado por José Luis Braga

Inovação, muito discurso e pouca açãoNão sei se já perceberam, mas a palavra inovação aparece em todo canto, até onde nem deveria passar perto. Já vi até em supermercado, “inovação no atendimento”  e em outros locais mais estranhos. Não duvido que um supermercado possa inovar em atendimento, mas que a primeira vista parece um exagero, lá isso parece. Por definição, inovar é criar algo novo, fazer de maneira diferente o que já é feito de alguma maneira. Necessariamente, tem duas partes, que já comentei aqui em outra postagem: uma envolvida com criatividade que corresponde à parte de criação ou invenção, e outra relacionada com a realização ou implementação da ideia criativa. Se não tiver o segundo passo, então é apenas criatividade, ideias daquelas que a gente tem um monte todo dia, mas que em sua maioria não servem para nada e não resolvem problema nenhum se não forem implementadas.

Infelizmente, tenho visto muito discurso em torno de inovação, muitos artigos acadêmicos, muitas postagens de blog, uma enxurrada de livros, muitas palestras (Youtube está lotado de aulas e palestras sobre inovação), muita gente faturando em cima do assunto. O que interessa mesmo, que é as inovações pipocarem no mercado, na rua, não temos visto. Pelo menos não no volume que seria necessário para levar nosso pais adiante. E a fonte de ideias inovadoras pode estar mais próxima do que parece, como por exemplo o caso já explorado das gambiarras (vejam aqui o correspondente termo em inglês, jerry rig). Que são soluções criativas para problemas, implementadas com o que estiver disponível no momento, e que embutem a ideia de fazer diferente, necessária para a inovação acontecer. Criatividade nós brasileiros temos até de sobra, o que não temos é preparo ou educação suficiente para perceber que uma ideia criativa pode ir para a rua e se transformar em algo inovador que vai fazer diferença na vida das pessoas.

Mas, porque não conseguimos realizar a inovação, se somos muito criativos, e os indicadores mostrarem que também somos muito empreendedores? Aí estão dois problemas: para a inovação aparecer, não basta ser criativo, tem que trabalhar a ideia, implementar, levar ao mercado, procurar financiadores e apoiadores, etc. E, no meu entendimento, o conceito de empreendedor está sendo usado errado para criar as estatísticas. Estão sendo contabilizados ai todos os negócios abertos por necessidade absoluta de sobrevivência, todo tipo de comércio e de serviço. E empreendedor não é bem isso, é muito mais, para mim estão confundindo as coisas, vejam mais aqui. Mas, afinal, como é que vamos nos virar, se não é nada disto?

Temos é que arregaçar as mangas, mandar as definições e artigos acadêmicos pros infernos, e meter a mão na massa. Tem uma ideia boa? é algo que ninguém tentou ou tentou de outra maneira e que pode mudar a vida das pessoas? então acredita nela, leva para a rua, empreende a ideia, estuda e aprende apenas o que for necessário principalmente de fluxo de caixa, junta uns trocados, vende a bike, pega um pedaço da área de serviço da casa, e prototipa a sua ideia. Mesmo que não consiga financiamento, há formas de levar a ideia adiante com recursos escassos, implementando a ideia por deposição ou camadas, adicionando funcionalidades na medida em que o protótipo for ficando melhor. Mais ou menos como se faz na construção civil: ao lançar um prédio, a construtora vende alguns apartamentos ou lojas na planta, constrói uma parte, ai vende mais algumas partes, vai entregando e construindo até terminar. O que restar no final, é o lucro da construtora. Não é uma ideia nova, e o nome técnico correto é bootstrapping, conhecido de quem fez ciência da computação e estudou sistemas operacionais (pelo menos os mais antigos), e que funciona bem com alguns problemas.

Não adianta a gente se iludir, e pensar que só é possivel inovar com muito dinheiro jogado em cima, e que tudo vai se transformar em um Facebook ou Apple. Isso é assim nas grandes empresas globais, dedicadas a um ramo de negócio e que tem um exército de pensadores contratados para ficar o dia todo tendo ideias, testando, implementando, e lançando no mercado como inovações. Vejam as estatísticas das empresas que mais registraram patentes no mundo em 2013, aqui, e oranking da Forbes das 100 empresas mais inovadoras do mundo, valores de agosto de 2013. Reparem no ranking que há somente duas empresas brasileiras: Natura em décimo lugar, e a BRF  – Brasil Foods em trigésimo-nono. A sobrevivência dessas empresas depende de inovação e do registro de patentes.  Mas, em oposição, vejam que em paises populosos e com população pobre como por exemplo  a India, encontramos inovação em serviços, um exemplo muito citado no mundo todo é o do hospital de olhos Aravind que começou inovando no atendimento e com um modelo de negócios voltado para o social, vejam a entrada na Wikipedia.

Olhando o ranking dos 33 paises mais inovadores do mundo da Bloomberg, vejam aqui, observa-se que esses países têm em comum um excelente sistema educacional que atinge a maioria da população. Não é a toa que o primeiro do ranking é a Coréia do Sul, e Cingapura aparece em sétimo lugar.  Mas, basta isso? não, o estado tem que atuar principalmente não atrapalhando ninguém, criando regras e processos de criação e fechamento de empresas que sejam rápidos e que incentivem a criação de empresas. Dinheiro não é tudo, o ambiente propício é fundamental. Temos aqui no Brasil a ilusão de que basta criar um parque tecnológico, uma incubadora de empresas, que as coisas vão funcionar bem sozinhas. É a famosa estória da ratoeira no deserto: não adianta fazer uma ratoeira super hightech, cheia dos recursos, para pegar ratos no deserto. Será que os ratos vão até lá para cair na ratoeira? Incubadoras e parques tecnológicos sozinhos não fazem o milagre, temos exemplos de estruturas invejáveis e vazias. O trabalho é mais de base, tem que começar lá no primeiro e segundo graus, e continuar no curso superior, e insistir. Ninguém nasce empreendedor, criativo ou inovador, é tudo questão de oportunidade, o que podemos trabalhar é nossa capacidade de enxergar oportunidades. O papel do  estado tem que se limitar a formar gente, criar e manter o ambiente e sair da frente (citação do prof. Silvio Meira).

E tenho certeza de que muitos vão ler essa postagem, e vão ficar com a pergunta: e você, professor, que está criticando tudo, tem feito alguma coisa para ajudar? Resposta: tenho sim, e com sucesso, embora em um ambiente de negócios completamente desfavorável, o que para mim é mais motivante. Tenho feito um trabalho de base, de melhoria de qualidade em produção de software com microempresas e os primeiros resultados são animadores. Com pouco investimento de tempo e recursos, temos conseguido avançar. Em breve conto aqui.

Artigo publicado originalmente em zeluisbraga.wordpress.com

[Crédito da Imagem: Inovação – ShutterStock]

Autor

José Luis Braga é Professor Titular do Departamento de Informática na Universidade Federal de Viçosa Formação Acadêmica Pós-Doutoramento - University of Florida - USA, 1999 Doutor em Informática - PUC/Rio - Setembro de 1990 Mestre em Ciência da Computação - DCC/UFMG - Novembro de 1981 Engenheiro Eletricista - PUC/MG - Agosto de 1976 Site: zeluisbraga.wordpress.com

José Luis Braga

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