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Copa de 2014: o setor de TICs chutado pra escanteio

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A Câmara Americana do Comércio (Amcham) realizou recentemente um debate sobre as “TICs para os Megaeventos Esportivos”, no qual tive a oportunidade de participar como mediador em um painel sobre como o país está se preparando na área de TICs para a Copa do Mundo de 2014.

Na ocasião, ainda estavam dispostos para o debate Artur Coimbra de Oliveira, diretor do Departamento de Banda Larga do Ministério das Comunicações, João Moura, presidente executivo da TelComp – associação das operadoras de telecomunicações; e Rodrigo Meira, assessor do Ministério dos Esportes.

Em um debate envolvendo todos os protagonistas do processo, incluindo membros do governo e representantes das entidades privadas de TI e Telecom, tornou-se essencial fazer um primeiro balanço da evolução da preparação do país no que diz respeito ao uso de recursos de TICs para a Copa do Mundo. Ainda, este tipo de debate é oportuno e urgente, visto que se for necessário efetuar alguma correção na rota traçada pelo governo, o prazo para identificar as mudanças necessárias e ainda colocá-las em prática a tempo está praticamente se esgotando.

O prazo prometido pelo governo para a conclusão de todas as obras e serviços necessários à Copa do Mundo é dezembro de 2013, exatos seis meses antes do início do evento. Ainda, foi informado pelo representante do Ministério das Comunicações que a largura de banda necessária para a transmissão dos jogos, fixada pela FIFA em 20 Gigabits/segundo, já existe. Inclusive, até a Copa, a capacidade de conexão internacional do país deve atingir a marca de 2 Terabytes/segundo.

Segundo o representante do Ministério dos Esportes, a realização da Copa do Mundo no país tem, entre seus objetivos, a função de mobilizar e promover o país, gerar um salto de qualidade nos serviços envolvidos no evento (TICs, turismo etc.), construir arenas multiuso de classe mundial e modernizar a infraestrutura do país.

Para tanto, o planejamento do Governo dividiu as obras em três ciclos. O primeiro ciclo, já em pleno desenvolvimento, inclui todos os elementos que exigem investimentos que levam grandes prazos para serem realizados, como a própria construção dos estádios. O segundo ciclo inclui os recursos que podem ser implementados em prazo menor, como as questões relacionadas a transporte, segurança pública, turismo e TICs, enquanto o terceiro e último ciclo corresponde à operação do evento propriamente dito, durante os trinta dias em que a Copa estará sendo disputada.

No entanto, como protagonistas no setor de longa data, sabemos que qualquer projeto de TICs que pretenda deixar um legado, não pode ser executado sem a disponibilidade de um prazo considerável. Esse tratamento dado pelo governo às TICs foi comparado, durante o debate, ao tratamento que é dispensado aos móveis e decoração dos estádios e demais locais envolvidos na Copa: só depois de todas as obras civis prontas e inauguradas é que esses gastos serão autorizados, e a entrega se dará em curto prazo, eliminando a chance de dispor de grandes e importantes projetos para o desenvolvimento do setor e absorção da tecnologia.

Inclusive, o presidente da Telcomp foi muito feliz ao afirmar que, para tornar realidade o legado positivo que o governo promete deixar para o país após o mega-evento, não é possível deixar os planos de implementação dos recursos de TICs para a última hora.

Outro aspecto que ficou claro durante o debate é que a área de TICs não está sendo contemplada como parte do projeto básico apresentado pelos construtores para a obtenção dos recursos financeiros para a construção das arenas. Nem os órgãos de governo, notadamente o BNDES, exigem que a área de TICs seja considerada nos projetos, para sua análise e liberação de verbas.

Ou seja, os recursos de TICs serão tratados às pressas, à véspera da inauguração de cada arena, não apenas aumentando custos, mas deixando de aproveitar a oportunidade de integrar as arenas entre si, e com os demais locais envolvidos no evento, como centros de treinamento e centros de controle.

Na área de TICs, o legado planejado inclui o “desenvolvimento local de conteúdo específico para a Copa do Mundo”. Embora este item seja parte dos objetivos elencados pelo governo, até o momento não há qualquer plano de ação para concretizá-lo, muito menos ações específicas em andamento.

Dessa forma, não nos resta outra forma de concluir que, infelizmente, em função do avançado dos prazos, esta oportunidade já está praticamente perdida para o país.Ou seja, efetivamente o setor de TICs foi chutado para escanteio nesta nossa Copa do Mundo.

Roberto C. Mayer
Roberto Carlos Mayer é diretor da MBI, diretor de comunicação da Assespro Nacional e presidente da ALETI (Federação das Entidades de TI da América Latina, Caribe, Portugal e Espanha).

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