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Angola, Brasil e o futuro das telecomunicações

publicado por Silvia Hirano

O mercado de telecomunicações está em franca expansão no hemisfério sul do globo. Com as grandes potências mundiais ainda em fase de recuperação da crise financeira de 2008, países em desenvolvimento encontram uma brecha para alavancar o setor, que vem crescendo exponencialmente na Ásia, África e América Latina nos últimos anos.

O mais recente acordo em fase de negociação entre Angola e Brasil para a implantação de cabos de fibra óptica submarinos que ligam os dois países é um exemplo de como o setor de telecomunicações vem se expandindo nos países do cone sul.

Angola, que até 2001 era uma um campo aberto de minas terrestres, tem atualmente uma mina de oportunidades para empresas em diversos setores. Os 27 anos em que permaneceu em guerra civil foram mais do que suficientes para destruir a maior parte da infra-estrutura no país. No entanto, desde o cessar fogo há exatos 10 anos, Angola vem crescendo ferozmente e é um dos países mais promissores dentro da África Subsaariana. Disputa acirradamente com a Nigéria o título de maior produtor de petróleo e diamantes da África, e empresas de construção civil, mineração e serviços vêem Angola como a menina dos olhos do continente.

Apesar da fome pelo desenvolvimento e ampla gama de oportunidades, o país ainda sofre com a miséria da maioria da população, que sobrevive com US$1 por dia. O nível de corrupção também é estrondoso, e o grau de dificuldade em se fazer negócios no país ainda é altíssimo, resultantes de uma burocracia atrasada e barreira linguística.

No setor de telecomunicações, até hoje só existem duas operadoras de telefonia móvel, e o grande monopólio da telefonia fixa é da Angola Telecom, incumbente estatal e detentora da maioria das empresas de telecom presentes no país.

O Instituto Angolano das Comunicações (INACOM) espera, há alguns anos, a aprovação pelo Ministério das Comunicações da abertura do concurso para uma terceira operadora de telefonia móvel no país. Usuários frequentemente reclamam da péssima qualidade da rede fixa e móvel, além da lentidão dos serviços de dados e os altíssimos preços praticados pelas operadoras (um plano corporativo de voz e dados pode custar até US$3.600 por mês para uma empresa de pequeno porte).

Empresários e usuários demandam cada vez mais uma melhor rede, preços mais justos e abertura do mercado para mais competidores, já que o monopólio estatal ainda é visto como um dos maiores inibidores da redução tarifária – é o governo quem detém os principais links nos portos de desembarque dos cabos na costa angolana, bem como os loops que estendem a conexão ao resto do país. Até hoje, não há interesse em reduzir as taxas exorbitantes cobradas a outras operadoras para acesso a esses links.

Apesar disso, o que se pode esperar é que tanto Brasil quanto Angola sejam beneficiados com o cabo de fibra óptica que ligará os dois países, além da Nigéria e África do Sul através do link angolano.

 

Cabo que ligará Angola, África do Sul e Nigéria a América Latina é iniciativa inédita em telecom

Fonte: Maps of the World

O vínculo histórico entre Brasil e Angola é de longa data. Culturalmente, angolanos adoram o Brasil e os brasileiros, que com a proximidade da língua, associada ao jeito descontraído de ambos os povos, constitui um forte aliado no fortalecimento das relações comerciais.

Há diversas empresas brasileiras operando em Angola nos mais variados setores, e a tendência é que essa relação só venha a ser beneficiada futuramente com a disponibilidade de maior troca de informações em tempo real.

Contudo, os benefícios dessa futura ligação só poderão ser desfrutados por inteiro se grandes desafios forem superados.

Ainda é necessário construir estradas que liguem as principais cidades da Angola a regiões mais remotas do país, onde sequer há postes de eletricidade. Para isso, é preciso desativar muitas minas terrestres, resquícios de um passado sombrio não tão distante. Muitos angolanos caminham quilômetros até o quiosque mais próximo para fazer chamadas de telefones celulares, e usar computadores conectados a eletricidade através de geradores móveis de energia. E a grande maioria da população não dispõe de renda suficiente para considerar celulares e computadores como sendo necessidades básicas em seu cotidiano.

Apesar de todos esses desafios presentes em Angola, o cenário futuro é promissor.

Multinacionais de serviços de telecomunicações presentes no país já treinam alguns talentos locais no exterior, uma espécie de benchmarking in loco. Isso resultará numa mão de obra qualificada e preparada a atender a alta demanda por serviços de telecomunicações cada vez mais avançados, impulsionada pela crescente presença de empresas multinacionais e expatriados de países desenvolvidos, acostumados a serviços modernos, conexão veloz e ausência de latência.

Não há dúvidas de que a Portugal Telecom – fortemente presente em Angola por meio da Unitel (operadora de telefonia móvel líder de mercado), detém 25% da, MSTelcom (a maior concorrente da Angola Telecom), e agora no Brasil com a recente entrada na Oi – será uma das maiores beneficiadas nessa estratégia que visa aproximar os dois países tecnologicamente.

No entanto, precisamos enxergar além do horizonte a nossa frente, e entender que a ligação entre o Brasil e Angola através de cabos submarinos pode ser o indício de uma grande evolução em termos de tecnologia da informação e comunicação.

É o passado colonial revisitado em tempos modernos.

 

Autor

Consultora Independente com mais de 6 anos de experiência na área de tecnologia da informação e comunicação na África Subsaariana e América Latina. Atuou como consultora e analista sênior de inteligência de mercado em consultoria global e Diretora de operações de empresa de software Linux, ambos na Cidade do Cabo, África do Sul; Pesquisadora e curadora de artes do Creative Commons e Universidade Witswaterstand, em Joanesburgo, África do Sul. Áreas geográficas: Angola, Moçambique, Brasil; África Subsaariana, América Latina. Mídia e outras apresentações: Comentários e entrevistas a Engineering News, IT Web, Bloomberg, Business Report, My Broadband, Financial Mail, ITU, Macauhub, iWeek, MSTelcom Magazine, entre outros. Conferências: The Broadband Summit 2010, Joanesburgo The Broadband World 2009, Cape Town Analyst Briefing (webcast global): “Booming Data: How it impacts mobile backhaul infrastructure in SSA”, Abril 2010; “Land of Opportunities: Angola telecommunications market”, Julho 2009.

Silvia Hirano

Comentários

13 Comments

  • Bom dia, Silvia!

    Um artigo muito interessante!

    Obrigado por compartilhar informações e aumentar nosso conhecimento em relação aos avanços da Telecom no continente Africano.

    Imagino que como profissional atuante na região e pelo sentimento que nos demonstra no texto supracitado, as oportunidades de desenvolver um belo trabalho sejam grandes!

    Sucesso!!!
    Um abraço,
    Leonardo

  • Bom dia,

    Gostei muito do que foi divulgado em sua matéria, muito bom para ficarmos expertos pelo futuro próximo que nos reserva.

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