“A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou hoje (24) que é “inaceitável” que um país pratique espionagem contra uma nação aliada. A declaração foi dada horas após o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, convocar o embaixador norte-americano em Berlim para pedir explicações sobre o suposto monitoramento do celular da chanceler.” “Após as denúncias, Merkel telefonou ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que negou que Washington tenha monitorado seu celular”. (Fonte Jornal do Brasil 24/Out, 14:44 horas). Merkel agora tem um dilema: acreditar ou não no presidente americano.
A convergência digital, aliada às novas tecnologias de Cloud Computing, Mobility, Big Data e Social Business, trazem enormes benefícios aos negócios sejam eles: comerciais, de serviços, industriais, políticos ou diplomáticos. A rede facilita tudo, trás à mão enormes volumes de dados e larga conectividade em todo o planeta e seu uso é irreversível. Mas a rede é aberta, a tecnologia tem dono, supõe-se que agencias governamentais americanas influenciam no desenho de produtos, e possíveis “backdoors” podem existir.
Um pouco de história é necessário – A Internet teve inicio na guerra fria com o desenvolvimento da ARPA Net em uma joint venture entre o Ministério da Defesa e as Universidades Americanas, com o objetivo de desenvolver uma rede imune a ataques inimigos. A hipótese de que um computador atacado poderia anular o sistema de defesa e ataque aterrorizava militares e governantes. Eles sabiam que para disparar um único míssil havia total dependência tecnológica da rede. Essa rede hoje é apropriada pela sociedade civil e governamental, justamente pela sua característica aberta, não dependente de computadores isolados, nem de uma determinada infraestrutura ou parte dela.
A posterior invenção da WEB, aliada a convergência digital em imagens gráficas, músicas, sons, fotos, vídeos e filmes disponíveis em qualquer terminal, inclusive celulares, tornou a atração pela rede enorme. Os custos reduzidos de comunicações via IP ampliaram o uso. Seduzidos pela rede, descuidamos da segurança contra aspectos transcendentes de nossa cultura que é a espionagem ou investigações, que ininterruptamente buscam informações para novos conhecimentos para alcançar posições hegemônicas nos negócios, na política, ou pessoais no ambiente competitivo global.
A espionagem não existe apenas em filmes, ela está no mundo real, muito além dos fantásticos espiões da grande arte e suas inovações espetaculares: James Bond – 007, Geração Bourne, Tom Cruise em Missão Impossível e por ai vai, sem contar famosos como Sherlock Holmes, Poirot, Lepin dentre outros investigadores da literatura. Na luta pela hegemonia planetária, para mante-la ou obtê-la tem-se que lançar mão da espionagem, e agora facilitada pela convergência digital. Hoje estão embaraçados na espionagem digital mais quatro grandes atores globais: Angela Merkel, Francois Hollande e Cameron, mais recentemente o governo espanhol. O mais absurdo é que o telefone institucional que usam para comandar países como Alemanha e França também foram grampeados. Pedir explicações ao Presidente Obama, e exigir que não façam mais isso cria um dilema enorme que permanece latente. Pode-se acreditar no OBAMA e sucessores? Toma-se medidas de segurança interna?, são eficazes? Ou declara-se a terceira guerra mundial.
Devem existir formas inteligentes para aumentar o nível de segurança das conversas telefônicas, da guarda e transporte de mensagens e documentos, independente da internet, que podem amenizar o dilema. Essa tecnologia já existe e dependendo da informação a ser protegida pode-se garantir até 100% de segurança por tempos razoáveis e custos absorvíveis. Procedimentos cuidadosos de cifrar, tunelar ( encapsulamento virtual), agir no tempo hábil da mensagem onde ninguém possa decifrar, armazenar em equipamentos isolados da rede e uso de ambientes certificados e protegidos. Sempre existirá uma solução a um custo adequado para cada situação de segurança. Uma conversa telefônica pode ser cifrada no emissor e decifrada no receptor, a chave assimétrica para decifrar não precisa trafegar na rede, e caso as falas forem copiadas no ar, ou seja nas transmissões sem fio, os espiões pouco farão com os bits e bytes cifrados (Em artigo anterior mostrei a importância de centros de pesquisa em algoritmos criptográficos, e educação em segurança no Brasil – isso garante ainda mais a segurança que tem que ser cuidada pelo Responsável por ela). Pode-se ter aparelhos emissores e receptores que mudam randomicamente o código de enlace da rede, tornando quase impossível achar o canal de comunicação desse enlace, pode-se usar tokens com parte cifrada para adicionar números aleatórios às senhas em tempo real, para cada caso existe uma solução adequada.
A jornalista Laura Poitras, que recebeu as instruções de Snowden para uma comunicação segura, por onde recebeu os documentos, garantiu a segurança com chaves grandes, uso de frases longas capazes de resistir a um ataque maciço de uma rede de computadores. Snowden naquele momento avisa: “Imagine um adversário capaz de 1 trilhão de combinações por segundo”, quais chaves ele é capaz de quebrar. A jornalista hoje cerca-se de mediadas de segurança, como utilizar três computadores: um para receber mensagens, outros fora da rede para decifra-las e outro para escrever suas reportagens. Saiba mais.
Hoje Alemanha, França, Reino Unido e Espanha acompanham o Brasil na indignação ao descobrir a espionagem de um país aliado, e pedem que isso não mais se repita, ante a negação dos fatos pelo Presidente Obama. Uma pergunta fica no ar: Os Estados Unidos não espionarão mais? Qual a garantia que isso aconteça? A palavra do Presidente é suficiente? Obama já mostrou que não consegue tudo que quer, o Obama Care, sua única conquista expressiva correu risco de acabar recentemente perante o congresso republicano. A alternância democrática não impedirá que governantes mais aguerridos retornem com uma espionagem mais agressiva. Sabemos que França, Alemanha, China, Russia também espionam, e investem muito para isso. A alternativa que nos resta é cuidar de nossas riquezas nas redes, investindo em educação, em P&D nas áreas de segurança e criptografia, e fazendo uma gestão eficaz da segurança da informação. É desejável que se construa uma futura governança mundial para universalização, segurança e garantia de privacidade e uso na rede mundial, a Presidenta Dilma iniciou essa tarefa, todavia precisamos fazer a lição de casa.
[Crédito da Imagem: Espionagem – ShutterStock]