Green IT???

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“Pronto chefe !!
Acabei nosso projeto de Green IT !!
Pintei todas as paredes do Data Center, os racks e os servidores de verde !!!”

Parece piada, mas há alguns dias estive conversando com o presidente de uma empresa que é muito amigo, ele me perguntou como faria para implementar o modelo de Green IT em sua empresa, o diálogo foi mais ou menos assim:

– Poxa, que bom que você está trabalhando com Green IT. Quero implantar na minha empresa, como faço ?? Você implanta ??

– OK. Para isso preciso de algumas informações: como é tratada a coleta de lixo na empresa?? já faz coleta seletiva?? Existe algum processo de tratamento dos resíduos da produção?? Como é tratado o descarte de lixo de uma forma geral??

– Não !! Você não entendeu !! Eu quero tratar apenas a questão de IT !!

-AHHHH!!! Só que quem não entendeu foi você. O que você pretende é reduzir custos operacionais, energia, manutenção de ar condicionado, insumos, etc…

– Sim, Claro !! Isto mesmo!!!

-Perfeito, uma vez que determinamos que pouco importa se sua área de IT é ecologicamente correta ou não, desde que seus custos sejam reduzidos, vamos deixar de falar de Green IT e vamos falar de como reduzir seus custos operacionais….
Piada à parte é assim que muitas empresas enxergam o processo de Green IT.

Não é possível falarmos de uma área de IT ecologicamente correta, se a empresa não o é, ou ainda se as pessoas que estão envolvidas na sua gestão também não se conscientizarem da importância da preservação do meio ambiente tanto interno quanto externo. Este processo pode, como um ressalto MUITO GRANDE no “PODE”, trazer redução de custos operacionais de uma forma mais abrangente, porém sua implantação séria e consistente deve levar em consideração o aumento destes custos. Antes de qualquer movimento em direção a um ambiente tecnológico ecologicamente correto, é necessário que se estabeleça que qualquer empresa que resolva implementar tais padrões nas suas áreas de IT deve ser, na sua índole, uma empresa verde – uma empresa ecologicamente correta.

Com a evolução tecnológica das últimas décadas e a crescente dependência das corporações desta tecnologia, as áreas de IT tornaram-se vorazes consumidoras de energia e uma fábrica de resíduos com uma capacidade produtiva enorme. Somando-se a isto processos de gestão e manutenção inadequados e antigos, é fácil concluir que o efeito disto sobre o meio ambiente interno e externo é devastador. Pouco importa se as previsões do Al Gore sobre o aquecimento global estão corretas ou não. O que importa é reconhecermos que as empresas, e por conseqüência, suas áreas de IT estão contribuindo para a degradação do meio ambiente de forma significativa e contra isto precisamos agir.

Se é assim, o que é Green IT então??

Não há uma definição única, mas o que mais se aproxima é: Green IT é o estudo e a prática constante do uso dos recursos de computação da forma mais EFICIENTE e LIMPA possível.

Esta discussão não é tão nova assim, desde 1992, quando a Agencia de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA, lançou o programa voluntário ENERGY STAR para promover e certificar os monitores de vídeo com melhor eficiência no uso da energia, estudamos uma forma de tornar o ambiente de IT mais adequado às necessidades ambientais do planeta. Neste momento onde a crise financeira e a necessidade de redução de custos são a bola da vez, a discussão sobre Green IT ganhou importância. Porém muito mais pela capacidade de redução de custos operacionais em IT do que para efetivamente termos um ambiente empresarial mais ecológico.
Em estudos recentes a EUROSTAT aponta um crescimento médio de 23,7% no custo do MWh (mega watt hora) na Europa desde o ano 2000 , nos EUA o aumento foi na casa dos 21% e aqui na Brasil na casa do 28%, segundo a ELETROPAULO. Como a energia é indispensável para as áreas de IT, este aumento tem um impacto significativo nos resultados financeiros. O Gartner estima que IT gasta cerca de 5% do seu orçamento com energia e que este consumo crescerá de 2 a 3 vezes nos próximos 5 anos. Estima-se ainda que IT é responsável por 2% das emissões totais de carbono no mundo, a mesma que a industria aérea e que o lixo eletrônico gerado é um dos mais agressivos ao meio ambiente, fica clara a necessidade de termos iniciativas “verdes” ou ecologicamente corretas no trato das questões de IT.

Aproveitando-se do momento, quase todos os fabricantes já falam em itens de infra-estrutura “verde”, ou seja, servidores, storages, switches, pda, desktops, notebooks, celulares, etc que consomem menos energia e dissipam menos calor. Estas iniciativas são altamente louváveis e devemos, cada vez mais, priorizar fabricantes que se importem com o assunto, mesmo que para isso seu custo seja um pouco superior à concorrência. Porém é importante que as empresas tenham em mente que isto é só a ponta do iceberg. Se as empresas realmente se preocuparem com o meio ambiente e não somente na redução de custos dos seus data centers, elas devem abordar outras questões que são igualmente importantes sob o ponto de vista ecológico, estas questões envolvem:
• Gerenciamento de Resíduos
• Gerenciamento de Lixo Eletrônico
• Adoção de uma postura ecológica no ciclo de vida dos produtos
• Gerenciar e otimizar o consumo de energia
• Reduzir a emissão de CO2
• Cuidar da reciclagem dos seus resíduos
• Adotar uma postura de responsabilidade social
• Adotar uma forma de auditoria constante

Como vemos a redução de energia é a menor parte deste assunto, embora ela possa ser o meio de viabilização financeira dos projetos e processos efetivamente verdes. Hoje contamos com vários institutos que são capazes de tratar a questão de forma profissional, séria e abrangente, como a Comissão Européia para Utilização Eficiente de Energia, que estabeleceu um código de conduta para Data Centers (CoC Data Center Charter) que visa minimizar o consumo de energia. Os países e organizações que fazem parte da Comunidade Européia estão sendo estimuladas a assinar o código de conduta e a se comprometerem com as metas de consumo lá estabelecidas. Para isso já foram desenvolvidos padrões como Green Grid Metric e o SPEC POWER.

Porém a iniciativa mais avançada é a ROHS (Restrition of Hazardous Substances) que desenvolveu a diretiva WEEE (Waste Eletrical and Electronic Equipment Directive), que define o descarte e o programa nacional de coleta adequada de equipamentos por seus produtores, cobrindo todos os equipamentos elétricos e eletrônicos usados. Esta diretiva foi publicada na comunidade Européia sob o número 2002/95/CE e está em vigor desde julho de 2006. Hoje o já se trabalha em outras frentes que utilizam o conceito do “poluidor-pagador” e visa tornar os fabricantes responsáveis por todo o ciclo de vida do produto de forma ecologicamente correta, arcando com custos de coleta seletiva, transporte, tratamento e reciclagem dos seus produtos.

O mundo corporativo enxerga várias oportunidades nessas iniciativas, pois com a crescente consciência ecológica que se desenvolve no mundo, ainda inicial, mas crescente, os produtores enxergam a possibilidade de parcerias estratégicas com seus Clientes, a utilização dos benefícios de governos e entidades para reciclagem/remanufatura, a possibilidade de geração e comercialização de créditos de carbono e a abertura de novos mercados com a adoção mais ampla dos padrões WEEE e RoHS. Hoje 24 dos 50 estados dos EUA estão em discussão sobre a adoção de uma norma onde somente os produtos certificados poderiam ser adquiridos pelos Governos.
Depois de conversar bastante com aquele meu amigo, consegui demonstrar-lhe que o assunto é MUITO maior do que a simples redução de custos operacionais e “pintar”seus racks de verde. Hoje recebi uma mensagem dele convidando-me para associarmo-nos ao Greenpeace e ao WWF. Acho que cumpri minha tarefa.

Paulo Muller
Paulo Müller is an IT Senior Executive with over 26 years of experience and is currently the Owner and Strategic Planning Director with Ascalon Health Business, a company dedicated to promoting the alignment between IT and business management and strategic planning for the health/medical industry that is able to build a fully integrated IT transformation project and take care of all the deliverables. Mr. Müller was the Chief Information Officer with CPM Braxis between 2003 and 2007 where he was responsible for a US$20M/year budget covering continuous managed services for customers such as Carrefour, Embratel, and Telemar among others and for implementing an international service center. During his professional career, he has gained experience in project management (PMI), service delivery management (ITIL), continuous improvement (SIX SIGMA) and corporate governance (COBIT) as well as spending time managing several compliance and SOX, SAS 70, ISO 9000 and ISO 17799 corporate projects. He has a Masters degree (MSc) in Artificial intelligence acquired at UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro in 1992 and MBA acquired at FGV – Fundação Getulio Vargas in 2007.

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