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A disrupção na indústria de tecnologia

publicado por Cezar Taurion

Figura - A disrupção na indústria de tecnologiaTemos que encarar a realidade: modelos de negócio são menos duradouros hoje que há poucas décadas atrás. As regras básicas do jogo empresarial, de criar e capturar valor, consolidadas por anos de sucesso no mercado, começam a ser quebradas em rápida sucessão. Algumas industrias são mais intensamente afetadas pela transformação digital que outras. Mas, a disrupção chegará a todas, e nenhuma sairá ilesa.

Um dos setores mais atingidos é a indústria de tecnologia. E é curioso que a indústria sempre se vangloriou de produzir tecnologias que provocavam disrupção nos outros setores, mas não esperava que a tecnologia causasse disrupção em seus próprios modelos de negócio.

As tradicionais empresas de tecnologia, que dominaram o mercado por várias décadas, são ameaçadas hoje pelas empresas que surgiram pós-Internet e tem que lutar por sua sobrevivência. O artigo “Tech Stalwarts Drive Market Surge” publicado pelo WSJ mostra que o valor de mercado das novas empresas de tecnologia supera em muito o valor de mercado das empresas tradicionais. Por exemplo, vemos que a Apple tem um valor de mercado (em outubro de 2015) de US$ 679 bilhões, a Alphabet (que inclui o Google) US$ 489 bilhões e a Microsoft, US$ 422 bilhões. Logo atrás temos Facebook com US$ 288 bilhões e Amazon com US$ 281 bilhões. Para efeito de comparação, a Amazon valeria, nesta data, cerca de duas vezes a IBM. E a precisava-se de aproximadamente seis HP para chegar ao valor do Facebook. Segundo executivos do setor estes valores astronômicos representam a crença dos investidores que algumas potências de tecnologia estão construindo negócios virtualmente insuperáveis e em melhor posição para se beneficiar do crescimento do segmento nos próximos anos. O grande motivo desta tendência será a computação em nuvem e a migração para serviços on-line de uma parcela cada vez maior das operações computacionais. Ou seja, em outras palavras, a transformação digital da própria indústria de TI.

Este outro artigo, publicado pela cio.com nos EUA, “5 IT industry predictions for 2016 from Forrester and IDC”, mostra o imenso desafio que as tradicionais empresas de TI estão enfrentando.

O artigo mostra claramente que o cenário da indústria está em mutação e que novas empresas estão assumindo posições de liderança em substituição às veteranas e conhecidas empresas que até então dominavam o mercado. Por exemplo, o Gartner, no seu famoso “quadrante mágico” para analytics e business intelligence coloca o Tableau, uma empresa criada em 2003 e que fez seu IPO em 2013, como líder, desbancando empresas que dominavam este setor como SAS, IBM, SAP e Oracle com suas conhecidas ferramentas como Cognos e Business Object. Vale a pena ler “Gartner BI Magic Quadrant 2015 Spots Market Turmoil”.

Em cloud computing, em IaaS, o líder inconteste, pelo mesmo modelo de “quadrante mágico” do Gartner é a AWS, da Amazon, empresa que nem era considerada de tecnologia há uns dez anos, quando lançou este serviço. Este artigo da Wired, “Amazon Reveals Just How Huge the Cloud Is for Its Business” mostra quão grande este negócio se tornou. Será inevitável a consolidação da indústria de cloud em poucos atores, devido a imensa escala de recursos computacionais requerido para se manter competitivo. Recomendo ler os artigo “The race to zero: On the path to no-cost cloud computing” e “Something Called ‘The Race To Zero’ Is Scaring A Lot Of Tech Companies” para termos uma idéia do cataclisma que isto provocará nas empresas tradicionais de TI. Muitas companhias de tecnologia não acreditaram de início em Cloud. A transcrição de palestra do Larry Ellison da Oracle em 2008 mostra isso. O vídeo está no YouTube:

Finalmente ele cedeu e em outubro deste ano lançou seu serviço de Elastic Cloud, como vemos neste artigo “Oracle finally launches Elastic Compute Cloud, 9 years after Amazon debuted EC2”. Outras desistiram de competir, como a HP (“HP is officially shutting down its Helion public cloud in January 2016”. A razão é simples e está no texto, transcrito aqui: “Earlier this year, technology analyst firm Gartner excluded the HP cloud from its big report on the infrastructure as a service market, noting that “it no longer has sufficient market share to qualify for inclusion in this Magic Quadrant.”.

A competição pelo mercado de cloud é acirrada e é baseada em modelos de negócio diretamente conflitantes com o modelo de venda de hardware e software, que impulsionaram a indústria nos últimos 30 anos. Cloud Computing tem o potencial de mudar radicalmente a maneira como as empresas investirão e custearão TI. Da perspectiva econômica, a computação em nuvem é uma resposta à antiga demanda do mercado de não ter que fazer pesados investimentos prévios para obter recursos de TI. Cloud computing cria um novo modelo econômico de uso de TI, que podemos chamar de cloudnomics. Os efeitos colaterais serão muitos. As áreas de TI, confrontadas por este novo modelo, mesmo usando conceitos tradicionais sofrerão intensa pressão para baixar seus custos operacionais. O modelo tradicional, por demandar elevados investimentos upfront em recursos fisicos, geralmente configurados para os picos de processamento acabam igualando em termos de custos, os serviços prestados tanto para os sistemas de alta como para os de baixa prioridade para os negócios. Simples: o mesmo budget que adquire um caro computador abriga a operação de um sistema critico quanto a operação de um de baixa prioridade.

O atual modelo computacional também não responde de forma adequada à volatilidade do ambiente econômico, com suas já constantes variações de crescimento e queda de atividades. Nos períodos de queda econômica os computadores, as licenças de software e o data center continuam custando da mesma forma que nos períodos de alta utilização. Na média, ao analisarmos períodos de vários anos vemos que no fim das contas acabamos com um investimento médio ou acima (superestimado) ou abaixo (subestimado). Em ambos o negócio em si é prejudicado, seja por gastar mais que deveria ou por não atender a demanda por dispor de uma configuração insuficiente. Daí que é um movimento irreversível.

As análises do IDC e do Forrester mostram que em cinco anos a disrupção afetará o mercado de TI de forma brutal. O IDC expressa claramente : “By 2020, More than 30 percent of the IT Vendors Will Not Exist as We Know Them Today.” Em outras palavras, uma em cada três empresas atuais estará fora do mercado em cinco anos, provavelmente sendo adquirida por outra ou perderá relevância no mercado. Este fenômeno já aconteceu na indústria de celulares, com a Motorola, Nokia e BlackBerry. Aliás, recomendo a leitura do livro “Losing the Signal”, de Jacques McNish e Sean Silcott, que mostra como a BlackBerry perdeu o rumo.

Outro campo de batalha é analítica avançada (antes chamávamos tudo de Big Data…) e machine learning. Segundo o IDC ainda é um mercado incipiente. Hoje apenas 1% das apps usam computação cognitiva e estima-se que em poucos anos, em torno de 2018, este número explodirá para 50%! Um pouco otimista, mas…essencialmente, computação cognitiva estará embarcada em praticamente toda app que seja considerada de sucesso. Será outro campo de batalha, com IBM (e seu Watson), Google, Microsoft, Amazon e Facebook também lutando por espaço. Interessante ler a visão do Facebook para este assunto neste artigo da Fast Company “Inside Mark Zuckerberg´s Bold Plan for the Future of Facebook”. Aliás, os veículos autônomos do Google são algoritmos preditivos embarcados em carros. Como vemos as principais empresas de tecnologia já estão nesta corrida!

Teremos pela frente tempos tumultuados. Vendedores sólidos terão suas margens corroídas por novos entrantes e startups. Grande parte de seu mercado atual será canibalizado, o que vai exigir mudanças drásticas em seus modelos de negócio. O mercado em si estará em transformação, e o Gartner afirma isso claramente em “Gartner Says Modernization and Digital Transformation Projects Are Behind Growth in Enterprise Application Software Market”.

A conclusão é simples. Nos próximos anos, a vida para os fornecedores de tecnologia e para os CIOs não será fácil. A transformação digital irá transformar a indústria de forma radical. O que fez sucesso até hoje, não será garantia de sucesso no futuro. A questão é: quem vai sobreviver?

[Crédito da Imagem: Tecnologia – ShutterStock]

Autor

Cezar Taurion é head de Digital Transformation da Kick Ventures e autor de nove livros sobre Transformação Digital, Inovação, Open Source, Cloud Computing e Big Data.

Cezar Taurion

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