Quase sempre, quando se fala em wearables, nosso cérebro nos remete ao mundo fitness. Ou seja, ao uso de dispositivos vestíveis para controlar gasto calórico e batimentos cardíacos, entre outros aspectos, durante o exercício físico. No entanto, esses equipamentos podem trazer inúmeros outros benefícios se forem aplicados no setor de saúde, como em campanhas de prevenção de doenças e conscientização ou no monitoramento remoto de pacientes.
Por conta da má alimentação, sedentarismo, estresse e outros males da vida urbana, o número de pacientes com doenças crônicas tem aumentado muito nos últimos anos, o que vem afetando, e muito, as operadoras. Muitas delas, inclusive, lançaram programas de prevenção e conscientização, com o objetivo de reduzir a criticidade dos pacientes que ingressam nos hospitais e, consequentemente, o custo do tratamento.
Nesses programas, os wearables e os aplicativos de celular funcionam como um incentivo, especialmente pelo elemento lúdico e competitivo que conferem à iniciativa. Tanto que, segundo a Tractica, até 2021, haverá mais de 97,6 milhões desses dispositivos, que coletarão dados dos usuários em tempo real e os enviarão a médicos, instituições e outras empresas. Tudo isso autorizado pelo paciente, é claro.
Os benefícios não se restringem apenas à prevenção de doenças. Com uma população cada vez mais idosa, os dispositivos podem monitorar queda, insônia e, até mesmo, o uso correto de medicação, enviando notificações na hora de tomá-la ou avisando aos médicos sobre possíveis alterações nos batimentos cardíacos, na pressão, e em outros aspectos relevantes. Esses dados alimentam o prontuário eletrônico do paciente, mas, além disso, em casos de urgência, a instituição pode enviar um profissional para verificar pessoalmente o que está acontecendo.
Além disso, o monitoramento remoto de pacientes crônicos é mais uma forma de reduzir os custos e aumentar a receita no setor de saúde. Operadoras e hospitais tornam-se mais eficientes, já que conseguirão diminuir o número de procedimentos repetidos e poderão oferecer um tratamento mais humanizado e focado na prevenção de doenças, ao mesmo tempo em que o paciente terá um acompanhamento em tempo real, mesmo estando em casa, e não precisará voltar ao hospital com frequência.
Para se ter uma ideia dos benefícios, um programa de monitoramento remoto realizado pelo Geisinger Health Plan, nos EUA, reduziu em 23% a incidência de internação hospitalar de pacientes com doenças crônicas e em 44% a chance de internação recorrente. Além disso, para cada dólar gasto na implementação do projeto, a instituição economizou cerca de US$ 3,30. Um ótimo retorno sobre o investimento!
No Brasil, esse movimento ainda é pequeno, mas deve crescer fortemente este ano, principalmente no setor privado, encabeçado pelas operadoras de saúde que buscam aumentar a lucratividade. Já existe também uma movimentação no setor público visando a eficiência e a redução de custos no atendimento primário – feito pela prefeitura por meio de postos de saúde, clínicas de saúde da família e UBS. Atualmente, a prefeitura do Rio de Janeiro está fazendo um estudo de admissão hospitalar por meio de uma mochila com dispositivos que medem sinais vitais.
Mas é importante lembrar que, para obter resultados efetivos, é imprescindível que hospitais e operadoras invistam em infraestrutura de tecnologia e de conectividade. Assim, tornam-se capazes de compartilhar os dados em tempo real, garantir a segurança das informações e para analisar os dados coletados pelos wearables. É necessário também investir na integração desses dados com o prontuário eletrônico do paciente e com os sistemas do governo, do hospital ou do plano de saúde. Só assim, será possível realizar ações de combate ou prevenção a uma determinada doença.
Embora pareça um investimento alto, os benefícios trazidos pelo monitoramento remoto de pacientes às operadoras, instituições, pessoas e, até mesmo, ao governo, garantem o retorno do que foi investido. Mais do que isto, garante um ecossistema de saúde inteligente e benéfico para todos os elos da cadeia.
Por Carlos Reis, consultor do segmento de Saúde da Logicalis