Um conto sobre os desafios da Internet das Coisas
Uma felicidade só na família. Havíamos mudado uma semana antes para o apartamento de nossos sonhos. “Condomínio eco-eficiente – Alta tecnologia com sensores em rede que tornam sua vida mais verde. IoT ao seu alcance !”, dizia o anúncio que nos capturou, entusiastas de tecnologia em geral e da “Internet of Things”, internet das coisas mesmo, em bom português. “Sensores espalhados em cada tomada, em cada torneira, válvulas com seu próprio medidor de consumo minimizando desperdício. Acesso à dependências e elevadores com a leitura da digital dos moradores. Eletrodomésticos conectados fazem parte do pacote, oferecendo geladeiras que podem se abastecer automaticamente nos supermercados para compras conscientes. Incluíram até os novos dispositivos da Amazon para compras de produtos de limpeza realizadas num piscar de olhos!”, complementava. O futuro estava aqui, e, nós, dentro dele.
Após a mobília da mudança ficar minimamente organizada, comecei a entender o novo universo de gadgets espalhados pela casa. Peguei meu tablet, abri minha aplicação de dashboard e comecei a olhar meus dispositivos IoT. Foi aí que meus problemas começaram.
O regulador de temperatura, usado tanto no chuveiro quanto no ar condicionado, me pedia para especificar 3 níveis de temperatura de uso: frio, normal e quente. Coloquei o frio em 20C, normal em 25C e o quente em 30C, temperaturas agradáveis para minha pessoa.
Os medidores de tensão estavam com um ponto de exclamação – atualização disponível ! Cliquei para atualizar, mas a opção estava desabilitada. Lendo o manual descobri que o meu modelo não suportava atualização de firmware.
Configurei os itens da minha geladeira usando o código de barras dos produtos para cadastrar a lista de compras no mercado quando acabasse. Achei esquisito que não podia trocar o supermercado onde comprar. Pesquisei e parecia que nem todos tinham a API necessária para integração. O software me perguntou se deveria utilizar a opção mais próxima caso o produto não fosse encontrado, e não vi mal nisso naquele momento.
Quando toda a família chegou em casa, gravei as digitais de todos para que o acesso à todas as dependências do edifício fosse habilitado, para que todos pudessem desfrutar das novas comodidades. Essas eram as últimas configurações que precisava fazer.
Um mês depois… minha mulher me deu um ultimato: ou mudamos de casa, ou ela queria o divórcio !
Quando ela chegava do trabalho, ou sentia frio demais no chuveiro, ou calor demais no ar condicionado. Uma noite, acordou assustada achando que havia uma assombração em casa, porque todas as luzes estavam piscando em ritmo de discoteca no meio da madrugada. Quando a geladeira pediu o refrigerante em falta no supermercado e não tinha a opção diet, fez o pedido da opção normal. Só que infelizmente minha esposa é diabética. Além disso, a caixa de e-mails da família estava lotada com mais de 413 emails de spam recebidos com propaganda de parceiros do supermercado, que nunca foram solicitados. De quebra, minha sogra veio nos visitar, e depois de tentar a digital por três vezes seguidas, bloqueou todos os acessos e ninguém mais conseguiu entrar no apartamento até fazer um reset no sistema de digitais.
Essa história demonstra alguns dos obstáculos que a IoT enfrenta nos dias de hoje:
Isso mostra que a IoT é uma nova onda de avanços tecnológicos que ainda está em seus estágios iniciais de desenvolvimento de mercado. Muitas tecnologias, hoje plenamente adotadas, passaram pelos mesmos problemas de fragmentação, padronização e integração citados anteriormente. Com sua popularização, veremos a solução de muitos destes problemas e o surgimento de novas oportunidades de negócio que podem derrubar conceitos pré-estabelecidos, unindo as tendências de distribuição de sensores através de dispositivos móveis (que já ocorre hoje) e abraçando a utilização de infraestruturas compartilhadas em nuvem para processamento de big data. Tudo vai depender de que problemas a IoT vai resolver e do valor que isso vai trazer a empresas e consumidores.
[Crédito da Imagem: Internet das Coisas – ShutterStock]
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