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As startups e a “revolução empreendedora”

publicado por Luiza Rezende

As startups e a "revolução empreendedora"Empreendedorismo ou, mais especificamente e mais recentemente, o “movimento startup pós anos 2005”, é também uma forma de adaptar a obrigação, imposta por leis trabalhistas e práticas comuns de mercado, de que todos (ou a maioria) devem trabalhar em um mesmo local físico, todos os dias, das 9 às 18h, com um cargo específico, remuneração fixa e “burocracias” internas padronizadas para cumprir. Explico:

Um dia, lá atrás, foi estabelecido por um grupo de legisladores, em um ou mais países pioneiros, que as pessoas deveriam ter uma carga horária de trabalho, um calendário anual de feriados (padronizado e fixo), entre muitas outras regras que regeriam o trabalho e, consequentemente, o dia-a-dia das pessoas. Isso iria facilitar e agilizar o sistema capitalista, trazendo mais produtividade e eficiência, iria resolver a necessidade de organização da crescente população de trabalhadores de fábrica que existia na época e seria, em si, a organização inicial de uma importante parte da vida das pessoas: o trabalho.

O tempo passou, entramos no século XX, a sociedade se transformou bastante e essas regras de trabalho bastante similares entre os países capitalistas se tornaram algo relativamente estável e aceito pela maioria da população: trabalhar em um mesmo local físico, cerca de 8 horas por dia, ter direitos trabalhistas garantidos, ter um salário garantido todo mês, trabalhar para um chefe/proprietário que provavelmente não tem nenhuma ligação pessoal com você, entre outras características. Essas são as regras que recaem sobre a vida de grande parte da “classe baixa”, da “classe média” e de alguma parte da “classe alta” desde bastante tempo (perdoem-me por usar essa classificação, mas não achei outra que fosse igualmente sintética e fácil de entender). Vem sendo assim e não havia muitos motivos (ou possibilidades) de questionamento, dado que a suspensão da regulamentação e das práticas do mercado de trabalho poderia causar sérias desorganizações a nível global (na economia, nas finanças globais etc) e individual, em que milhões de pessoas não saberiam organizar suas vidas e ter sustento garantido de outra forma.

Até que veio a internet, os engenheiros se empenharam ainda mais e essa internet foi crescendo, e cada vez mais rápido, e a informação começou a circular com uma velocidade nunca vista antes. Milhões te Terabites (e outras unidades maiores ainda que eu talvez nunca tenha ouvido o nome) hoje circulam por segundo e as pessoas se comunicam, transmitem informações e têm sua vida diariamente facilitada por novas tecnologias, softwares e engenhocas inventadas por preciosos criativos, engenheiros e empreendedores.

A internet trouxe a meu ver uma possibilidade muito importante também: a de transmitir informações de qualquer lugar do mundo para qualquer lugar do mundo, desde que ambas as áreas estejam cobertas por uma rede wi-fi ou 3G (dados móveis em geral). A conseqencia disso era que também seria possível trabalhar de qualquer lugar do mundo, estando conectado a alguma dessas redes de transmissão de bits.

A internet não é a causa ou o fundamento do empreendedorismo, este é bem mais antigo que aquela e é também inerente ao ser humano. Pode-se dizer que o homem das cavernas era muitíssimo empreendedor, pois naquele tempo não havia nenhuma engenhoca e tudo o que ele criava era novo, autêntico, facilitador da vida. A internet, no entanto, potencializa, espalha, globaliza, democratiza e difunde a informação e, consequentemente, o empreendedorismo e novas formas de as pessoas se organizarem e criarem novos produtos e serviços.

A febre dos aplicativos que vêm trazer praticidades de todo tipo à vida das pessoas (comunicação, mobilidade, entretenimento, compartilhamento, conteúdo), itens de robótica, automação, diagnósticos médicos facilitados, maior mobilidade, armazenamento à distância e milhares de outros exemplos são frutos da tecnologia e do trabalho de milhares de pessoas para deixar nossa vida melhor. Além disso, a internet ajuda a trazer um questionamento que talvez estivesse sempre latente no íntimo de todo ser humano, de todo aquele que ia todos os dias de manhã para seu trabalho: será que eu preciso me sujeitar a toda essa carga horária para fazer algo que eu não acredito, para cumprir tarefas que eu não participei da criação, para não poder trabalhar da forma que eu acredito? Vamos lá, agora a ponte:

A internet e o empreendedorismo não resolvem o problema da insatisfação humana com seu trabalho e com os problemas existenciais (quem sou eu, como posso melhor viver minha vida, o que vim fazer aqui etc), mas eles trazem algumas esperanças: “talvez eu possa abrir meu próprio negócio sem precisar de tanto dinheiro”, “talvez eu possa conseguir um investidor entrando em networks específicas na internet”, “talvez eu possa encontrar na internet outras pessoas que estejam também trabalhando com isso que acredito”, “talvez eu possa começar atingindo meus clientes via internet”, “talvez eu possa começar com um blog para expor o conteúdo associado à minha empresa e explicá-la”, “talvez eu encontre pessoas querendo me apoiar via internet”. E muitos e muitos “talvez” que sem a internet e a “vida digital” seriam impossíveis.

E além desses questionamentos mais básicos de empreendedorismo, vêm outros questionamentos/esperanças que servem para todos, muito relacionados à forma de trabalhar: “talvez eu não precise ser um assalariado, acho que posso abrir meu próprio negócio”, “com meu próprio negócio talvez eu possa trabalhar de casa, ou ter um horário mais flexível para ficar com a família”, “talvez eu possa falar com meu chefe para trabalhar alguns dias de casa, usando a internet”, “eu sou mais produtivo de madrugada, agora que tenho minha própria empresa posso dormir até tarde e trabalhar de madrugada”, “não tem sentido ter tantas tarefas burocráticas que estão associadas à manutenção de uma empresa grande; prefiro abrir a minha empresa e trabalhar com o que acredito”, “por que tenho que trabalhar 8 horas todos os dias e não posso trabalhar mais horas em alguns dias da semana e em outros ter folgas?”, “eu trabalho bem mais que o meu colega com o mesmo cargo, por que nós dois ganhamos a mesma coisa? Prefiro ter meu negócio e ser recompensado por aquilo que eu conquistar”.

São questionamentos, repito, que não são gerados pela existência da internet e do empreendedorismo digital, mas potencializados por eles. Enquanto não é possível uma revolução absoluta na forma de trabalhar e na forma como as pessoas lidam com seus sonhos, suas vontades e a forma que gostariam de organizar sua vida, vamos caminhando assim. As startups e empresas de tecnologia em geral, além das pessoas que organizam suas carreiras e exercem seu trabalho se utilizando da internet, conseguem lidar com muitas dessas esperanças que citei acima e fazê-las realidades: estruturas mais enxutas, menos burocracias, trabalho remoto, remuneração por metas, carga horária flexível, possibilidade de trabalhar de casa, inovação constante, mais poder para um “funcionário” sugerir e criar dentro da empresa, menos tempo gasto com deslocamento, uso de aplicativos e softwares para facilitar a vida e alcançar mais clientes e pessoas que acreditem no seu trabalho etc.

Esse tema é longo. Vou parar por aqui porque sei também que, na internet, as pessoas fazem muitas coisas ao mesmo tempo, e talvez não queiram ficar tanto tempo lendo esse texto. Finalizo dizendo que estou muito contente de observar e participar dessa “revolução empreendedora”. E ela está só começando…

Artigo postado originalmente em www.startupblogbrazil.com

[Crédito da Imagem: Revolução Empreendedora – ShutterStock]

Autor

Formada pela Universidade de São Paulo, é sócia da SRC Advogados, escritório de advocacia brasileiro especializado em Startups, Empresas de Tecnologia e Direito Empresarial. Fluente em seis línguas, adora viajar e escreve periodicamente em seu blog Startup Blog Brazil. Como Business Advisor ela auxilia empresários a serem mais eficientes e como Startup Expert ajuda empreendedores a elaborarem e implementarem sua estratégia. Contato: luiza@startupblogbrazil.com.

Luiza Rezende

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